CAMPINAS NOS SEUS 250 ANOS
A importância de se criar uma ponte transatlântica forte e real entre Portugal e o Brasil é fundamental para que se resolvam muitos problemas estruturais de todos os países de expressão portuguesa. Mas há sempre algum desconhecimento, das duas partes, que impede essa tão esperada “ponte transatlântica forte e real”.
O Ponney está a fazer o possível para, também, dar a conhecer alguns pontos importantes do que está a acontecer no Brasil, aproveitando a estadia em Terras de Vera Cruz. Pois começamos com a cidade de Campinas dado que está a celebrar os seus 250 anos de existência como cidade.
Campinas começou como ponto de paragem para o cultivo da cana-de-açucar e do cultivo do café impulsionado pela linha férrea. Depois veio a industrialização e mais próximo da nossa época veio o famoso, internacionalmente, do Aeroporto Internacional de Campinas de Viracopos; por um ecossistema universitário e de pesquisa que permitiu a formação de um polo de alta tecnologia fundamental para o Brasil.
Hoje, com o seu mais de um milhão de habitantes (para termos uma referência Lisboa tem uma população estimada de 548.703 habitantes); é a décima segunda cidade que mais contribui para o PIB do Brasil; é a 14ª maior cidade do país e única única classificada como Metrópole. 250 anos de desenvolvimento, mas também de resiliência, como a que demonstrou para superar a epidemia de frebre amarela nos idos anos do século XIX. Como a “fenix” da sua bandeira, a cidade ressurgiu das cinzas por meio da abnegação de muita gente que se voluntariou para enfrentar a doença. Hoje, é uma das cidades mais bem preparadas na saúde.
Mas uma confusão sobre qual seria a data exata de nascimento provocou intensos debates no século XX e fez com que a metrópole de Campinas comemorasse os 200 anos duas vezes. Foi necessário que em 1971, por projeto Lei, fosse consensual o dia 14 de Julho de 1774 como data oficial de aniversário de Campinas.
Oficialmente, Campinas, do Estado Brasileiro de São Paulo, completa 250 anos, mas será que é consenso que a metrópole do interior paulista "nasceu" mesmo no dia 14 de Julho de 1774? Esta é a dúvida que pressiste.
A realidade é que, ao longo dos anos, foram consideradas diferentes datas para representar "a fundação" de Campinas, com historiadores, jornalistas e memorialistas a debaterem qual seria a data de aniversário. Para alguns cenários, a metrópole já estaria com 295 anos - o que a tornaria muito mais velha.
João Paulo Berto, Doutor em História e responsável pela organização dos arquivos no Centro de Memória da Unicamp afirma que «O século XX foi permeado por uma série de debates que envolveram historiadores, memorialistas e pesquisadores de Campinas que vão colocar o seu ponto de vista a partir da leitura de algumas fontes que estavam dispersas tanto aqui na própria cidade de Campinas, quanto no Arquivo Público do Estado e até mesmo na torre do Tombo em Portugal».
A data oficial tem como referência a primeira missa realizada para a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas de Mato Grosso. No entanto, até a promulgação da lei, era comemorado como data oficial o dia 13 de Setembro de 1739, fazendo referência à chegada de Francisco Barreto Leme à região, após ter recebido o território como sesmaria.
Ou seja, este sistema de ‘sesmaria’ era um sistema de distribuição de terras praticado pela coroa portuguesa desde o século XIV e cujo o objetivo era direcionar o povoamento e estimular a produção agrícola.
Outra data possível foi considerada a 7 de Agosto de 1728, época na qual foi concedida a primeira sesmaria, ainda que ninguém se tivesse deslocado para o território. Seguindo a mesma ideia, a data de 15 de Novembro de 1732 foi o momento em que o Reino de Portugal confirmou essa concessão.
Para aumentar a confusão há ainda alguns investigadores que indicam, como marco inicial, a elevação da freguesia a "Vila de São Carlos", no dia 14 de Dezembro de 1797, quando o território de Campinas teria se desvinculado de Jundiaí (São Paulo).
O que em resumo daria pelo menos estas cinco datas:
7 de Agosto de 1728 o que dá a idade de Campinas de 295 anos - a data mais antiga;
Também há a data de 15 de Novembro do ano da graça de 1732 - colocando a segunda data mais antiga;
Há a terceira idade mais antiga de Campinas com a data do dia 13 de Setembro de 1739 - com a vinda do português fundador de Campinas, Francisco Barreto Leme;
Há a data oficial de 14 de Julho de 1774 onde se comemora a primeira missa realizada para a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas de Mato Grosso dando a idade de 250 anos oficial;
E, por último a data de 14 de Dezembro de 1797 - que dá a idade de 226 anos que é comemorada a elevação da freguesia a "Vila de São Carlos".
Entre 1960 e 1970 a discussão estava mais acesa, segundo o Historiador João Paulo Berto e onde as datas de 13 de Setembro de 1739 - com a vinda do português fundador de Campinas, Francisco Barreto Leme e a data de 14 de Julho de 1774 - primeira missa que comemora a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas- polarizou a discussão.
O historiador lembra, também, que, segundo um recenseamento de 1767, apenas a partir do ano de levantamento da população feito por Portugal, não havia registo da existência de nenhum núcleo urbano no território e este foi o argumento forte para os apoiantes da data de 14 de Julho de 1774 invalidarem outros argumentos para outras datas.
A polémica foi encerrada no ano de 1971, com a chancela de um projeto de Lei que definiu o 14 de Julho de 1774 (data da missa realizada para a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas de Mato Grosso) como ano definitivo e marco oficial da fundação de Campinas.
E assim ficou a data oficial. Mesmo depois desta data a verdade é que Campinas é reconhecida internacionalmente, nem que seja pelo seu Aeroporto Internacional de Viracopos. Tal como Portugal, o país e as cidades em particular, esquecem os nomes ilustres que deram luz ao mundo, como foi o caso do brilhante compositor de Campinas, o campineiro Carlos Gomes.
JAG