Palavras.

jose-eliseu20.jpg.png

José Eliseu Óleo s/tela; 100 X 100 cm

"Silêncio" - Disponível

 

Palavras não fazem de mim sereno

Nem me aquecem neste inverno.

Só sinto ventos de tempestade

Em vez de neve, granizo.

As palavras fazem-me saudade

Daquelas que menos preciso…

Incendeiam sem me aquecer,

As palavras queimam-me o peito.

Palavras estúpidas, sem jeito

Que têm por condão empobrecer

Todo um povo que sem palavras

Tudo vê acontecer

E dorme sereno no leito!

Ah, se ao menos fossem claras!

Tão claras como a intenção

Desmedida de roubo e traição

Numa terra onde a justiça se vende.

Se ao menos o povo acordasse

Se de novo se revoltasse

Pelo desejo de justiça que pretende,

Se as palavras ouvidas

Fossem as da razão

De vermos enfim detidas

As que roubam a Nação,                                                                                                                   

talvez voltasse a acreditar

Nas palavras que cá dentro sinto

Estarem-me a enganar

Tanto quanto minto!

Palavras.

Palavras falsas, mentirosas, sem esperança

Valha-nos cavaleiro que em sua lança

Nos devolva a liberdade.

Não encontro palavras de saudade

De um tempo que se sonhou,

Só aquelas que nos enganou.

Somos escravos da palavra

E se ela nos foi dada

Que a devolvam em verdade.

Não me importa não ter nada

Veja eu condenado

Todo aquele desgraçado

Que vendeu a liberdade!

Mas eu gosto de palavras.

Daquelas em que acredito

Que todo um povo acreditou,

Palavras de esperança

Que devolvam a bonança

A um povo aflito.

Palavras que mintam na dor

Com mentira imprimam amor

 Que animem a nação.

Palavras uma vez ouvidas

Não importe serem mentiras

Tal qual se mente por paixão…

Jamais palavras de comando

A não ser quando

Forem palavras de revolução!

Não quero ver perder o norte

A este país que me viu nascer

Onde vivo e morro de saudade.

Quero ver de novo acontecer

Antes que ódio gere morte,

Palavras de liberdade!

Palavras,

Palavras de dor e sangue

De ódio e revolta

Roucas de vingança.

Palavras onde se expande

Toda a raiva que anda à solta

Na rua, sem esperança.

Palavras que num grito alcança

Todo um país por inteiro

De povo dócil e ordeiro

De coração sangrando de dor,

Coração onde amor

Foi tomado pela raiva

Culpa de palavras por cumprir.

Palavras ditas por quem saiba

Quem as dera ouvir!

Palavras levam-nas o vento

Nas asas da saudade

Que sinto e lamento…

Quero acordar um dia

Ver o povo em alegria

Gritar palavras de liberdade

Da qual estou sedento.

Palavras escritas, inúteis

Estas desinteressantes, fúteis

Que ao papel condeno…

Somente palavras de sobra

Como serpente ou cobra

Carregadas de veneno.

Vindas de mim, quem diria?

Palavras de um povo sereno

Até um dia…

Palavras,

Palavras que me vergam

Vergado pela cobardia

Perante os que nos governam

Num desgoverno constante.

Anseio o certo instante

De não haver medo de morrer

Perante a pena de viver,

Anseio por palavras de vontade,

Palavras que inflamem

Que nos acorde e chamem,

Palavras de sonho e verdade…

Trocava todas as palavras

Por esse sonho pueril

Das simples às mais caras

Pelas mentiras de Abril !!!

                                                                                                                                                                                                                                                      José Eliseu