Relembrando Manuel Bandeira: UM OLHAR INTERPRETATIVO EM “PROFUNDAMENTE”
Poeta livre de modismos, escolas e ideias, Bandeira torna-se parâmetro para o
modernismo brasileiro, passando da desestruturação da lírica antiga para a estruturação
da lírica moderna. Isso fica evidente em diversos aspectos de sua obra, porém mais
contundente nas questões referentes ao eu lírico, pois ele, ao parecer misturar sua
vida com sua obra e ao escrever sua autobiografia, instaura algo novo em poesia, que
é falar de si mesmo, quando não se é o mesmo. Bandeira criou um eu lírico parecido
com ele mesmo – veja-se em “Profundamente”
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
¾ Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Texto In: Letras Linguística e Artes:
Perspectivas Criticas e Teóricas - vol. 1