IA NAS ESCOLAS

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O mundo de hoje está mais acelerado, em grande parte movido pela tecnologia. Porém, se o mundo continua com os seus graves problemas por resolver como a fome, as desigualdades e as diferenças económicas e sociais, a verdade é que também estes problemas estão a ser resolvidos. Mesmo problemas que necessitam de uma nova abordagem como a sustentabilidade do planeta. Embora com um tempo de resposta mais lento, segundo as pessoas mais bem formadas, a realidade é que a tecnologia tornou o mundo ainda mais pequeno. Mas como é que a tecnologia de ponta vai ajudar a educação das novas gerações? Como é que uma melhor educação pode acelerar o tempo de resolução das grandes questões humanas mais prementes?

As respostas a estas questões poderão acelerar as respostas ao problemas mundiais e que já não são exclusivamente de cada país, mas de todos.

Na vanguarda dessa mudança estão os nativos digitais, chamados de a Geração Z, um grupo demográfico nascido entre 1997–2012 que forçaram educadores e formuladores de políticas a repensar os métodos educacionais tradicionais, adotando abordagens de pensamento avançado para o ensino e para a aprendizagem.

Perante a realidade das novas necessidades da geração que vive num ambiente altamente tecnológico exigem-se a promoção da alfabetização digital para nativos digitais. No entanto, a alfabetização digital vai muito para além das habilidades técnicas, obrigando a incluir pensamento crítico, criatividade e a capacidade de navegar e avaliar fontes digitais dado que de acordo com um relatório do British Council , 65% dos estudantes de hoje trabalharão em empregos que ainda não existem.

Por outro lado a tecnologia está longe de ser perfeita e ainda não consegue distinguir de forma confiável a verdade da ficção, um descuido gritante, especialmente quando se trata de educação. Necessitando muito do acompanhamento dos professores.

Críticos de projetos pilotos onde a Inteligência Artificial (IA) está a tentar substituir os professores dizem que é um passo longe demais.

"Embora a IA possa ser um suplemento valioso para os professores, ela não pode substituí-los inteiramente", disse a diretora de consultoria educacional Higher, Hadida Grabow . "Não estamos a ver nada, na tecnologia, que possa substituir um educador de qualidade."

"Infelizmente, a tecnologia ainda não está pronta — vimos isso com o fracasso de grande repercussão do chatbot de IA do Distrito Escolar Unificado de Los Angeles", acrescentou Higher, Hadida Grabow .

Como o Los Angels Times relatou recentemente, a AllHere, a criadora do chatbot que Grabow mencionou, notificou as escolas sobre um "colapso financeiro" (apesar de ter arrecadado milhões de dólares em financiamento público). Tendo como consequência a posição cética em relação ao processo de aprendizagem de IA que deseja criar uma experiência educacional holística e envolvente.

A dúvida persiste o que não pode impedir a utilização da tecnologia ao serviço da educação. Com o mercado de trabalho em constante transformação, a educação não poderia ficar de fora das novas dinâmicas colocadas pela tecnologia.

Na educação, a inteligência artificial (IA) tem sido usada para auxiliar na montagem de planos de aula, produção de materiais de estudo e em atividades lúdicas junto aos alunos.

Esse é o caso da professora de inglês Stelamaris Delavechia, 34 anos, que trabalha com IA na sala de aula no Brasil e está a fazer uma pós-graduação na área de tecnologias dedicadas à educação. Hoje, também faz cursos e workshops para capacitar outros professores, além de dar dicas nas redes sociais. Conta que foi sempre curiosa e, acompanhou muito a ascensão da tecnologia, interessou-se pelo assunto. Antes da pandemia de covid-19, a professora começou a dar aulas no laboratório de informática, fazendo quizzes, atividades e jogos por meio da aplicação, como o Duolingo. Porém, foi com a pandemia e as restrições do ensino a distância que ela resolveu investir ainda mais nas IAs como ferramentas de estudo. "Na pandemia, a gente teve de aprender tudo de uma hora para outra. Os pais, alunos e as escolas ficaram preocupados, como íamos fazer? Eu já trazia as IAs para a sala, mas com a necessidade das aulas EaD, eu comecei realmente a ir atrás disso, foi quando iniciei minha especialização nessa área", relata.

Numa das suas atividades, a professora Stelamaris usou a inteligência artificial para tornar o material, produzido em sala de aula, mais atrativo para os alunos.
A professora afirma que a atividade de maior sucesso entre os alunos foi um recreio- sala on-line — sala temática imersiva onde o jogador é o personagem e precisa decifrar enigmas e cumprir desafios para escapar — de revisão da matéria, por meio de um link nos telemóveis dos estudantes. Para ela, a abordagem lúdica é o que faz a diferença para despertar interesse na aprendizagem.

"Os alunos estudam algo que é prazeroso, que foge só da ideia do professor copiando no quadro. Eles acham que não estão tendo aula, mas não é isso. Estamos trazendo o jogo e as telas com um princípio educacional. Você observa os meninos apaixonados pelas aulas. É essa ludicidade que a gente precisa trazer para a sala de aula", defende.

A professora conta que já encontrou casos de cópia de textos gerados por inteligência artificial, mas percebeu a situação por uma série de padrões na construção das informações. Para ela, o problema não está no uso das IAs para escrever, mas na falta de revisão do material produzido. Por isso, defende um olhar crítico ao lidar com essas tecnologias.

"A gente observa que o vocabulário dos meninos é muito diferente do utilizado pela IA. Sou eu, o ser humano na frente da máquina, que vai decidir se aquilo é pertinente ou não. O nosso diferencial é conhecer o outro, o olho no olho. Essa inteligência emocional com a capacidade de avaliação crítica, a máquina não tem, porque é só um compilado de programações e dados", expõe.

A professora Stelamaris acredita que a função dos professores não será substituída pela inteligência artificial, que deve ser vista como um companheiro de trabalho, em vez de um inimigo. "Muita gente tem medo da IA, como eu vi amigos na época da pandemia, que se desesperaram achando que não conseguiriam dar aula em frente a uma tela de computador. A IA não vai substituir a gente, porque uma vez que a tecnologia se expande, ela nunca retrocede. Mas precisamos nos atualizar, pois esse é o futuro da educação."

Entre a dúvida e a necessidade exige-se precaução, mas também não se pode virar as costas ao desafio que deve encontrar respostas mais rápidas para os graves problemas mundiais.

JG