Era assim
Era assim na aldeia da minha infância: se alguém — comendo uma peça de fruta, uma simples côdea de broa, ou fosse o que fosse — se cruzava com uma criança, oferecia de imediato um pedacinho. Era preciso que não “ougasse”.
Se minha mãe me estava comigo, escondia-me agarrado à sua saia e abanava com a cabeça, numa recusa envergonhada.
- Ó Maria, o miúdo que não se acanhe!…
- Ó filho, se te apetece, aceita.
Aceitasse ou não, minha mãe erguia-me os queixos e perguntava:
-E, agora, como se diz?…
-Muito “obigado!”
Era assim na aldeia da minha infância. Suponho que na maior parte das outras aldeias e cidades. Mas sei que não em todas… Pelo menos a avaliar pelo número de adultos que não usam a boa educação de um «Obrigado!» quando são atendidos, quando se lhes atribui a prioridade numa passagem, quando se lhes responde com uma indicação, quando recebem uma amabilidade, etc., etc.
Um «Obrigado» faz bem, é barato e revela sensibilidade.
Muitas vezes apetece-me perguntar, com a voz pedagógica de minha mãe: «E agora como se diz?…»
João Aguiar Campos