Falando de Música . . . ( Parte II )
A maior parte da música religiosa medieval nasceu nas igrejas e nos mosteiros, como já foi dito e neste contexto é curioso observar a influência do canto litúrgico na arquitetura. Observando as igrejas góticas, verificamos a sua tendência para a elevação ao céu, como que a tocá-lo e aqui percebe-se a sintonia entre o canto e a edificação estar mais perto de Deus. Assim, o canto em latim, reforçado pelo poder de ressonância das igrejas , constituiu uma das mais convincentes demonstrações da omnipotência de Deus durante a Idade Média. A par deste e também no mesmo período, predominou a música profana, mormente a partir do século XI com os trovadores franceses enaltecendo os feitos da nobreza e dos cavaleiros. Um pouco mais tarde surgem também os alemães. As semelhanças entre as melodias e os cantos religiosos eram similares, existindo até um intercâmbio entre os dois designado por " contrafactura ". Existia, portanto, a liberdade suficiente na melodia para louvar a Deus e para enaltecer terceiros, incluindo as suas amadas.
Nas cidades, a burguesia e os artesãos mais abastados, prosseguiram esta tradição em escolas de canto. Em França eram os " puis " e na Alemanha os " mestres-cantores ", sendo o mais conhecido, o sapateiro Hans Sachs ( 1494-1576 ) de Nuremberga. A partir do desenvolvimento da polifonia, impôs-se a escolha da sequência de sons simultâneos que produzia por sua vez um som que fosse interessante. Chega-se assim á harmonia. O som, composto pelo menos por três notas, vão designar-se por acordes. Quando soa bem, chama-se consonante, caso contrário, dissonante. Porém, uma sequência de sons consonantes poderá facilmente tornar-se monótona e aborrecida, mas os sons compostos dissonantes podem dar vivacidade a uma peça, desde que venha a terminar com um acorde harmónico.
A divisão das notas vem seguida e a mais frequente foi a divisão em duas ou três partes. A Idade Média adotou a divisão por três. Uma divisão em duas partes designava-se por " imperfecta ", a divisão em três " perfecta ". Denota-se aqui a intenção de transferir a trindade cristã para a estrutura da música, cuja simbologia numérica mais uma vez é influenciada por Pitágoras.
(Imagem retirada da net )
António Manuel Erse Marques