Palavras.
José Eliseu Óleo s/tela; 100 X 100 cm
"Silêncio" - Disponível
Palavras não fazem de mim sereno
Nem me aquecem neste inverno.
Só sinto ventos de tempestade
Em vez de neve, granizo.
As palavras fazem-me saudade
Daquelas que menos preciso…
Incendeiam sem me aquecer,
As palavras queimam-me o peito.
Palavras estúpidas, sem jeito
Que têm por condão empobrecer
Todo um povo que sem palavras
Tudo vê acontecer
E dorme sereno no leito!
Ah, se ao menos fossem claras!
Tão claras como a intenção
Desmedida de roubo e traição
Numa terra onde a justiça se vende.
Se ao menos o povo acordasse
Se de novo se revoltasse
Pelo desejo de justiça que pretende,
Se as palavras ouvidas
Fossem as da razão
De vermos enfim detidas
As que roubam a Nação,
talvez voltasse a acreditar
Nas palavras que cá dentro sinto
Estarem-me a enganar
Tanto quanto minto!
Palavras.
Palavras falsas, mentirosas, sem esperança
Valha-nos cavaleiro que em sua lança
Nos devolva a liberdade.
Não encontro palavras de saudade
De um tempo que se sonhou,
Só aquelas que nos enganou.
Somos escravos da palavra
E se ela nos foi dada
Que a devolvam em verdade.
Não me importa não ter nada
Veja eu condenado
Todo aquele desgraçado
Que vendeu a liberdade!
Mas eu gosto de palavras.
Daquelas em que acredito
Que todo um povo acreditou,
Palavras de esperança
Que devolvam a bonança
A um povo aflito.
Palavras que mintam na dor
Com mentira imprimam amor
Que animem a nação.
Palavras uma vez ouvidas
Não importe serem mentiras
Tal qual se mente por paixão…
Jamais palavras de comando
A não ser quando
Forem palavras de revolução!
Não quero ver perder o norte
A este país que me viu nascer
Onde vivo e morro de saudade.
Quero ver de novo acontecer
Antes que ódio gere morte,
Palavras de liberdade!
Palavras,
Palavras de dor e sangue
De ódio e revolta
Roucas de vingança.
Palavras onde se expande
Toda a raiva que anda à solta
Na rua, sem esperança.
Palavras que num grito alcança
Todo um país por inteiro
De povo dócil e ordeiro
De coração sangrando de dor,
Coração onde amor
Foi tomado pela raiva
Culpa de palavras por cumprir.
Palavras ditas por quem saiba
Quem as dera ouvir!
Palavras levam-nas o vento
Nas asas da saudade
Que sinto e lamento…
Quero acordar um dia
Ver o povo em alegria
Gritar palavras de liberdade
Da qual estou sedento.
Palavras escritas, inúteis
Estas desinteressantes, fúteis
Que ao papel condeno…
Somente palavras de sobra
Como serpente ou cobra
Carregadas de veneno.
Vindas de mim, quem diria?
Palavras de um povo sereno
Até um dia…
Palavras,
Palavras que me vergam
Vergado pela cobardia
Perante os que nos governam
Num desgoverno constante.
Anseio o certo instante
De não haver medo de morrer
Perante a pena de viver,
Anseio por palavras de vontade,
Palavras que inflamem
Que nos acorde e chamem,
Palavras de sonho e verdade…
Trocava todas as palavras
Por esse sonho pueril
Das simples às mais caras
Pelas mentiras de Abril !!!
José Eliseu