70 ANOS DA CHINA: RECORDAR OS FASCISMOS
A China comemorou, ontem(1/10), com exuberância e demonstração de força, os 70 anos da Revolução de Mao (Mau).
Os regimes ditatoriais teimam para demonstrarem força, até por uma questão de se afirmarem herculanos e de se manifestarem sem medos, trazer à rua todo o seu aparato bélico.
Ontem, o chefe todo poderoso de uma China fascista – o regime comunista é, e também, na sua essência a demonstração dessa ideologia, apesar de esquerdizante – passou revista, em cima de um carro, às tropas e ao material de guerra, em parada. Depois, em discurso perante milhares de militares e de concidadãos, exorbitou a opulência das forças armadas chinesas.
A Revolução de Mao foi o que, e alguns de nós, sabemos, por banda da hostória. O regime que esse ditador e facínora impôs, acabou por ditar a morte de mais de 70 milhões de chineses.
Mas Estaline, outro comunista confesso, outro fascista desse sinal, operou mais de 40 milhões de mortos, para expurgar a Nação.
Estes fascismos encapotados, porque se dizem de esquerda, não deixam de o ser na sua génese. Eles bebem o muco dessa ideologia.
É que fascismo é um sistema autoritário que se molda no poder ditatorial do regime, com forte repressão à oposição, exercendo a força, anexando gigantesca arregimentação da sociedade e da economia. Para isso, conta com as autoridades, com as Forças Armadas, com os serviços secretos e, ainda, com o poder judicial, que controla.
A China pode e deve assinalar a Revolução de um dos maiores ditadores mundiais e um dos mais confessos algozes do séc. XX, mas teria de exaltar, em pleno séc. XXI, as virtudes da democracia para que possa deixar viver em liberdade, em igualdade e em fraternidade o seu amargurado povo. E podia ter mostrado como, e em cerca de um quartel de século, o último, cresceu e se desenvolveu.
A China de hoje, e incompreensivelmente, radica o seu caminho, como sociedade, a duas velocidades: uma, continua a residir num dispositivo comunista apertado e sem margem para ouvir as vozes dos oprimidos, a da classe operária; outra, a de um capitalismo ocidental que oferece a certos senhores, aos grandes e poderosos – até o Comité Central do Partido Comunista Chinês aufere dessa realidade – a dinâmica para viverem no fausto. Tudo à custa do trabalho escravo do operariado que, e por uma malga de arroz, trabalha de sol a sol.
Interessante é perceber que Hong Kong, uma praça financeira, por onde passam biliões que são investidos na China, acaba por ser sustentáculo de uma Nação comunista que respira dois ares, rema a duas velocidades, progride com dois sistemas e se movimenta numa hipocrisia reinante dentro do próprio Comité Central.
Xi Jinping, o todo poderoso homem do regime, não se coibiu de, numa demonstração do que acabo de explicitar, afirmar que continuará a aplicar, e fielmente, como o disse, a equação “Um País, Dois Sistemas”.
Estes 70 anos da Revolução Chinesa, foram a trágica evocação dos fascismos que deixaram pesadas marcas, mágoas, angústias, lágrimas, mortos, arbitrariedades, convulsões, escravaturas, radicalizações e fracturas.
Há quem cante laudas à democracia, mas apenas pretende tirar partido das liberdades para, um dia, quando as estruturas e os homens desse viver em felicidade se descuidarem, nos atirarem com ferozes fascismos. De mansinho e com vozes cândidas, tentam seduzir alguns…e traindo outros.
Cartoon - Vasco Gargalo
António Barreiros
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