Vaticano muda linguagem humilhante e agressiva aos padres que pedem dispensa do celibato
Foto: Francisco com Famílias de Padres casados, nos arredores de Roma / RD Este Site e os Padres casados do mundo inteiro, vimos seguindo, desde a década de 70 a linguagem nada cristã e bem pouco humana usada pela Cúria romana quando, às vezes depois de mais de 20 anos de espera, resolve dar a Dispensa do Celibato e obrigações conexas, ao padre que pediu para sair do ministério. Temos versões de Rescritos (é o nome técnico do documento) desde Paulo VI até ao papa Francisco e notamos, com a publicação da recentíssima versão atual, ordenada por Francisco, a evolução da linguagem usada e a visão de Igreja e de Padre casado subjacentes a essa linguagem. UM POUCO DE HISTÓRIAFinalmente,
Ao mesmo tempo, Francisco, no espírito e na letra do número 200 do Documento de Aparecida , de que ele foi um dos Revisores finais, “Levando em consideração o número de presbíteros que abandonaram o ministério, cada Igreja particular procure estabelecer com eles relações de fraternidade e mútua colaboração conforme as normas e preceitos da Igreja”., mandou-nos recados por nossos enviados e por bispos amigos da Argentina e do Chile: “fiquem unidos, vossa luta é importante, não se dispersem, pois vossa hora chegará”. Temos notícia certa de que vários colegas ou grupos de colegas do Brasil, da Argentina e do Chile, e também grupos nacionais de Padres casados e as Federações Latino-americana e da Europa,
JP II – Foto Reprodução De João Paulo II sabemos que:
A “NOVELA” DA MINHA DISPENSAAinda no tempo de Paulo VI, em setembro de 1978, pedi Dispensa do Celibato, enviando o Processo ao Vaticano através da então minha Congregação. Me disseram que em cerca de seis meses meu pedido seria atendido seria atendido. Mas Paulo VI morreu e assumiu João Paulo II. Na Páscoa de 1979 ele endureceu muito as normas de concessão de Dispensa do Celibato. Meu processo, já no Vaticano havia seis meses, foi julgado pela norma posterior mais dura. Na prática, foi engavetado até eu fazer 50 anos, e a resposta só chegou 13 anos depois de pedido. Esperei de 1978 até 1991. Depois de várias tentativas explícitas, da Cúria romana e da Nunciatura de Brasília, para que eu mentisse, para poderem apressar a concessão da dispensa. Guardo ainda os documentos comprovantes de toda essa “novela”, onde o importante era resguardar a instituição cúria romana e seus “santos princípios” e não os direitos da pessoa humana. Queriam a toda a custa, que eu dissesse
Neguei com firmeza todas essas hipóteses e
Depois tentaram me dizer, através da minha ex-Congregação, que eu era um bom padre e que não devia ter saído. Ora eu já estava casado e tinha duas filhas de 6 e 7 anos. Mesmo assim me perguntaram se eu não queria voltar para a Congregação e o ministério. O Vigário Geral de então, constrangido, chegou a me pedir desculpa por ter de me transmitir essa estranha mensagem do Vaticano que contradizia todos os argumentos usados por eles anteriormente, para me negarem na tentativa de me dobrarem. Acalmei-o, dizendo que “mensageiro não merece castigo pela mensagem que transmite” Aí eu, então professor de Ética na universidade, me zanguei e respondi com uma carta muito dura, dizendo que tinha responsabilidades com minha Família e que essa proposta era desonesta, profundamente imoral. A não ser que eu pudesse voltar ao ministério junto com minha Família… E terminei minha carta, enviada através da minha ex-Congregação, que tinha apresentado e seguia meu processo no Vaticano, com um palavrão em dialeto milanês: “Digam ao Vaticano que … Dite al Vatican di andá a fá …” Foi um santo remédio: pouco tempo depois chegou o já não esperada Dispensa.
“4. No que se refere à celebração do matrimônio canônico, apliquem-se as normas do Código de Direito Canônico. O Ordinário deve, no entanto, providenciar para que tudo se faça de modo prudente e discreto, a cerimônia seja realizada com cuidado, sem pompa nem aparato”.
BENTO XVI E FRANCISCOCom Bento XVI, não houve mudanças significativas, a não ser alguma maior rapidez na concessão da Dispensa. Com o papa Francisco, as esperanças ressurgiram e ele nos disse desde o princípio que estávamos na sua Agenda e que esperássemos mais um pouco, com paciência e permanecendo unidos. Além de responder a algumas cartas direta ou indiretamente,
Entrementes, várias Conferências episcopais e vários episcopados nas visitas ad limina, iam falando com ele sobre o assunto. E vários teólogos
Por seu lado, os Padres casados, desde o fim da década de 70,
De há uns 20 anos para cá,
FINALMENTE UM SINAL DE ESPERANÇANestes dias, para nosso espanto,
E logo nas vésperas do Sínodo da Amazônia,
Abaixo,
Muito mais humana, muito mais eclesial, muito mais respeitosa aos Padres que resolvem deixar o ministério.
Estamos cientes que muitos, no passado e também no presente, sequer se dão ao trabalho de solicitar a Dispensa das obrigações decorrentes da ordenação. Simplesmente deixam o ministério e nunca mais ligam para a Igreja. Alguns até se escondem no anonimato, sendo que alguns chegam a renegar o seu sacerdócio. Segundo dados oficiais do Setor de Estatística do Vaticano, o O Anuário Pontifício 2018 e o Annuarium Statisticum Ecclesiae , informa que o Vaticano deu 65.000 dispensas do celibato desde o fim do Concílio Vaticano II. Como muitos dos colegas que deixam o ministério, por vários motivos não chegam a pedir a Dispensa Canônica do Celibato, não é difícil chegar à estimativa do número de 150.000 padres casados que deixaram e continuam a deixar o ministério. Os padres da ativa, hoje são cerca de 420.000. No Brasil, num dos nossos Catálogos periódicos (já fizemos 4 até agora),
Nossas tentativas de diálogo com os bispos diocesanos, excetuadas algumas exceções, não tem sido fácil. Dá a impressão de que somos uma pedra no sapato deles. E de que nossa existência os incomoda e questiona. Ainda são, na maioria, da “lavra” de João Paulo II e de Bento XVI, os que queriam esvaziar o Concílio Vaticano II e voltar para a “grande disciplina” de Trento até Pio XII. Mas há também alguns bem abertos, fraternos e acolhedores.
João Tavares Editor deste Site Do setor de Comunicação do MFPC e Vice-Presidente da Federação Latino-americana de Sacerdotes casados ![]() |