A AMEAÇA DO CARTOON E CARICATURA EM COIMBRA
A caricatura universitária é típica em Coimbra. Sendo única, a vetusta cidade universitária, a ter o mais antigo costume dos estudantes fazerem a caricatura no final do curso. Hoje, outras universidades copiaram esta característica conimbricense. O que significa que é uma boa prática para recordar os estudantes e para que eles recordem o tempo de vida académico.
Um costume que fecha uma etapa no estudo superior, mas que a cidade nunca homenageou esta sua característica peculiar. Talvez porque os poderes públicos tenham medo que seja motivada a aumentar a sátira que aponta o dedo aos erros políticos que vão matando a cidade que já foi capital de Portugal e que agora é quase desconhecida. A realidade é que poderia haver uma feira de caricaturas em Coimbra juntamente com comes e bebes típicos das muitas tabernas de Coimbra dado que a caricatura acompanha a boémia dos estudantes.
Mas a caricatura é ameaça e o cartoon não pede licença. Por isso, naturalmente, é que o poder político autárquico prefere fazer igual a cidades que não têm as características que Coimbra tem. É mais fácil igualar Coimbra a todas as outras cidades como se fosse apenas o uso de uma farda. Convidar um grupo internacional; fazer discursos sobre “embaixadores”; mandar a Serenata Monumental para fora do espaço que lhe dá cenário; calar os estudantes ou matar as frondosas árvores dos amores é sempre uma maneira de descaracterizar Coimbra. Fica mais fácil, para o poder que lida mal com a Democracia, quando todos pensam da mesma maneira e vestem todos a mesma farda.
Os cartoons a sério não pensam igual, levantam dúvidas, levam ao ridículo as asneiras e conspiram contra quem pisca o olho à tirania.
A exemplo desta ameaça temos que este recente poder autárquico, liderado por José Manuel Silva, durante a campanha pediu ajuda aos cartoons humorísticos do Movimento de Humor para ajudar a ridicularizar os erros do anterior executivo.
Durante a campanha foram feitos cartoons que ilustravam os erros do anterior executivo liderado por Manuel Machado. As apreciações gráficas, usando a sátira humorística, eram motivo de grande elogio e de grande gozo por parte do candidato José Manuel Silva. Os elogios eram feitos apenas enquanto candidato e cabeça de lista às últimas Autárquicas. Só enquanto a crítica era para o anterior presidente da Câmara Municipal de Coimbra é que foi motivo de fortes aplausos.
Foi, inclusivamente, pedido pelo próprio José Manuel Silva, que o autoproclamado “Primeiro-ministro desta livre nação que é o Movimento de Humor”, José Augusto Gomes, fizesse um cartoon para ser colocado num painel publicitário exterior (localizado no Jardim da Sereia virado para a Praça da República). Onde foi caricaturado o anterior presidente Manuel Machado a chutar estudantes universitários para fora de Coimbra. O painel que causou bastante polémica, mas que nunca teve processo contra o cartunista. O desprezo, com ondas de ódio manifestadas em privado, era a arma usada pelos anteriores governos autárquicos de Coimbra. A tal ameaça que punha em causa algumas práticas políticas que agradava a quem era oposição.
Mas como “águas passadas não movem moinhos”, quando o candidato foi eleito passou a ter uma posição exatamente contrária à posição de vereador da oposição. Quando sentou na cadeira do poder autárquico perdeu o humor e os aplausos à sátira conimbricense. Pois o atual presidente da Câmara de Coimbra (sim, o mesmo que enquanto candidato usava a seu favor o humor em cartoon para a sua campanha eleitoral), que chegou a fazer um prefácio a um pequeno livro com alguns cartoons do Movimento de Humor, entendeu levantar uma queixa crime formal no Ministério Público por difamação da sua pessoa.
Essa acusação crime, sujeita a inquérito pelo DIAP, acabou por ter como resultado que o inquérito foi encerrado por se não ter verificado crime e de ser legalmente inadmissível o procedimento contra as pessoas do Movimento de Humor que não chegaram a serem constituídos ‘arguidos’. O cidadão José Manuel Silva pagou as custas processuais, mas, naturalmente até à data deste artigo, não pediu desculpa publicamente ao Movimento de Humor.
O que vindo de um presidente de Câmara de uma cidade irreverente por natureza, que o foi contra o Estado Novo e contra todos os tipos de tirania, pelos meios da sátira como o faz pela caricatura e pelo desfile da Queima das Fitas, mostra que o atual presidente não está de forma alguma em sintonia com a cidade que o elegeu. Também demonstra que, o atual presidente da Câmara, não sabe lidar com a democracia nem com liberdade de expressão e por isso merece que não esteja a presidir ao município que tem importante história no combate à ditadura do Estado Novo. Em tempos “salazarentos”, os estudantes revoltosos também foram considerados pessoas indesejáveis para o poder.
O Ponney, como jornal conimbricense, considera que Coimbra merece melhor e merece que o futuro presidente seja pessoa que faça enaltecer os valores de Coimbra. Não havendo necessidade para inventar o que não é próprio de Coimbra.
O Ponney tem esperança que a próxima pessoa a ser eleita conheça bem Coimbra e que as suas medidas sejam apropriadas à Cultura e História da nossa Lusa Atenas.
JAG