BOCAGE
Precursor do romantismo, Bocage é considerado um dos maiores sonetistas portugueses, se não o maior.
Foi a sua irreverência e língua afiada que deram origem a uma expressão popular.
"CUIDADO COM A LÍNGUA!"
1- Entre outras coisas…
Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do quintal. Chegando lá, constatou que um ladrão tentava levar os seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar saltar o muro com os seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando os meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Doutor, afinal levo ou deixo os patos?
2- Bocage foi o criador da expressão
"É PIOR A EMENDA QUE O SONETO"
Conta-se que certo dia um estudante que escrevia sonetos pediu ao Bocage para lhe fazer o favor de corrigir eventuais erros. Ao fim de uns dias o Bocage devolveu a obra ao estudante sem fazer uma única rasura.
O estudante perguntou-lhe: Então está tão bom que não teve emendas?
O Bocage respondeu: Olhe, se eu fizesse emendas… a emenda era pior que o soneto.
NÃO TEM PONTA PARA SE PEGAR (ou NÃO TEM PONTA POR ONDE SE PEGUE)
3- Em 14 de Abril de 1786, o Bocage embarcou como oficial de marinha para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena”, que chegou ao Rio de Janeiro em finais de Junho.
Na cidade, viveu na actual Rua Teófilo Otoni, e diz o "Dicionário de Curiosidades do Rio de Janeiro" de A. Campos - Da Costa e Silva, pg 48, que "Bocage gostou tanto da cidade que, pretendendo permanecer definitivamente, dedicou ao vice-rei algumas poesias-canção cheias de bajulações, visando atingir os seus objectivos. Sendo, porém, o vice-rei avesso a elogios e a algumas rimas de baixo calão, admoestou o poeta de tal forma que ele utilizou a famosa frase: "quem tem cu tem medo, e eu também posso errar", o que o levou a abandonar o Brasil e prosseguir a viagem para as Índias".
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