MAIS UM RATINHO PARIDO
Conduzia e ouvia na TSF, pelas 15:00, que são 19 freguesias na Área Metropolitana de Lisboa, que se concentram os focos mais críticos da COVID-19. Parei porque cheguei ao meu destino e, deixei de ouvir… “o estado de calamidade” que impera em “parcelas” da “Metrópole” onde vivo.
Fiquei atónito!
A Área Metropolitana de Lisboa abarca 18 concelhos, que não 19 freguesias. Nesta periferia do concelho de Lisboa, dormem a maioria de cidadãos, e não cidadãos, que se deslocam diariamente para ganharem o seu (e das famílias) sustento.
Tais deslocações, fazem-se sem que o Estado garanta as condições de transporte com respeito pelas recomendações das “Autoridades de Saúde”, as quais, obviamente, dependem do Primeiro Ministro.
Só nos concelhos que, do outro lado de Lisboa, bordejam o Tejo, existem 1581 casos de COVID-19 confirmados pela DGS. Estas populações, além do combóio e autocarros, utilizam os “cacilheiros” para tomar outro transporte até ao local de trabalho.
Tomando por exemplo o Presidente da República, que nunca escondeu o seu credo, talvez seja de crer que o PM, intimamente, passará o tempo todo a murmurar consigo próprio: “oxalá isto dê certo!!!???”.
Sande Brito Jr
EDITORIAL
O estado de alarme está de volta
Foi pena esta reacção do Governo não ter acontecido há um mês, quando os números de Lisboa mostravam já sem margem para dúvidas que algo estava a correr mal. Mas pior do que um erro de avaliação é virar a cara à realidade e persistir nele.
23 de Junho de 2020, 5:30
O Governo voltou a olhar com olhos de ver o problema da covid-19 e depois da série de medidas que anunciou nesta segunda-feira após uma reunião com autarcas vamos poder recordar algumas das discussões do estado de emergência. Serão as medidas proporcionais? Haverá legitimidade para se imporem medidas severas que restringem direitos básicos dos cidadãos, como o de reunião? Vai ainda ser possível encontrar novos focos de discussão, como o que levanta perguntas sobre a inexistência de cercas sanitárias como a que houve em Ovar ou sobre os custos políticos para o Governo, que andou semanas a virar a cara à realidade e agora tem de correr atrás do prejuízo. Mas por muito atendíveis ou complexas que sejam todas estas perguntas, dúvidas ou opiniões, o Governo fez o que tinha de fazer: reconheceu que a situação na região de Lisboa é grave e adoptou medidas para a debelar.
(Imagem retirada da net)
Vivemos tempos duros, ansiosos e novos. Temos de estar preparados para lidar com um vírus e com uma crise que não vêm nos livros, em que tudo exige experiência, aprendizagem e erros. Mas entre o confinamento rigoroso e o desconfinamento relaxado, sentiu-se por parte dos poderes públicos uma descontinuidade que denunciava uma óbvia falta de coerência. Numa semana, o primeiro-ministro avisava que a experiência da abertura podia ser revertida a qualquer momento, na seguinte pedia às pessoas para virem para a rua; num momento, o Governo alertava para os perigos das concentrações, no seguinte as televisões mostravam António Costa e o Presidente na praia. Com o anúncio desta segunda-feira, o Governo regressa à sua primeira narrativa.
Faz bem. Porque ao disponibilizar meios para reforçar as condições de transporte das pessoas das zonas mais afectadas, ao mobilizar as forças da autoridade para operações dissuasórias, ao dar as mãos às autarquias para aumentar a protecção nos bairros ou ao restringir os horários do comércio obriga a comunidade a reflectir sobre a dimensão do problema com que se confronta e a reforçar as precauções. Não está em causa o desconfinamento, mas sim a forma como o país tem de o encarar. Não em estado de lassidão, mas em estado de alarme.
Foi pena esta reacção não ter acontecido há um mês, quando os números de Lisboa mostravam já sem margem para dúvidas que algo estava a correr mal. Mas pior do que um erro de avaliação é virar a cara à realidade, que aqui criticámos, e persistir nele. Com o regresso de medidas de excepção para acudir a uma situação de excepção, será mais fácil consciencializar todas as pessoas para uma evidente e infeliz realidade: ainda é cedo para vivermos como gostaríamos de poder viver.