PADRE COSTA DE TRANCOSO, PAI DE 299 FILHOS
No distrito da Guarda, mais propriamente em Trancoso, terra de muita história, mora uma das histórias mais surpreendentes e inesperadas de todo o país e que, não obstante, ainda passa ao lado de muitos que nunca dela ouviram falar.
Contudo, um tanto ou quanto inopinadamente, reapareceu ao público quer em vídeos quer em alguns outros meios de comunicação social.
Trata-se da história do bem-aventurado Padre Costa, que, no século XV, se tornou no actor principal de uma história completamente irreal, mas que de facto aconteceu.
Este homem, que todos conhecem e tratam pelo Padre Costa de Trancoso, conte-se, foi pai de um total de 299 filhos, um número escandalosamente surpreendente e que dificilmente deve vez alguma ter sido superado, principalmente porque se trata de um pároco que, obviamente, tinha feito voto da castidade e que, também obviamente, não o cumpriu, por força dos apetites da carne, mesmo da menos fresca.
Entretanto e por estas prevaricações e incumprimentos sucessivos, o padre Costa acabou por ser julgado em 1487, quando tinha já 62 anos. A sentença foi severíssima, mais criminosa ainda que os “crimes” que cometeu. Eis a
SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO (Autos arquivados na Torre do Tombo, Armário 5, Maço 7):
“Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de:
– ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos;
– de cinco irmãs teve dezoito filhas;
– de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas;
– de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas;
– de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas;
– dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.
Total: duzentos e noventa e nove filhos, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres
Como diz o povo, todos os cães têm sorte, e o inesperado aconteceu… O rei na altura, D. João II, terá perdoado o sacerdote, tendo-o colocado novamente em liberdade, com a justificação de que a Beira Alta estava a perder população e de que este teve um papel importantíssimo ao repovoar a região com tantos filhos, vindo a ser chamado Padre Costa de Trancoso, o Povoador das Beiras.
Várias são as homenagens que ainda hoje se realizam em Trancoso, sendo até o nome de vários produtos vendidos no município.
D. Sancho I, para povoar o interior do país, atraiu estrangeiros; D. João II preferiu apontar o exemplo do padre Costa.
Zefe
Gravura retirada da net (Sapo viagens)