O Colar
Bateu as contas de contente ao perceber o interesse dos olhos que o observavam.
Fino e delicado, parecia-lhe um despautério ainda não ter sido escolhido. Mas, depois dos olhares cuidadosos e das voltas e reviravoltas naquelas mãos, tinha a certeza de que a espera valera a pena: certamente, em breve, exibir-se-ia no pescoço da mulher a quem seria oferecido.
Pendurado na cruzeta da gravata dele, ia desfiando as contas da sua curta vida, enquanto se enroscava na seda azul.
Quando abria o roupeiro, o homem entrelaçava-o nos dedos, como se acariciasse o colo onde haveria de o depositar.
Mas, com o tempo, os mimos foram rareando até que passou a ignorá-lo.
O seu entusiasmo inicial esmorecia. É que não havia maneira de o homem
lhe dar o destino que lhe traçara. Por vezes, parecia até que se arrependera de o ter comprado.
Desanimava. Percebia, agora, que outros colares teriam sido oferecidos a outras mulheres ou, pior, que um dia seria depositado noutro colo que não aquele ao qual estava destinado. Tal parecia-lhe uma ignomínia!
A despedida impunha-se. Lentamente, foi-se deixando escorregar pelo tecido sedoso, que ainda esboçou, em vão, o gesto de o segurar, levantando a ponta. Caiu por entre uma fresta do roupeiro e para lá ficou abandonado, na esperança de um dia ser encontrado por coração mais decidido.
Tanto quanto se sabe, o dono nunca se apercebeu do seu desaparecimento.
PC