TER OPINIÃO

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De tempos a tempos, lembro-me de algumas observações de Manuel António Pina. Numa entrevista, cito de cabeça, o jornalista e poeta lembrava que a determinada altura passou a ter uma coluna de opinião, diária salvo erro, no Jornal de Notícias. E ele que era dado a não ter opiniões passou a ter a obrigação de ter uma, ou várias, todos os dias.

 Esta observação, seguramente exagerada da parte de Pina, ficou-me na memória e lembro-me dela com alguma frequência.

 Embora talvez não pareça, também eu por vezes me revejo na posição de Manuel António Pina.

Há temas em que manifestamente não consigo ter opinião. Até posso vir a ter uma posição sobre o assunto, mas não de forma imediata e em sintonia com o ciclo (o corrector corrigiu para circo...) mediático. No primeiro embate, sou capaz de concordar com uma posição e o seu contrário sobre um mesmo assunto, precisamente porque há ali valores centrais que colidem. E eu ali fico a balançar entre eles sem ser capaz de afirmar a primazia de um sobre os restantes.

 Acresce que há assuntos sobre os quais, muito francamente, pura e simplesmente não me apetece ter opinião.

 No meio desta cacofonia ainda consigo ter opiniões das quais mais tarde eu própria discordo...

 Felizmente, de novo Manuel António Pina, também não tenho que me preocupar muito. Afinal, no dia seguinte as minhas opiniões apenas servem para embrulhar peixe. 

Esmeralda Maria Botto Antas

 

 P.S. -- Há uma opinião, no entanto, que tenho com toda a certeza e segurança: é uma pena que o grande Manuel António Pina nos tenha deixado em 2012.