MUDANÇAS
Nasci quase no final da década de sessenta, uma época marcada por grandes transformações sociais e culturais.
Cresci e fui educada com a noção de que o papel da mulher estava intrinsecamente ligado ao cuidado dos outros. Muito se falou e escreveu sobre este tema, mas penso que nunca será demais refletir sobre tudo isto.
Fui educada para ser mãe, esposa e profissional, tudo ao mesmo tempo, colocando as necessidades dos outros à frente das minhas.
Com o passar dos anos, essa dedicação quase exclusiva aos filhos, família, ao marido e ao trabalho, fez-me esquecer de mim mesma.
A minha juventude passou como um relâmpago e, quando dei por mim, tinha 57 anos e um espelho que me devolvia uma imagem que não me agradava.
Foi um choque olhar para o meu próprio reflexo e ver um rosto ficar envelhecido e um corpo desgastado, marcados pelo tempo, pelo excesso de trabalho e pela falta de cuidados.
Percebi então que tinha chegado o momento de mudar.
Foram precisos cinquenta e sete anos para sentir que os alertas que me foram fazendo, afinal, não eram assim tão errados. Não podia continuar a negligenciar-me e ainda tinha algum tempo para me dedicar a mim também. Decidi que a idade da menopausa, tantas vezes vista como inimiga, não seria mais a principal vilã da minha história.
Na verdade, compreendi que a maior inimiga fui eu mesma, ao não dar prioridade ao meu bem-estar.
A minha caminhada para a transformação começou com pequenas, mas significativas mudanças. Decidi deixar de fumar, um vício que me acompanhava há quarenta e dois anos e que contribuía para o desgaste do meu corpo. Substituí o cigarro por caminhadas matinais, que rapidamente se tornaram um hábito indispensável. Mudei a minha alimentação.
Estas caminhadas foram também importantes para o bem-estar físico da minha querida mãe, que me acompanha para todo o lado. Aliás, decidi interromper a minha carreira profissional para cuidar exclusivamente dela. Uma decisão da qual nunca me arrependi. Inscrevi-me, há relativamente pouco tempo, num ginásio e comecei a frequentar aulas de grupo.
Perdi vinte e seis quilos.Descobri que havia mulheres mais velhas do que eu que já tinham feito essa mudança e que se encontravam em melhor forma física.
Esta nova rotina de exercício físico não foi fácil de implementar.
No início, a resistência dentro de casa foi notória. O facto de sair mais vezes, seja para caminhar, para ir ao ginásio ou até para tomar um café ou almoçar com uma amiga, gerou alguma resistência. Afinal, durante décadas, o meu tempo era quase exclusivamente dedicado aos outros.
Mas persisti.
Com o tempo, consegui que percebessem a importância desta mudança e aceitassem a minha necessidade de me cuidar um pouco. O auto-cuidado não é egoísmo.
É uma necessidade básica, uma forma de garantir que estamos saudáveis e dispostas a viver plenamente.
A redescoberta do meu valor e a decisão de investir em mim mesma trouxeram não só benefícios físicos, mas também emocionais.
Cada pequeno progresso, cada quilo perdido, cada aula de ginásio frequentada, tem sido uma vitória que celebro com orgulho.
Para além do exercício físico, percebi a importância de cuidar da minha saúde mental.
A pressão de anos de dedicação aos outros deixou marcas que necessitavam ser trabalhadas. Procurei apoio psicológico e comecei a meditar, encontrando novas formas de lidar com o "stress" e a ansiedade. Descobri que a paz interior é tão essencial quanto a saúde física.
Eu sou uma pessoa de paz e sempre pratiquei algum desporto e atividade física. Mas os últimos anos foi um descuido completo.
Hoje, com 57 anos, sinto-me mais viva e revigorada do que nunca. O meu corpo não voltou a ser o que era na juventude, mas está mais forte e saudável. O meu rosto, embora marcado pelo tempo, reflete agora uma mulher que se ama e se valoriza. Olho no espelho e, em vez de ver apenas rugas e cansaço, vejo a força de uma mulher que se reencontrou e que decidiu ser feliz.
Este texto é um apelo a todas as mulheres da minha faixa etária e a todas aquelas que, como eu, se esqueceram de si mesmas ao longo dos anos.
Não permitam que o tempo e o cuidado com os outros apaguem o vosso brilho.
Cada uma de nós merece ser feliz, merece cuidar de si e merece viver plenamente. O relógio não pára, mas ainda há muito tempo para nos redescobrirmos e nos valorizarmos. Não se deixem morrer enquanto ainda estão vivas. Encontrem a coragem de mudar e redescubram a vossa própria força e beleza.
Amem-se!
A minha história é apenas um exemplo de que é possível transformar a nossa vida a qualquer idade.
Que este texto inspire outras mulheres a darem o primeiro passo rumo à sua própria experiência de auto-cuidado e auto-valorização. Porque todas nós merecemos ser felizes.
Agradeço aos que, com carinho, me foram alertando para pensar também um bocadinho em mim. Também houve aqui a palavra de alguns homens que me alertaram para o caminho errado com que estava a conduzir a minha vida. Há homens que adoram ver as suas esposas felizes e que gostam que elas invistam tempo a pensar um pouco em si sem serem egoístas.
Até a minha mãe está feliz.
Diz-me muitas vezes:
- Minha filha o teu rosto está mais iluminado e voltaste a sorrir. Há muito que não via essa alegria.
Adora acompanhar-me nas minhas idas ao ginásio e nesta caminhada que me faz feliz e sentir-me mais completa e apaixonada pela vida.
Não esperem mais.
Invistam em vós mesmas.
A vida é preciosa e todas merecemos vivê-la ao máximo.
Manuela Jones