SERPENTE COLUBER E A CIDADE DE COIMBRA
Nas últimas semanas, tenho partilhado com os leitores do nosso jornal O Ponney, crónicas que exploram as histórias e lendas que constituem a essência de Coimbra. Entre elas, destaca-se a fascinante lenda da serpente Coluber da qual vos vou falar hoje e que em tempos antigos, ameaçou a cidade até ser derrotada por um valente cavaleiro. Tudo em nome de um amor proibido. A nossa cidade está sempre ligada a histórias de amor e tragédia. Esta narrativa, que deu origem ao nome da nossa cidade, é um verdadeiro hino à coragem e à paixão que habitam Coimbra. Convido-vos a embarcar comigo nesta viagem pelo tempo, onde iremos descobrir as memórias que moldam a identidade conimbricense e celebram a rica herança cultural que nos une.
Coimbra, cidade de encanto e história, ergue-se majestosa nas margens do rio Mondego, como um testemunho vivo de tempos antigos, onde o amor, bravura e coragem se misturam em narrativas que perduram.
Ao longo das suas ruas, cada pedra, cada edifício, guarda memórias que falam de conquistas e desilusões, mas, acima de tudo, de amores eternos.
Esta lenda, que se desenrola num tempo longínquo, remonta ao período das invasões bárbaras que assolaram a península ibérica entre os séculos V e VIII. Nessa época turbulenta, quando os suevos e os alanos dominavam a região, uma princesa de beleza ímpar habitava Coimbra. Com olhos azuis como o céu e cabelos dourados que reluziam ao sol, ela cativava o coração de todos os que tinham o privilégio de cruzar o seu caminho. Contudo, o seu amor verdadeiro pertencia a um jovem cavaleiro, cuja bravura e nobreza de espírito não eram reconhecidas pelo pai da princesa. O rei, temeroso pela segurança da sua filha, não via no jovem a honra necessária para merecer o seu amor.
A história toma um rumo dramático quando, de repente, um ser aterrador desce dos céus. Uma serpente colossal, que os habitantes da cidade passaram a chamar de Coluber. Este monstro ameaçava não só a paz da cidade, mas a própria vida dos seus habitantes. A jovem princesa, desejosa de ver o seu amor triunfar e determinada a encontrar a coragem que o seu pai não via, fez uma proposta audaciosa: casaria com o cavaleiro mais valente do reino, aquele que conseguisse derrotar a monstruosidade do animal e restaurar a harmonia na terra.
O desafio soou como um eco nas montanhas, atraindo guerreiros de todos os cantos, cada um mais impetuoso e corajoso do que o anterior. Muitos se atreveram a enfrentar a serpente, mas a maioria sucumbiu ao terror que Coluber impunha. Contudo, um único cavaleiro, movido pela força do amor e pela crença inabalável na vitória, decidiu enfrentar o desafio. Armado com bravura e determinação, ele lançou-se numa luta titânica contra a serpente, travando uma batalha que ecoaria nas memórias da cidade para sempre.
Após um combate feroz, onde o amor se tornou espada e escudo, o jovem cavaleiro emergiu vitorioso, e com isso, trouxe de volta a paz a Coimbra. O rei, ao ver o valor e a coragem do seu futuro genro, não hesitou em conceder a bênção para que os amantes finalmente pudessem unir os seus destinos. Assim, no local onde a serpente tombou, nasceu uma nova povoação, que com o tempo evoluiu para o nome Coimbra, perpetuando a memória de um amor que desafiou as forças do mal.
É importante ressaltar que esta lenda de Coluber não deve ser confundida com a conhecida história da princesa Cindazunda e Ataces rei dos alanos que também habita o imaginário da nossa cidade.
Uma estátua do Rei Ataces foi erguida no Parque Manuel Braga, em Coimbra. Trata-se de um busto em bronze com base em granito, inaugurado no dia 25 de junho. A obra foi doada à Câmara Municipal e representa o Rei dos Alanos, Ataces, conhecido também como Addak ou Addacus, figura histórica ligada à lenda da fundação de Coimbra.
Esperamos que esta obra, que celebra a nossa herança cultural, não seja alvo de vandalismo ou roubo, mas sim um testemunho duradouro da força da história e da união dos corações.
Que esta história de Coluber, que teve tanta importância com o destino de Coimbra, nos inspire a valorizar não apenas as nossas raízes, mas também os laços que nos unem uns aos outros, na eterna procura pela verdade e pela beleza do amor.
E para concluir, pois já me alonguei bastante, as minhas últimas crónicas têm sido dedicadas aos "animais" lendários de Coimbra, que fazem parte do nosso património cultural. Contudo, existem outros "animais", bem mais agressivos, que destroem o que de belo existe nesta cidade, atacando - se ao nosso património consumindo a energia e os recursos dos contribuintes. Esses, eu preferia que ficassem bem "hospedados" no novo Alcatraz que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a construir, com cobras e jacarés à mistura. Afinal, precisamos de proteger o que é nosso e deixar certos "animais" bem longe.
Boas leituras.
Até para a semana, quem sabe com uma nova lenda da nossa linda cidade.
M. Jones