PORQUE O POVO NÃO ACORDA? - PARTE II

JOSE LIGEIRO17

 

Onde estão todos os nacionais honestos e inteligentes, prontos para intervir e salvar a nação, liderando o caminho que ainda não tivemos?

Pessoas assim neste país estão nos shopping ou em praias de todo o mundo a coçar o rabo, a mexer no nariz, a tirar o cartão de crédito da carteira e a comprar um par de ténis com luzes para ir gozar a vida numa qualquer festa para a qual sejam convidados ou entrem por conta própria.

Por esta razão, pessoalmente resolvi este pequeno dilema político de uma forma muito simples: No dia das eleições, fico em casa, não voto e há duas razões pelas quais não o faço.

Primeiro, não faz qualquer sentido. Este país foi comprado, vendido e pago há muito tempo. Eles trocam de lugar de quatro em quatro anos e já não significam nada.

Segundo, não voto porque acredito que se votar, não tenho o direito de reclamar.

As pessoas gostam de distorcer isso. Eu sei que dizem “se não votas, não tens o direito de reclamar”, mas onde está a lógica nisto? Se se vota e elege pessoas desonestas, incompetentes, e estas chegam ao poder e estragam tudo ainda mais, então, eu que votei, sou responsável pelo que estes fizeram e perdi o direito de me queixar.

Por outro lado, quem não votou, quem nem sequer saiu de casa no dia das eleições, não é, de forma alguma, responsável pelo que estas pessoas fizeram e tem todo o direito de reclamar o quanto quiser sobre a confusão que os outros criaram e com o qual os não votantes tiveram nada a ver.

Mais para o final deste ano, haverão eleições autárquicas e vai ser muito divertido, pois assim que acabarem, o nosso país irá melhorar imediatamente em todas as regiões. Ficaremos muito mais avançados social e tecnologicamente e o velho orgulho nacional voltará ao de cima, fazendo lembrar os gloriosos tempos dos exploradores dos séculos passados.

Se assim acham, então percam sono e tempo, vão apanhar frio ou chuva para eleger quem não se preocupa convosco, com aqueles que não tem médicos para os ajudar a viver mais um dia, com quem ainda não tem água canalizada ou saneamento, com quem trabalhou mais de 40 anos da sua vida e ganha apenas 200 euros por mês de reforma e ainda tem de pagar renda, medicamentos, alimentos, entre outras despesas, enquanto estes senhores vão de ferias para as Maldivas, tem casas cheias de ostentação e querem ser chamados de “Dr’s” e “Eng’s” a todo o custo.

Enquanto estão à espera de vez, lembrem-se que pelo meio dos dez milhões de cidadãos nacionais, há mais de meio milhão sem tomar mais que uma refeição por dia e esta é dada por instituições onde os seus dirigentes tem ordenados tão grandes ou maiores que o do presidente da republica.

Por outro lado e ao mesmo tempo, e para agarrar as camadas mais jovens, o que entrou em moda é dar apoios para os mesmos, estes que nada ou pouco sabem fazer e nem experiência de vida tem, mas os mais velhos, tendo a maioria uma boa vivência laboral e mental, são considerados obsoletos/antiquados e dessa forma, não utilizáveis para o mundo da atualidade.

A sociedade que estamos a “deixar correr” é que a partir de uma determinada idade, somos inúteis e nem nos reformam, nem nos deixam continuar. Parece haver um desejo de que se morra, mas apenas os que tem trabalhos considerados inferiores. Tudo o que passou por um curso superior, deve ser mantido e até exaltado.

Afinal, para que servem todos aqueles que têm mais de 45 anos de idade? Será necessário haver tantos cidadãos formados academicamente se não há lugares suficientes na sociedade para os abarcar a todos, nem estes demonstram sensibilidade para mudar os acontecimentos futuros?

Num país onde cerca de 46% dos cidadãos são gente formada academicamente, onde está a demonstração de que somos um país avançado tecnologicamente ou até socialmente? O que temos é gente que se agarra aos magníficos e chorudos ordenados com que se auto remuneraram e ainda acham que é pouco para o que fazem.

Tenho orgulho em ser Português, mas não na sociedade em que vivo. Um grupo de oportunistas que vive à conta de outros, que os explora e ignora e mesmo assim, há sempre um grupo de lambe botas que pensa que está bem por andar sempre atrás destes.

Quanto a mim, no dia de eleições, estarei em “casa” a fazer essencialmente a mesma coisa que costumo fazer. Trabalhar na minha propriedade, assegurando o crescimento dos alimentos que necessito e que não preciso de comprar nos mercados.

José Ligeiro