ECOLÓGICO, MAS NEM TANTO!

SANCHO36

 

Os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), que deveriam ser um exemplo de modernidade e eficiência no âmbito dos transportes públicos, continuam a operar com uma máquina administrativa anacrónica e extremamente burocrática.

Apesar de alguns avanços tecnológicos evidentes, como a implementação de autocarros elétricos e a presença de tablets instalados nos veículos, a empresa insiste em manter a maioria dos seus processos em papel, o que levanta uma série de questões sobre a coerência entre o discurso e as práticas reais da organização.

Um dos exemplos mais flagrantes dessa incongruência reside no trabalho diário dos motoristas dos autocarros. Mesmo com um equipamento moderno, como tabletes montados nos veículos e sistemas de gestão de tráfego e visitas de serviço nas como com localização GPS, grande parte das tarefas
administrativas continua a ser realizada de forma manual e em papel como apontar todos os horários de ideias e chegar quando o sistema já jaz isto
mesmo ainda se recupere ao papel isto dá umas cervejas de pastéis por dia,
milhares por mês e milhões por ano. Quando há necessidade de efetuar trocas de serviço, por exemplo, o procedimento ainda envolve o preenchimento de formulários, que, muitas vezes, são redundantes. Em vez de simplesmente usar o tablet para comunicar as alterações de serviço em tempo real, os motoristas são obrigados a lidar com uma carga administrativa desnecessária, entregando formulários impressos que acabam por ser arquivados em múltiplas cópias.

A situação não é diferente quando surgem avarias nos autocarros. Em vez de comunicar de imediato através do equipamento disponível ou de um sistema digital integrado, o motorista é obrigado a preencher formulários em triplicado, que precisam ser entregues em diferentes departamentos da empresa. Este
processo não só é moroso e ineficaz, como também representa um enorme desperdício de papel, um recurso valioso cuja produção implica o abate de milhares de árvores. Num momento em que a sustentabilidade e a preservação ambiental são bandeiras centrais de qualquer organização consciente, este tipo de prática parece completamente fora de lugar.

Além disso, a comunicação interna sobre questões administrativas, como pedidos de férias, anotações de trabalho extraordinário ou admissão de serviço em dias de tolerância de ponto, continua a ser feita à moda antiga, com os motoristas e outros funcionários a preencherem formulários físicos que são posteriormente analisados por um sistema de arquivo que parece ter parado no tempo. Em vez de se adotar uma solução digital que não só pouparia recursos como também agilizaria o processo, a empresa continua a alimentar uma máquina burocrática pesada, que é uma herança de um passado em que a tecnologia digital ainda não estava ao alcance de todos.

Esta realidade é ainda mais intrigante quando se considera o investimento que a empresa tem feito em veículos ecológicos, como autocarros elétricos. A aquisição desses autocarros é frequentemente usada como argumento para promover a imagem do SMTUC como uma entidade moderna, preocupada com a sustentabilidade ambiental.

No entanto, como pode uma empresa se dizer ecológica quando continua a gastar quantidades massivas de papel para manter em funcionamento sistemas que poderiam, e deveriam, ser automatizados?

A contradição é evidente: de um lado, a empresa afirma estar comprometida com a redução de emissões de carbono e a proteção do meio ambiente, enquanto, por outro, sustenta práticas administrativas que estão completamente desfasadas da realidade contemporânea e que têm um impacto ambiental negativo.

Os SMTUC são, atualmente, o único serviço de transportes públicos em Portugal que ainda opera com base em processos predominantemente manuais e em papel. Enquanto outras empresas de transporte, mesmo sem a implementação de autocarros elétricos, já adotaram plataformas digitais para gerir os seus procedimentos administrativos, o SMTUC permanece estagnado em métodos obsoletos. Estas plataformas digitais não só tornam as operações mais sustentáveis do ponto de vista ecológico, ao reduzirem drasticamente o consumo de papel, como também são muito mais eficientes.

Através da digitalização, outras empresas de transportes conseguem processar pedidos, gerir horários, comunicar avarias e organizar o trabalho extraordinário de forma rápida e sem a necessidade de arquivos físicos. Esta modernização permite uma maior agilidade e reduz erros humanos, beneficiando tanto os funcionários quanto os passageiros. Assim, a incoerência do SMTUC torna-se ainda mais evidente: enquanto se vangloriam de autocarros elétricos, continuam presos a um sistema arcaico que prejudica tanto o ambiente quanto a eficiência operacional.

A digitalização dos processos não é apenas uma questão de modernidade e eficiência. É também uma medida ecológica crucial. A produção de papel consome recursos naturais em grande escala, desde a utilização de água até ao corte de árvores. Além disso, o transporte e a gestão dos resíduos de papel geram emissões de carbono, contribuindo para o aquecimento global. Num cenário em que o SMTUC poderia estar na linha da frente da inovação e da sustentabilidade, adotando soluções digitais para substituir a papelada, a escolha por manter um sistema retrógrado levanta sérias dúvidas sobre a genuinidade do compromisso ecológico da empresa.

É também importante destacar que a transição para um sistema mais digital e menos dependente de papel não apenas traria benefícios ambientais, como também seria financeiramente vantajosa para a empresa. Embora o investimento inicial em sistemas digitais possa ser elevado, os ganhos a longo prazo são inegáveis. A eliminação de custos com papel, impressão e armazenamento físico de documentos, juntamente com a melhoria da eficiência operacional, tornaria a empresa mais competitiva e mais ágil. O próprio sistema, ao ser introduzido e devidamente implementado, acabaria por se pagar em pouco tempo, resultando em uma operação mais racional e menos dispendiosa.

A questão que se coloca, portanto, é: por que razão uma empresa que afirma estar comprometida com a inovação e a sustentabilidade continua a sustentar práticas que são claramente obsoletas e prejudiciais ao meio ambiente? A resposta a esta pergunta não é simples, mas o certo é que algo precisa de
mudar. Não basta investir em autocarros elétricos e fazer campanhas de marketing a favor da ecologia. Para ser verdadeiramente ecológico, é necessário adotar uma abordagem integrada, que vá além do discurso e se
reflita em todas as áreas de operação da empresa, incluindo a gestão administrativa e burocrática.

Por fim, não deixa de ser irónico que, numa época em que tanto se fala de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, uma empresa de transportes públicos, que tem uma grande responsabilidade no combate às alterações climáticas, continue a operar com métodos que são tudo menos sustentáveis.

Para ser ecológico, como bem se diz, não basta parecer. É preciso ser, e ser implica modernizar, automatizar e eliminar práticas desnecessárias e nocivas ao ambiente, como o uso excessivo de papel. Até que o SMTUC compreenda isto e tome medidas concretas nesse sentido, continuará a ser visto como uma entidade que prega uma coisa e faz outra, mantendo sistemas atrasados no tempo, mesmo quando as ferramentas para o progresso já estão ao seu alcance.

 

Sancho Antunes
Motorista