ANJINHO

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JÁ LÁ VÃO UNS ANOS. Ela tinha um rosto perfeito, dos anjos dos quadros do Renascimento Florentino. Falava mansamente, insinuava-se sem aparente malícia. Enfim, o que parecia inevitável deu-se. De manhã, quando acordei, ela já não estava, e nem fiquei com o telefone ou com morada. Entretanto, tinham-me desaparecido o relógio, o telemóvel, as canetas de ouro, e mais umas coisas. Mas deixou ficar as asas, que lhe caíram. Quem as reconhecer e souber de quem são, avise-a, eu dou-lhas sem rancor, como castigo pela minha leviandade.

Na verdade, o anjinho fui eu.

Pedro Dias