TRABALHAR EM PORTUGAL

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A ideia disseminada que «não há quem queira trabalhar» repete-se por todo o nosso país como um “mantra” parecendo que não necessita de reflexão, mas tudo merece reflexão.

Há falta de vendedores à comissão; as fábricas necessitam de operários na linha de montagem; há restaurantes e hotéis com falta de pessoal; há empresas de call center que andam desesperadas à procura de quem queira trabalhar e há empresas de limpezas que não encontram trabalhadoras.
Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, afirmou que “qualquer empresa que queira contratar pessoas não consegue”, concluindo, de seguida, que “os portugueses não querem trabalhar”. Fantástica conclusão!
Não sendo essa a opinião dos países que acolhem os trabalhadores portugueses, mas vamos aos dados em Portugal para que possamos entender é verdade que os portugueses não querem trabalhar.

Quarenta e três vírgula quatro por cento (43,4%)dos trabalhadores por conta de outrem auferem remuneração base (a 30 dias) até ao valor de 800 euros (pouco acima do salário mínimo nacional que, em 2023, ascende a 760 euros) - estamos a falar de quase metade da população que trabalha em Portugal num total de 1.745.541 trabalhadores com ordenado igual ou inferior a 800 euros (de acordo com os últimos dados de "Gestão de Remunerações" da Segurança Social).

Também segundo a associação Portuguesa de Contact Centers afirma que o trabalho de “call center” ocupa mais de 80000 empregos diretos e um volume de negócios anual superior a 1000 Milhões de euros. Os diversos “call centre”, geográficamente ocupam o litoral, mas também em zonas interiores como Viseu, Covilhã ou Portalegre - a média de ordenado ganha entre o ordenado de 800 euros.

Na realidade é mais barato contratar em Portugal e por isso o nosso país é cada vez mais um agregador de “call center” de várias marcas internacionais, pois é fácil encontrar falantes de inglês.

Mudando para a função dos serviços nos Centros de Saúde começam a proliferar o outsourcings, os recibos verdes, as pessoas trazidas pelas empresas de trabalho temporário, que nem sequer têm acesso a formação e que são colocadas a atender o público com “formação” por imitação.

Segundo dados publicado no site da Secretaria-Geral da Economia «O turismo foi a origem em Portugal de 19,1% da riqueza produzida no ano passado, de acordo com o relatório do World Travel & Tourism Council (WTTC), que aponta Portugal como o 5º país onde é mais forte a contribuição do turismo para o PIB.» Mas o que está a acontecer em termos laborais?

Nos estabelecimentos do turismo (lojas, restaurantes e bares) ninguém respeita as leis do trabalho. Se o funcionário trabalhar as 8 horas do contrato vai começar a ficar malvisto e rapidamente roda para entrar outro que dê pelos menos mais 2 horas de trabalho com uma média de ordenado de 750 euros mensal. Segundo dados de 2018 o Turismo empregava 400 mil trabalhadores, sendo metade na área da restauração.

Quantos trabalhadores estão com sistema de recibo verde - ou seja sem contratos de trabalho e em situação de trabalho precário?

Segundo dados de 2021, quase um terço (32,4%) dos trabalhadores portugueses estavam em risco de pobreza e exclusão social, segundo dado divulgados pelo Eurostat. Portugal é, de resto, o país com a segunda taxa mais elevada, sendo apenas destronado pela Roménia (70,8%).

O gabinete de estatísticas europeu revelou que apenas num ano a percentagem de trabalhadores a recibos verdes portugueses estavam em risco de pobreza e exclusão social aumentou dois pontos percentuais, tendo passado de 30,4% para 32,4%. O recibo verde abrange trabalhos na Indústria, Turismo, Vendas, Limpezas e todos os trabalhos que ninguém deseja que os seus filhos o façam pela instabilidade, baixos salários e constante humilhação.

A realidade é que as pessoas que trabalham a recibo verde acabam por mascarar a diminuição do número de desempregados.

Também é contraditório quando a Segurança Social registou o maior excedente orçamental em mais de uma década, atingindo 4.059 milhões de euros, em 2022, uma melhoria de 1.711 milhões face a 2021, avançou hoje o Conselho de Finanças Públicas (CFP) quando há muitas pessoas reformadas que têm que trabalhar para sobreviver.

Vamos ver se as profissões fossem divididas entre físicas e não físicas, os serviços de limpeza estariam, claramente, no primeiro grupo. Tudo isso pressupõe então que as pessoas mais velhas não estejam incluídas, sobretudo as que passaram a idade da reforma. Mas não é essa a realidade: há mulheres com 78 anos, e mais, a trabalharem nas limpezas.

Segundo o relatório da Eurostat, cerca de 70% dos jovens desempregados portugueses, entre os 20 e os 34 anos, estão mais predispostos do que qualquer outro jovem da União Europeia a mudar de cidade ou de país para procurar um emprego. Este valor é bastante expressivo comparativamente à média europeia dos 28 países que constituem a união, que é de cerca de 50%. São apresentadas as principais razões para a saída de Portugal a precariedade laboral e os baixos salários.

AF