SILÊNCIO HIPÓCRITA

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O ano de 2025 trouxe à luz, através da imprensa nacional, uma série de casos alarmantes de violência doméstica envolvendo figuras públicas em Portugal. Revelando a crueldade que se oculta por de trás de rostos conhecidos.

O caso de José Castelo Branco, que, segundo a imprensa espancava e humilhava a esposa, chocou o país. Foi necessário o internamento hospitalar da senhora para que a situação viesse a público.

Da mesma forma, e segundo a comunicação social, o ator Manuel Marques enfrentou graves acusações de violência em relação à sua filha mais velha, que somente ao atingir a maioridade conseguiu romper o silêncio e denunciar o pai. A ex-mulher, mãe das filhas do ator, também apresentou uma queixa-crime. A ser verdade o relatado pelos meios de comunicação social, como é possível que se chegue a tais extremos para fazer uma denúncia?

Para culminar com todas as desgraças que já assolaram o nosso país, soubemos da morte prematura da Dra. Teresa Caeiro e da profunda depressão em que vivia há anos. Esta também vítima, de acordo com as notícias nacionais vindas a público, de um homem que foi seu marido, de um homem e de toda a hipocrisia que a cercou durante tanto tempo.

Tomámos conhecimento dos factos relativos à prematura morte de Teresa Caeiro através de artigos nacionais e testemunhos que denunciaram este caso. Apesar destas situações necessitarem de delicadeza na procura da verdade, não se pode esconder a influência de figuras públicas na sociedade, nem podemos esconder que a violência doméstica é um crime público, por isso deve ser denunciada. Mesmo que não seja pela própria vítima. Se os relatos forem verdadeiros, que a família procure, que justiça atue e se faça em sua memória, transformando a sua história num grito de alerta para todas as vítimas deste horror.

A morte de Teresa Caeiro expõe uma realidade dolorosa que muitas mulheres enfrentam, mas que frequentemente permanece oculta. Embora a sua morte não fosse provocada diretamente pela violência da qual foi vítima durante anos, sofreu em silêncio. O que deveria ser um momento de luto e reflexão transforma-se num espetáculo de hipocrisia, onde outras figuras públicas e conhecidos se apressam a lamentar uma perda que poderia ter sido evitada. A sua história foi marcada por um ciclo de agressões e uma depressão profunda, revela a face obscura da violência doméstica, um crime que, embora reconhecido pelas leis em Portugal, continua a ser envolto em silêncio, medo e vergonha.

É inaceitável como a sociedade ignora, na maioria das vezes, o sofrimento das vítimas, transformando amigas(os) em espetadoras (es) passivas (os). O caso de Teresa Caeiro é o espelho de tantas outras mulheres que, em vez de encontrarem apoio, enfrentam desprezo e indiferença. Algumas acusações a Miguel Sousa Tavares que foi casado com Teresa Caeiro durante seis anos, entre 2011 e 2017 e especialmente depois de se saber que a antiga deputada terá ficado marcada por abusos no casamento. Ponderava mesmo, tantos anos depois, denunciar o seu agressor na Justiça, conforme revelou em Agosto, num longo artigo, o Diretor-Geral Editorial Adjunto do Correio da Manhã (CM), Armando Esteves Pereira, amigo pessoal de 'Tegui'.

O diretor adjunto do CM ao confessar o seu remorso por não ter incentivado Teresa a denunciar o crime do qual foi vítima, ressalta uma responsabilidade social que deve ser coletiva. O medo de represálias não deve silenciar a verdade; ao contrário, deve galvanizar a coragem de enfrentar a realidade. Mesmo com alegada culpabilidade de Miguel de Sousa Tavares.

Miguel Sousa Tavares, um nome que carrega um peso de influência e poder, não é apenas um eco da sua mãe, Sophia de Mello Breyner Andresen, uma escritora de renome e uma mulher de grande dignidade.

Temos que ter muito cuidado para que não seja julgado na praça pública. Porém as figuras públicas, de uma forma geral, têm uma grande influência no comportamento social. Por isso pode representar a face sombria de uma sociedade que, muitas vezes, protege os seus, camuflando os crimes sob a capa da notoriedade. A sua arrogância e desumanidade, expostas nas suas declarações públicas conhecidas, revelam uma falta de empatia que não pode ser tolerada. A brutalidade dos seus atos não deve ser ignorada ou minimizada apenas por causa do seu estatuto.

De qualquer forma é um ciclo que precisa ser rompido, e as vozes de todas as "Teresas",devem ser ouvidas. Não podemos permitir que a hipocrisia continue a silenciar a dor das vítimas. A violência doméstica é um crime público e deve ser tratado com a seriedade que merece.

Que este caso de Teresa Caeiro, da Inês filha do Manuel ou Betty Grafstein, sirva como alerta para todos nós. É urgente criar um ambiente de apoio e solidariedade para aquelas e aqueles que ainda se encontram silenciadas. O sofrimento não deve ser esquecido, e a luta contra a violência deve ser uma prioridade coletiva. É tempo de romper o ciclo e dar voz àquelas e aqueles que foram silenciadas. Que a memória de todas as "Teresas" não seja em vão, mas sim um impulso para que, finalmente, se faça justiça e se promova uma mudança real numa sociedade que tantas vezes escolhe ignorar a dor das suas mulheres, homens, crianças e idosos. Porque também eles são vítimas de monstros.

Descanse em paz, Teresa Caeiro. A paz que não lhe deram em vida por ser uma mulher bonita, inteligente e generosa. Que a sua história inspire coragem e resiliência, e que a luta contra a violência doméstica se torne um compromisso inabalável de todos nós.

Manuela Jones
05-09-2025