Editorial 24-10-2020

A doença

Da ‘Marcolina’, uma jeitosa até então, espalhou-se o boato de que tem ‘certa’ doença e “não há quem lhe pegue”. A ‘Plácida’, já um tanto ou quanto anafada, casou com o ‘Sr. Arraiolos’ – dono de uma casa de penhores e aspirante a presidente da junta – mas, secretamente, ela suspira é pelo ‘Chico’, galã de costa ao alto, parasita. Quanto à ‘Rosa’, abandonada pelos pais à nascença e posta a atacar pelo ‘Chico’, tudo o que deseja é ‘deixar a vida’ e ser uma mulher ‘honesta’, mas não vai ser fácil, porque o homem que a explora vai culpá-la por um crime que ele próprio cometeu...

Foi assim o enredo de ‘Rosa Enjeitada’ um espectáculo que, recordo vagamente, se desenrolou no teatro da Malaposta, no Olival Basto, concelho de Odivelas, já lá vão uns anitos bons.

Encontrei este pedaço de texto não sei como no meio dos meus papéis, e ri, porque a peça teatral era uma comédia de crítica à sociedade lisboeta e de ouros lugares citadinos, a exploração das mulheres pelo chulo, e pensei nos dias de hoje, na Lisboa que nada produz e vive dos “escravos” que labutam para que nada lhes falte; de um governo desgovernado, isso mesmo, governo desgovernado, sem rumo, chefiado por um Costa que foi segundo de Sócrates, que, como ele, veste caríssimo, por vezes sem gosto, um indivíduo que deve ter nascido com o cu virado para a lua, espertalhote e ditatorial, a quem a sorte, e o azar dos outros. se espelha no permanente sorriso gozador com que encara as câmaras televisivas e a imprensa escrita.

Penso na “doença” que, ao contrário das previsões, põe cada vez mais gente na miséria, e nas promessas que os ministros, mais medíocres que o chefe, fazem a torto e a direito a contar com os biliões de euros que a europa promete.

Penso na Catarina a perder pombinhas, a oferecer os seus préstimos sem que alguém lhe pegue; no Jerónimo que anda por aí a falar baixinho, a repetir a cassete da defesa dos trabalhadores, a ver no que as coisas dão; no indivíduo do PAN dos cãezinhos e outros bichos, embora a sigla pareça indicar outra coisa, a gritar alto que não há lobos, que ajuda Costa a pô-los em sentido; no Ventura que põe as mãos nas chagas de um país podre, e, fizesse-o de outra maneira, mais clientes atrairia.

Penso no Chiquinho, que ninguém leva a sério; e no Rio de remansoso leito à espera do trambolhão de Costa, que só Marcelo tem evitado.

A pandemia continua a fortalecer-se. Não, não me refiro à da (do?) Covid, mas sim à ditadura que Costa, “meigamente” está a implantar. 

E Coimbra? Coimbra com Machado não existe nem existirá. Valha-lhe a Universidade, cada vez mais forte e produtiva, admirada no mundo inteiro.

 

ZEQUE

 

 

Eça...como eu gosto!!!
«Sim, talvez um dia, com rasteiras intrigas e sabujices a um chefe e à senhora do chefe, e promessas e risos através de redacções, e algum discurso esbraseadamente berrado - lograsse ser ministro. E então? Seria ainda a tipóia pela Calçada de S. Bento, com o correio atrás na pileca branca, e a farda mal feita, nas tardes de assinatura, e os recurvados sorrisos de amanuenses pelos escuros corredores da Secretaria, e a lama escorrendo sobre ele de cada gazeta da oposição... Ah! que peca, desinteressante vida, em comparação de outras cheias e soberbas vidas, que tão magnificamente palpitavam sob o tremeluzir dessas mesmas estrelas! Enquanto ele se encolhia no seu paletó, deputado por Vila Clara, e no triunfo dessa miséria - Pensadores completavam a explicação do Universo; Artistas realizavam obras de beleza eterna; Reformadores aperfeiçoavam a harmonia social; Santos melhoravam santamente as almas; Fisiologistas diminuíam o velho sofrer humano; Inventores alargavam a riqueza das raças; Aventureiros magníficos arrancavam mundos de sua esterilidade e mudez... Ah! esses eram os verdadeiramente homens, os que viviam deliciosas plenitudes de vida, modelando com as suas mãos incansadas formas sempre mais belas ou mais justas da humanidade. Quem fora como eles, que são os sobre-humanos! E tal acção tão suprema requeria o Génio, o dom que, como a antiga chama, desce de Deus sobre um eleito? Não! Apenas o claro entendimento das realidades humanas e depois o forte querer.»
(A Ilustre Casa de Ramires, p. 442, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1999, ed. de Elena Losada Soler)