A ARBORIZAÇÃO EM COIMBRA

ARVORES3

 

A qualidade de vida urbana muitas vezes é inversamente proporcional ao tamanho da população, uma vez que a estrutura da cidade deve acompanhar o seu crescimento populacional e nem sempre isso acontece. Há cada vez mais cidades populosas e há transportes públicos que não servem a cidade toda, escolas sem vagas, um número elevado de pacientes para cada médico...e a qualidade de vida é reduzida a condições de sobrevivência básicas.

Os serviços urbanos, de responsabilidade da câmara municipal, devem ser desenvolvidos para servir os munícipes, e desses serviços fazem parte a distribuição de energia elétrica, saneamento básico, e iluminação pública, assim como o desenvolvimento paisagístico com a incorporação das árvores no cenário urbano.

As árvores como serviço urbano essencial promove muitos benefícios aos munícipes, e podemos enumerar os seus benefícios:
1)As árvores reduzem o escoamento superficial da precipitação, e essa redução da velocidade das chuvas até o solo evita alagamentos nas estradas, avenidas e ruas da cidade. Algumas espécies podem reduzir esse escoamento em até 80% dependendo do tamanho da sua copa (as copas de árvores novas não são capazes de o fazer tão bem quanto as árvores maiores);

2)A capacidade de filtrar a poluição do ar é outro efeito das árvores nas cidades que possuem uma frota de carros cada vez mais envelhecida, e isso inclui os transportes públicos. A retenção da poluição é feita pelas folhas evitando que as partículas em suspensão sejam inaladas revelando um benefício direto a saúde da população citadina. Dependendo da espécie uma árvore pode absorver 21kg de dióxido de carbono (CO 2 ) equivalentes as emissões de um carro que percorre 41842 km;

3) De acordo com a fundação Arbor Day Foundation (https://www.arborday.org/) uma árvore madura e sã pode produzir oxigénio suficiente para 10 pessoas durante um ano, e segundo um estudo no Canadá uma árvore gera em média 117 kg de oxigénio por ano e duas árvores maduras geram oxigénio para uma família de 4 membros por 1 ano (https://www.gov.nt.ca/);

4) A fotossíntese realizada pelas árvores é feita através do consumo de carbono para produzir oxigénio. Embora consumam energia solar neste processo, mantém a temperatura superficial das folhas baixa. Isso significa que as árvores contribuem para a redução da temperatura do ambiente e a volta de edifícios. Alguns estudos demonstraram que até a vegetação urbana pode reduzir a temperatura em até 2ºC evitando o uso de ar condicionado em alguns ambientes, estudo publicado no Journal of Arboriculture por Klaus Scott e colaboradores. Este artigo também
indica que no interior dos carros a temperatura pode ser reduzida em até 8 ºC.

5)O controlo da temperatura no ambiente através da vegetação permite manter no verão uma amplitude térmica menor. Quanto maior a densidade foliar das árvores, maior será a evapotranspiração e o sombreamento, e logo o controlo da temperatura ambiente é feito. Por consequência ajuda a manter a temperatura do corpo humano constante a 36 ºC e evitar desgastes na saúde através da manutenção de um microclima adequado à saúde humana. Uma árvore grande e saudável produz o mesmo efeito de dez aparelhos ar-condicionado funcionando 20 horas por dia, e também ajudam a aumentar a humidade do ar em zonas mais secas.

6) O sombreamento ajuda na proteção contra à radiação solar, aumentando a sensação de conforto dos peões e da proteção da saúde contra os efeitos maléficos da irradiação intensa. No entanto o sombreamento só é conseguido com árvores de médio e grande porte.

6)De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, uma árvore consegue absorver mais de três mil litros de água de chuva, diminuindo a contaminação de lençóis freáticos e mananciais em 7%, e reduzindo o gasto de impostos com tratamento de água;

7)Para além dos benefícios na saúde humana e para o ambiente, do ponto de vista económico a valorização imobiliária é sempre elevada numa zona arborizada, pela agradável paisagem oferecida. Estudos indicam que um imóvel pode ter uma valorização de até 0,5% se a zona arborizada for aumentada em 10% na cobertura vegetal e estiver num raio de 100 a 250 m de distância do imóvel. Isso porque as árvores reduzem a poluição sonora e contribuem para a manutenção e aumento da avifauna.

Esse ambiente mais agradável e paisagem acolhedora também chama a atenção de turistas, que em caminhadas pela cidade podem encontrar melhores condições para respirar, para descansar e aproveitar a viagem com enriquecimento cultural, sem lutar pelas condições ambientais durante uma viagem.

A falta de planeamento arborístico resulta numa sequência de problemas que vão desde a ausência e privação destes benefícios para os munícipes, até a insatisfação da população e de visitantes.

Mesmo com tantos benefícios as árvores continuam a ser danificadas por funcionários camarários sem formação, muitas árvores são eliminadas para alargamento de ruas, para novos empreendimentos e reformas de moradias. As podas mal-feitas que mutilam as árvores são sempre justificadas, para não atingirem a fiação elétrica, ou para não afetarem a iluminação pública, ou porque estão a destruir o passeio com suas raízes.

Para além dessas ações mal-planeadas, muitas árvores têm sido frequentemente substituídas por espécies arbustivas e de pequeno porte que não cumprem a função de um serviço urbano essencial.

A justificação da necessidade da eliminação das árvores por constrangimentos causados por outras atividades da cidade não são justificações para o abate de uma árvore com mais de 10 anos.
O planeamento arborístico urbano permite oferecer a população todos os benefícios anteriores indicados, e devem estar acessíveis a toda a população e não apenas nas zonas nobres da cidade.

Para problemas existentes há soluções como transplante de árvores, cirurgias em árvores e outros cuidados que são feitos por áreas de estudos como a Dendrologia, que através da Silvicultura conseguem encontrar soluções adequadas para cada problema encontrado de acordo com as espécies visadas.

Os profissionais como engenheiros florestais, agrónomos e biólogos são
capazes de encontrar soluções adequadas tanto para implementar espécies na cidade, quanto para tratar dessas. Não basta ser uma espécie bonita, florida ou que dê frutinhos, pois há que saber a necessidade da espécie e adaptá-la a cada região, assim como perceber o seu potencial benefício na região onde são incorporadas.

Claramente soluções como o transplante de uma árvore dependem não só da espécie em questão, mas da época do ano sugerida para o transplante e todas
as condições necessárias no novo local para que a árvore consiga adaptar-se e continuar a desenvolver-se de acordo com a Sograma, empresa portuguesa que realiza esse serviço (https://www.sograma.pt/transplante-e-transporte-de-arvores/).

O planeamento deve ser feito e monitorizado não só na implementação, mas ao longo do crescimento da cidade. Não basta plantar árvores, deve-se identificar as melhores espécies e fazer a manutenção com regas e cuidados fitossanitários. Os passeios devem ser planeados com espaço suficiente para que as raízes consigam respirar sem quebrar os passeios que as sufocam.

Soluções como as grelhas francesas, ou protetoras para árvores, são soluções duradouras e eficazes há décadas
(https://www.fucoli-somepal.pt/PT/produtos/produtos/tampas-e-
grelhas/grelhas/grelhas-protectoras-para-arvore/263), mas continuam a ser feitos passeios que estrangulam as árvores com concreto e alcatrão, ou outras soluções que de inovadoras não tem nada!

As cidades precisam de árvores que possam cumprir suas funções, com menos poda e mais copa.

É necessária a inserção das árvores em novos loteamentos, mas também em estradas, rotundas e parques e passeios. É essencial que as árvores estejam bem distribuídas nas ruas e avenidas de toda a cidade e não apenas em bairros nobres.

Integradas à cidade, as árvores agregam valor e benefícios importantíssimos para a qualidade de vida da população, trazem benefícios para a saúde e claramente económicos.

 

Mara Braga
Engenheira Agrónoma