OS GREGOS COMO MILAGRE DA HUMANIDADE – UM ESTUDO SOBRE AMORALIDADE

Maria-Clara-Maia.jpg

Nós, pertença da civilização ocidental, olhamos para os Gregos como o milagre do pensamento moderno. Foram o primeiro povo e reflectir pelo simples prazer do raciocínio lógico. Outras culturas, até então, teorizaram com o intuito de aplicar conhecimento à prática, à vida de todos os dias. O raciocínio não era mais do que uma ferramenta de resolução de problemas práticos a até os Deuses explicavam a Natureza, logo deviam ser adorados para que aceitassem prover as necessidades humanas.

Para os Gregos, no entanto, a abordagem teórica surgiu como algo bem diferente. Sim, todo o conhecimento devia e podia ser aplicado, especialmente na ciência, mas o pensamento era, podia ser, um mero exercício em que teorias opostas eram discutidas e comparadas. A verbalização do abstracto acontecia como um prazer em si mesmo, ao contrário do que se passava no seio de outras civilizações. E, ao contrário dessas, a Mitologia não servia a moral, não era um código moral para induzir comportamentos adequados, mas sim um estudo completo sobre as fraquezas humanas e as suas virtudes. Todo o que o Homem era, em toda a sua profundidade, sentimentos e acções, pensamento, estava compreendido nas histórias da Mitologia.

As histórias da Mitologia não foram criadas para conduzir o Homem a uma compreensão moral de si mesmo, não mais do que o pensamento teórico tinha como propósito. O raciocínio perfeito, uma corrente perfeita de argumentos, como provaram os gregos, não abria caminho, necessariamente, a um pensamento moral, à bondade ou maldade, mas à Verdade. A Verdade era, para Os Gregos, nada mais do que coerência, algo bem mais importante do que a moral.

A Verdade aplicada ao estudo do comportamento, naquilo que o comportamento mostra como universal, naquilo que há em comum em todos os indivíduos da Raça Humana, não só em termos culturais, fez dos gregos um milagre universal, a estrutura da Humanidade.

Ousaria dizer que a Amoralidade é, talvez, o único fio conductor do pensamento humano, no que diz respeito à coerência, porque o pensamento não serve uma cultura, um Deus ou a prática da individualidade, mas a si mesmo e à Verdade.

É-me estranho afirmá-lo, pois considero-me uma pessoa moral. E, mesmo assim, penso que mesmo que fazendo parte de um sistema, devendo, por isso, seguir as regras desse sistema, tratando-se de um sistema social, cada indivíduo deve sempre questionar as regras desse mesmo sistema. Faço-o sempre. Vivo na convicção de que a civilização não é sustentada pelas regras invioláveis de um sistema social e moral, mas pela capacidade de desafia-las, quebrá-las, se o que está em questão é o próximo salto na evolução humana. Cada novo passo da ciência foi um acto de violação das regras anteriores, cada nova descoberta um acto de questionamento. É a libertação de todas as barreiras e, ainda assim, a permanência daquilo que é profundamente humano. Isso, é um milagre.

 Maria Clara Maia