O REI VAI NU

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Numa sociedade em que se chega ao cúmulo de se ter de encarcerar um ex-primeiro ministro por “suspeita” de vários crimes, há alguma coisa que está muito mal!

Quando se acaba de condecorar esse mesmo ex-primeiro-ministro com uma das mais altas honrarias do próprio país, as coisas não melhoram.

Quando se reitera a desculpa de que se desconheciam, ou que não cabiam, as suspeitas de que tais crimes pudessem ter ocorrido, isso não entra na classe da ingenuidade, ou na categoria de burrice. Isso é, no mínimo, uma tentativa de se esconder o óbvio, aquilo em que quase uma dezena de milhões de pessoas já suspeitavam.

Apesar das boas vontades e da esforçada honestidade de alguns, poucos, agentes da verdade e da justiça, poucos serão os concidadãos que acreditam que o processo de justiça alguma vez chegue a produzir uma expressão a que se possa chamar JUSTIÇA.

A lei, meus senhores, foi feita, ou está a ser trabalhada todos os dias para situações como esta! Ainda com o cúmulo de provas justifique a condenação de crimes graves como a corrupção, o movimento ilegal de capitais, a lavagem de dinheiro, a fuga ao fisco, a apropriação indevida de valores do estado, o… perjúrio (!) e sabe-se lá que outras acusações impendem sobre “suspeito”, teme-se que ao fim de uma infindável batalha jurídica, e o dispêndio de milhões em custas judiciais, a maioria dos crimes prescreva e que o citado, acabe por ser condenado por um crime menor, a uns quinze diazitos num calabouço de luxo no estabelecimento prisional da Carregueira. O país terá muita sorte se não tiver que o indemnizar, por danos morais e outros que tais!

Entretanto justifica-se uma intrigante pergunta. O que leva cidadãos de tão elevado prestígio, como ex-presidentes da república, ex-primeiros-ministros, magistrados, políticos da mais elevada craveira e outras figuras públicas a prestas tão flagrante vassalagem a um indivíduo de quem deviam, em defesa da sua própria dignidade, manter uma enorme distância?

– Amizade! Solidariedade! O homem está inocente! Está na cara que isto é uma enorme injustiça! É uma flagrante perseguição política! – Clamam. – Amizade e tal, e tal, e tal? – Interroga o povo, com incredulidade.

Sim, meus senhores! O povo está à espreita! O povo pode aparentar ingenuidade ou indiferença, mas não é burro!

Mas a pergunta prevalece. O que leva essas individualidades a sujeitarem-se a essa exposição? É claro que a “maledicência” popular abre um grande leque de propostas… Na melhor das hipóteses, muitos dirão que são demonstrações de impunidade! Mas, a maioria pensará que se cumpre a dolorosa necessidade de tentativa de controlo de uma constrangedora cumplicidade. É que nunca se sabe que enxurrada por aí virá, se as portas da represa cederem…

Assim vamos fingindo que não enxergamos as irregularidades que já se praticam às claras! Assim fingimos uma distração que está longe de existir! O pior será quando o miúdo gritar – Olhem, o rei vai nu!

Joaquim Caldeira