Beber um café

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No sábado passado, eu e a minha amiga Sónia Baptista fomos beber um café ao Starbucks. Foi uma atividade de luxo, pouco frequente, pois custa me dar por um café o que daria para comprar uma leitaria inteira e/ ou (conforme a bebida) uma plantação de café (isto aqui não é como aí e eu sou uma pobre emigrante de Paris de França, valise de carton)... Mas pronto, dias não são dias e lá fomos nós armadas em milionárias excêntricas, beber um café num copo com o nosso nome. Na fila, deparei me com uma situação que vou ter de partilhar convosco. Então, à minha frente, estavam quatro jovens de sexo masculino, entre os seus 18, 19 e 20 e qualquer coisa, entre o alto, baixo, moreno, loiro.  Chegando à caixa, fizeram o seu pedido. Ora, aqui a história começa a ficar interessante, porque este pedido foi uma autêntica odisseia. Não sabendo o que pedir, dada a variedade de bebidas e beberagens que existe no dito estabelecimento comercial, a menina teve que explicar quais eram os ingredientes de quase todas as propostas do  menú. Pronto, até aí tudo bem, estava a fazer a sua obrigação... Porém, acrescido a isto, os jovens iam tirando as suas duvidas  e fazendo certas exigências: "qual é a origem do leite? É que eu só consumo leite de origem vegetal. E as natas são de origem vegetal? Essa bebida tem açúcar? É que eu não uso açúcar nas bebidas. O açúcar que tem é refinado? E o café é de origem biológica? Tem muita cafeína?"....A moça respondeu a todas as questões e, finalmente, ela escreveu os nomes dos meninos nos copos e passou o pedido à próxima.

Ora, enquanto isto acontecia e eu aguardava pacientemente a minha vez, várias coisas me passaram pela cabeça:

em primeiro, pensei, "ui, estou tramada (recorrendo a uma outra palavra vernacular do português que vós estais a imaginar)

em segundo, passava-me pela cabeça a forma como eu e a minha geração fomos criados: "apanha, sopra e come", na casa do meu avô, bebia de uma chávena de barro o leitinho acabado de sair da cabra ou da vaca, bebia pensal ou mokambo e, quando tinha sorte, café de borra, ia aos sacos do açúcar louro procurar os bocados cristalizados que sabiam a rebuçados, comia sopas de cavalo cansado ao pequeno almoço (não, isso não, mas tenho pena, eram capazes de suavizar as manhãs mais difíceis da escola primária).

em terceiro, pensava no futuro destes milenials e da própria humanidade. A forma como o mundo está a evoluir prediz uma muito provável hecatombe mundial. Haverá, nessa altura, leitinho de amêndoas, de soja ou de arroz? Haverá o cafezinho biológico, o açúcar sem tratamentos, a natazinha vegetal, etc etc? Espero bem que sim, pois que de outra forma podem criaturas tão delicadas, refinadas e saudáveis sobreviver?

finalmente, pensava na hercúlea paciência da menina do Starbucks, fazendo os meus próprios filmes, caso fosse eu essa dita menina. "se o café é biológico? Claro que sim, comido e defecado por um tipo especial de felinos, que, desgraçados estão em cativeiro, mas isso não interessa, sendo as suas fezes joeiradas por 40 virgens em noites de lua cheia, O açúcar? É tão puro que nem adoça. O leitinho? Acabado de sair das amêndoas, também elas biológicas…. ". Enfim, ainda bem que sou professora e não menina do Starbucks.... Não durava lá um mês.....

Falta me apenas concluir, dizendo que as bebidas que os meninos pediram, como era de prever, eram tudo menos um bom café, que alimenta e aquece a alma.

Sandrina Ribeiro