Quase diário

Quase diário (1).

Ao fim do terceiro dia cativo, consigo escrever sobre este perfume maldito que se chama Coronavírus. Precisei de arrumar os livros, os papéis, regar as flores, arrumar, arrumar. Funciona como uma espécie de terapia, mantenho-me ocupado, não penso na nuvem que me oculta o Sol. Olho os milhares de livros, e penso que preciso de viver mais uns anos para ler uma boa parte.

A vida tem leis próprias que se sobrepõem a qualquer Código de Direito. É lenta a travessia, mas o que importa é chegar à outra margem. Nestes momentos as urgências são outras, até o meu telefone deixou de tocar. A vida escolhe sempre aqueles que sabem partilhar as suas dores.

 

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Quase diário (2).

A corrente de tristeza que se espalha pelo mundo diz-nos que este planeta é a casa comum das diferenças.  O medo é universal e a vida uma dádiva improvável da natureza. Sabemos   que o mundo está unido contra o Coronavirus, esse inimigo letal que não escolhe a cor da pele, a cultura nem a ideologia. Fiquemos em casa, este é o tamanho do mundo possível para protegermos a vida e reflectirmos sobre um "futuro que houve dantes" e que queremos redescobrir quando o ar insuflar as velas da liberdade.

 

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Quase diário (3)

Quando a Primavera bate à porta e o cão ladra, as flores exalam os seus sorrisos e os aromas inebriam as paisagens. No passado, antes da nossa era, a natureza escrevia nas suas paisagens e o homem na Pedra de Roseta a memória colectiva. As epidemias atravessaram a história da humanidade. Se olharmos para trás, percebemos que a nossa imunidade foi feita à custa de muitas vidas.

Péricles, uma das figuras notáveis de Atenas, na Grécia Antiga, assumiu a sua liderança política, em 462 a.C., sendo responsável pela derrota definitiva dos persas; iniciou, em 448 a.C., a construção do Pártenon e do Erecteu. Atenas vivia a idade de ouro, era a cidade acolhedora e de grande procura. Como consequência, a polis ficou sobrelotada e com problemas sanitários. Em 429 a. C. um surto de peste invadiu a cidade e Péricles morreu infectado.

As epidemias não escolhem os corpos pela beleza ou pelo poder. O momento que vivemos em todo o mundo deixa os ditadores mais assustados do que nunca.

António Vilhena 

 

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