Editorial 20/06/2025

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SABE O QUE SÃO “PASSARINHEIROS”?

Nos idos anos oitenta do século passado (falo do século vinte) eu, jovem que adorava uma boa polémica, pertencia a um grupo adjetivado, com todo o desdém de “passarinheiros”. ‘Passarinheiros’ eram todos quantos defendiam a ecologia num tempo onde a meta era produzir mais e a todo o custo.

Os donos das empresas, sobretudo fábricas, e os partidos de um lado ao outro do espectro político sorriam contra as nossas contestações ao desmantelamento da natureza e pelos alertas aos crimes contra a ecologia, com absoluto desdém. Éramos os tais “passarinheiros”! Eramos, para eles, “os putos contra o desenvolvimento”. Os tais passarinheiros.

Apesar de jovens idealistas (as duas características devem andar sempre juntas) tínhamos absoluta consciência de sermos um grupo sem força para mudar. O conhecimento que possuíamos e a paixão era contrabalançado pela falta de número de aderentes à causa, falta de apoio partidário e muito menos pelo apoio monetário. Apesar da batalha perdida logo à partida - acreditávamos na nossa causa.

Na altura não havia internet e apenas uma ou outra rádio pirata nos dava voz. Sentíamos que éramos uma espécie de “piratas”. Não pelo lado sanguinário, e muito menos por práticas de latrocínio, mas numa perspetiva romântica dos piratas que nos davam quase todos os livros de Emílio Salgari. A coragem de enfrentar o poder, a luta pela justiça (às vezes acima da lei) e o facto claro de sermos o lado reivindicativo da sociedade - dava todo o crédito à nossa paixão.

Já o conhecimento sobre a natureza e a necessidade de a preservar vinha dos imensos livros que líamos. Sim, líamos muito. Não com o auxílio do “dr. Google”, mas da biblioteca. Tínhamos que procurar nos ficheiros de gavetas de metal por autores ou por nomes dos livros. Ou, como fazia tantas vezes, passeava os dedos pelos muitos temas até descobrir o que interessava. Quando encontrávamos algo que entendiamos importante partilhávamos uns com os outros.

Hoje há mais ferramentas. Hoje há condições, económicas e de informação, para os que defendem a Natureza. Mas o número de “passarinheiros” reduziu. Quase ao nível da extinção. Os partidos apoiam, muitas das vezes apenas para a fotografia. Os fundos europeus aplaudem a defesa da natureza, que já foi trocando ‘ecologia’ por ‘sustentabilidade’. As vozes de quem defende as relações entre os seres vivos e o ambiente onde vivem, incluindo as interações entre eles e com fatores abióticos como solo, água e clima foi ampliada.

Os defensores da natureza já não levam com o rótulo de “passarinheiros”. O rótulo de desdém perdeu a leitura. Todos falam com muito respeito dos defensores do meio ambiente natural e, no entanto, continuam os crimes contra a natureza. A crítica aos ambientalistas passou de usar o ‘desdém’ para o processo sofisticado de usar a absoluta ‘hipocrisia’.

Mesmo num município como Coimbra, que com a sua Universidade e vetustos créditos académicos, aparenta ostensivamente a sua ignorância sobre as consequências da falta de respeito com a natureza.

Perderam-se os conhecimentos que têm as bibliotecas; ensina-se pela cassete; formulam, continuamente, discursos vazios de ações, focando apenas na venda de títulos honoríficos de “Doutor Honoris Causa”. O que se passa no ambiente em volta da vetusta Universidade de Coimbra limita-se ao espaço onde se cobra aos turistas que vêm ver a Biblioteca Joanina e basta aos novos interesses.

Mas os passarinheiros ainda não morreram e conseguiram contaminar outros. Populaça, ou passarinheiros, somos cidadãos com consciência que a defesa da justiça pode estar para além do reconhecimento pela sociedade ou até para além da lei.

É esse o espírito impresso no nosso jornal O Ponney que nos faz abrir com o artigo «ÁRVORES QUE MORREM DE PÉ EM COIMBRA». As grandes árvores que vão sendo criminosamente eliminadas. Abatidas. Desrespeitadas sob os argumentos mais toscos, mais cretinos e com a total hipocrisia de se estar a fazer um bem para a comunidade. A colocação da culpa no anterior executivo, que perdeu as eleições, o regozijo de matar menos árvores e outras palermices do género será que ainda convencem alguém?

Ou serão mais fortes outros argumentos que não podem ver a luz do dia? O que sabemos é que não se fala, sequer, do transplante de árvores e, a CMC, continua a fazer asneiras e a contar rebentos como árvores plantadas.

O artigo «EMPRESAS À ESPERA DE MILAGRE EM COIMBRA» revela que há contradição entre o discurso oficial do executivo municipal que bate de frente com o que se verifica e as críticas dos empresários.

Como O Ponney não é de modas, trazemos um assunto com a pergunta: «A QUESTÃO DOS TROLEIS DE COIMBRA PASSARAM DE MODA?» Terão passado de moda ou não é conveniente voltar a ser discutida em público. Será que colocaram, também, a Res Publica na gaveta?

Valha-nos a União Europeia numa certa defesa da justiça. É o melhor dos mundos perante uma insanidade do Mundo. Sim, é verdade! Mas a própria União Europeia rende-se a outros interesses que não a defesa da natureza. Sim, a UE também demonstra hipocrisia. «VENENOS AUTORIZADOS NA UNIÃO EUROPEIA» é um artigo importante, sobretudo para os que acreditam muito na UE.

Já o artigo «BAIXA QUALIDADE DE VIDA COM REFORMAS CADA VEZ MAIS AFASTADAS DA VIDA» demonstra que sem qualidade de vida individual como se pode esperar um maior conhecimento político e envolvimento na comunidade?

Nos artigos de opinião temos um “record” de artigos que nos enviaram. Agradecemos a todos quantos acreditam no O Ponney, mesmo não partilhando muitas das opiniões expressas O Ponney é um jornal republicano e por isso dá voz a todos quantos quiserem partilhar as suas ideias. Ou como escreveu a nossa amiga Maria Júlia: “Vamos aprender a perder” que até pode ser a arrogância de acharmos que estamos sempre certos.

Contamos com a sua colaboração para nos publicitar nas redes sociais.

Bom fim de semana.

José Augusto Gomes
Diretor do jornal O Ponney