Solidariedade

Longe vão os tempos em que a Académica – a dos “subsidiados”, “semiprofissionais” “estudantes trabalhadores” ou lá o que lhe queiram chamar - era um verdadeiro alfobre de atletas e exemplo de solidariedade.

Os anos passaram, o “profissionalismo” infiltrou-se, e muitos valores se perderam; todos, contudo, são recuperáveis.

No pós 25 de Abril, veio a Coimbra um atleta de alto gabarito, que abandonara a Académica, a cidade e o país com outros companheiros – Araújo, França, Chipenda – para se juntarem aos grupos independentistas de Angola e Moçambique.

Chamava-se José Júlio. Tivesse a velocidade de Bentes, e teria ficado no coração dos adeptos como um “herói”; assim, ficou apenas na “memória” de alguns como um jogador que poderia ter dado muito à Briosa.

Não vou discutir políticas nem razões: José Luís – Zé Luís para mim e outros – foi meu amigo desde a chegada até à “fuga”, altura em que lhe perdi o rasto; ia sabendo, contudo e a espaços, que se licenciara em medicina na Rússia – ou em algum dos seus países satélites – e, apesar de “branquelas”, era personagem de topo  da Frelimo.

Nesta sua vinda à Coimbra, um pequeno grupo de amigos, “chefiado”, se a memória me não falha pelo saudoso Vítor Campos, ofereceu-lhe um almoço no restaurante do “Rochita” no Monte Formoso.

Fiquei em frente dele; a seu lado sentou-se o presidente da Associação de Estudantes de Moçambique – pode não ser este o nome correcto – que, notei-o, se sentia muito feliz pelo facto.

As conversas iam correndo, bailando entre uns e outros, recordavam-se pilhérias, coisas boas e menos boas, algumas muito sérias.

Zé Luís foi aproveitado o repasto para ir conversando com o seu patrício, “doutrinando-o” e. ficou-me para sempre gravado - repetia amiúde as palavras “solidariedade” e “solidário”.

Ser-se solidário era uma das palavras-chaves da Académica, uma palavra emanante – e imanante… – do vocabulário, que reapareceu na “oferta” das instalações da Briosa para acolher infectados pelo coronavírus.

Está de parabéns a direcção do senhor engenheiro Pedro Roxo. Está de parabéns, sobretudo, a ACADÉMICA.