Editorial 22-02-2020

Vida e materialidades: um nó na garganta

 

Um ciclo, um destino, um fado, um caminho ou uma estrada, assim se metaforiza a vida. Em modo solitário ou de mãos dadas, nem sempre se percorre a mesma distância e nem sempre existem certezas. Diria que as incertezas, os desvios da vida e as surpresas nos condicionam a chegada. A criação, a concepção é fácil, rápida e óbvia ! Anos depois, à primeira chegada, a construção inicia-se lentamente para mais tarde se acelerar.

Nas linhas do tempo o relógio não escapa às virtudes dos momentos, quer sejam eles inóspitos ou bem agradáveis. As gentes constroem-se embebidas em vozes roucas e malfadadas. Outras escapam aos ódios e aos rancores por escudos protegidas. Assim se evolui ou não em bandos que condicionam as mentes e tranformam os sentimentos em rosas, em ouros, pratas ou outras lembranças tendenciosamente kitch.

Subitamente as membranas singulares materialisam-se e revelam o seu preço. A transacção é inevitável.

As festas celebram os eventos outrotra saudavelmente imaterializáveis e a decadência humana é evidentemente fragilizada pelas materialidades: o Natal perdeu o seu espírito, o Carnaval a alegria, a Páscoa a redenção renovadora e os Santos Populares dão lugar aos mais variados jogos de sedução.

Haverá limites às materialidades ? Honestamente, creio na desmaterialização do ser humano e em tudo o que o rodeia, creio na vida sensitiva. Uma visão utópica e idealista ? Talvez, mas prefiro nadar na utopia e no idealismo do que me transformar em cyborg do século XXI.

 

                                                                                                                                                                                                                  Sofia Geirinhas, a poetisa de pé-descalço

(A autora não respeita o AO90)

 Arte - Salvador Dali  (A Persistência da Memória)