D. FEIA

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Associo-me a este dia (08/03), indo buscar a “D. Feia, velha e sandia” à prosa poética do poeta José Miguel Silva, que muitos reconhecerão como uma história real das nossas ruas, mil vezes repetida.

A D. Feia merece essa visibilidade e, para além disso, possui essa qualidade de muitas mulheres, num mundo que lhes é muitas vezes hostil, de dar a volta à adversidade.

“Na minha rua todos me conheciam como D. Feia e o meu caso é tão banal que para contá-lo uma prosa corrida e sem degraus é quanto basta.

Sabei então que fui professora de História, depois de ser filha de pai notário e mãe ausente (que só no fim da juventude descobri ter fugido para sul, tinha eu dois anos, na companhia dum caixeiro viajante).

Cresci numa casa baixa e sem quase janelas, até ao dia em que me formei, e quando já desanimava de me ver feliz e casada como as outras, reconheci no Vítor o meu príncipe e entreguei-me a ele com a violência dos desesperados.

A parte mais engraçada vem a seguir, quando uma semana antes da data marcada para o nosso casamento uma voz desconhecida me diz ao telefone: o sr. Vítor, sua puta, é já casado.

E assim a história dos meus pais repetiu-se comigo, embora não exatamente da mesma maneira. Chorei, ri desalmadamente, mas não, não enlouqueci.

Essa experiência utilizei-a muitas vezes nas minhas aulas, e sempre com sucesso, quando queria significar que os acontecimentos históricos tendem a reproduzir-se, mas trazendo de cada vez uma nota de imprevisível humor.

Sem o que a vida não seria mais do que rancor, fracasso e aborrecimento.” 

Pinto Dos Santos Toni