Bom dia Guiné-Bissau

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"- Tens medo de fazer amor comigo? - Tenho - respondeu ele. - Por eu ser preta? - Tu não és preta. - Aqui, sou. - Não, não é por seres preta que eu tenho medo. - Tens medo que eu esteja doente... - Sei prevenir-me.- É porquê, então? - Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti. Deolinda franziu o sobrolho. Empurrou o português de encontro à parede, colando-se a ele. Sidónio não mais regressaria desse abraço. - Que olhar é meu nos olhos teus? Nessa noite se solveram, mãos de oleiro, salvando o outro de ter peso. Nessa noite o corpo de um foi lençol do outro. E ambos foram pássaros porque o tempo deles foi antes de haver terra. E quando ela gritou de prazer o mundo ficou cego: um moinho de braços se desfez ao vento. E mais nenhum destino havia. - Amar - disse ele - é estar sempre chegando.

" [Mia Couto. Venenos de Deus, Remédios do Diabo]  

António Olayo