AUTOCARROS DE COIMBRA SEM MOTORISTAS

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Na terça-feira desta semana (6 de Agosto), foi encerrado o prazo de entrega de candidaturas para motoristas nos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) de um concurso para a entrada de 10 motoristas. A dificuldade de encontrar quem queira ocupar o lugar de motorista ou de mecânico é um problema que se arrasta neste executivo municipal.

O próprio executivo reconhece que a questão é ainda “agravada” pelo “número reduzido de candidatos que se têm apresentado a concurso, o que não tem permitido preencher as vagas.

Num momento político mundial onde as questões ambientais são prioritárias e onde são tomadas medidas sérias, para não se aumentar a poluição, com o controle de transportes por viatura própria nos centros urbanos, os transportes municipais em Coimbra continuam a ser um enorme problema por resolver.

Desde a gestão da frota de autocarros, onde circulam autocarros com muitos problemas de mecânica, mesmo os recentemente comprados com o dinheiro da venda do Audi ao serviço do anterior presidente da Câmara de Coimbra, mostraram que apenas aumentaram o número de autocarros com problemas, em vez de serem resolvidos.

O Ponney, já publicou, e lembra também que há um grupo de autocarros importados e comprados pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC), onde cada autocarro, trazia três sistemas de segurança:
1.Um sistema de análise de álcool em que o autocarro não anda sem que o motorista sopre no balão;
2. Um sistema chamado "homem morto", permitindo que o motorista use um pedal do lado esquerdo impedindo que o carro se movimente. Um sistema de bloqueio completo do autocarro (por isso a razão de se chamar “homem morto”);
3. Por último, o sistema de gravação de imagem, que em caso de alerta do sistema "homem morto" guarda em filme com os últimos 15 minutos sobre o que aconteceu, para poder ser estudado o que motivou ao bloqueio do autocarro pelo motorista.

No entanto todos estes sistemas foram desativados, após terem sido adquiridas pela CMC, segundo informação que nos chegou ao O Ponney. O que originou pelo menos dois desastres que poderiam ter consequências mais graves.

A esta situação, de falta de segurança, junta-se o facto de serem poucos os autocarros que têm sistema de refrigeração. Que afasta passageiros e motoristas de usarem as caixas metálicas, onde se acumula o calor no Verão e não são isolantes durante as chuvas frias do Inverno, o que aumentou a indignação dos utentes dos SMTUC. Quando um cidadão perguntou ao presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, numa rede social, por que razão não andava o senhor presidente de autocarro - a resposta foi que trabalhava 18 horas por dia - como explicação para o não uso de transportes públicos por quem deveria dar exemplo de uma ação sustentável e exemplo de que os transportes municipais funcionam bem.

Neste trabalho intenso na Câmara de Coimbra vieram três possíveis soluções para a gestão dos SMTUC. A primeira foi a de “internalizar” os SMTUC. Deixar de ser um serviço da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) para passar a ser um departamento na própria Câmara. Esta medida foi rejeitada pelos motoristas que perdiam a luta das suas condições laborais. Luta defendida pelo anterior Vereador da oposição ao executivo liderado por Manuel Machado, mas que como presidente do atual executivo age em oposição à luta onde se tinha envolvido enquanto Vereador da oposição.

A segunda solução foi aplicada. Foi a de criar um Conselho de Administração (CA) dos SMTUC profissional. Ou seja uma administração que não dependesse do trabalho dos Vereadores eleitos, como estava a ser feito no inicio deste mandato e no anterior. O executivo da Câmara defendeu esta solução considerando que, mesmo gastando mais dinheiro do erário municipal, justificava-se pelo facto de os SMTUC passarem a ter uma gestão mais focada a resolver os problemas dos transportes municipais. O que os utentes e os funcionários dos SMTUC notaram é que nada melhorou e continuaram os problemas de sempre. A dita “gestão mais profissional” não está a resultar.

O reconhecimento de que a solução, de uma gestão mais focada e profissional dos SMTUC, não está a resultar é que o próprio executivo, que defendeu a gestão autónoma dos SMTUC, apresentou a terceira solução. Se a solução de um “Conselho de Administração mais focado e profissional” fosse a solução necessária para os SMTUC não havia necessidade de se apresentar a 3ª solução.

Desta vez foi apresentada a solução de transformar os serviços municipais numa empresa municipal. Volta a defesa, por parte do executivo municipal, de que uma certa autonomia e uma visão mais empresarial vai resolver as velhas questões dos transportes municipais em Coimbra. A grande referência, em Coimbra, é da empresa municipal “Águas de Coimbra”, mas onde uma parte da população não gosta dos aumentos em cada ano do preço das taxas na fatura da água. Neste momento as taxas e impostos correspondem a cerca de metade do que um consumidor gasta em água e sem que a higiene urbana (que também vem nas faturas para pagar) corresponda com os serviços oferecidos.

Das 3 soluções, apresentadas pelo executivo da CMC, ainda nenhuma é candidata para resolver um dos problemas que fazem parte das prioridades mundiais: um maior uso dos transportes públicos. E se em Coimbra, não há motoristas suficientes para conduzirem os autocarros municipais dos SMTUC. Nem os ordenados nem as condições laborais são atrativas para se resolver o problema da falta de motoristas. Por outro lado o “MetroBus” ainda vai agravar mais este problema.

Grande parte, dos atuais motoristas dos SMTUC, vão entrar na reforma e os que são recentemente contratados não preenchem as necessidades dos SMTUC. Isto motivado pelos baixos ordenados, as muitas responsabilidades exigidas a cada motorista e as faltas de condições de grande parte dos autocarros - essas são as razões invocadas pela Comissão de Trabalhadores dos SMTUC.

Por outro lado o executivo da Câmara de Coimbra não consegue resolver o problema, apesar do candidato José Manuel Silva, atual presidente da Câmara de Coimbra, ter prometido, durante a campanha eleitoral para as eleições Autárquicas passadas, aos motoristas dos SMTUC uma solução que passaria por ir com a Comissão de Trabalhadores dos SMTUC a Lisboa e tratar diretamente com o Governo. Em último caso, se o Governo (mesmo com o Governo do PSD e CDS atual) fechasse as portas à negociação, o candidato e agora eleito presidente da Câmara de Coimbra, iria passar os motoristas para a carreira de “assistentes técnicos” - prometido, mas ainda não cumprido.

Volvidos 3 anos da tomada de posse o problema continua por resolver e não foram cumpridas as promessas feitas em campanha eleitoral aos próprios motoristas dos transportes urbanos de Coimbra.
Agravando este problema com a falta de reestruturação dos SMTUC. Como não há motoristas as linhas teriam que voltar a ser redesenhadas para criar uma escala de serviço adequada com a quantidade de autocarros e motoristas disponíveis.

Porém a verdade é que as chamadas “escalas extraordinárias” continuam sem alteração, mesmo com a falta de motoristas nos autocarros municipais. Este é um problema reconhecido em reuniões de Câmara pela Vereadora com este pelouro, Ana Bastos. Faltando cumprir a 17ª ação das 112 ações prometidas em campanha autárquica para o Concelho de Coimbra que diz: «Tornar os SMTUC um meio de transporte fiável em que as pessoas possam confiar para os levar a horas ao seu destino». Nada disso se está a verificar.

O Ponney foi procurar o salário bruto base de um motorista do Metro de Lisboa que ronda os 1.300 a 1.400 euros, aos quais somam as componentes salariais variáveis e subtraem os descontos para a Segurança Social e o IRS. As variáveis em causa são o subsídio de agente único ou o subsídio por trabalho noturno, mas também o trabalho em dias de feriado.

Isto para motoristas do Metro de Lisboa. Para Coimbra a situação é muito diferente, segundo alguns candidatos que mostravam interesse em se tornarem motoristas de Metro. O ordenado apresentado era o do ordenado mínimo, 820 euros, isto para a responsabilidade de trabalhar como motorista do “MetroBus”.

Entretanto a empresa Metro Mondego já gastou mais de 327 milhões de euros para iniciar uma estrada, mais ou menos condicionada, onde passarão autocarros elétricos articulados conduzidos por motoristas que irão receber o ordenado mínimo.

A gestão dos SMTUC, e as soluções apresentadas pelo executivo da CMC vão no sentido oposto às declarações da autarquia que fala de “satisfação de clientes” e que garante um “melhor fluxo de passageiros”. O Ponney acredita que o maior fluxo de passageiros deverá corresponder a um perfil de pessoa que trabalha menos de 18 horas por dia para poder aceder aos horários mais reduzidos de Verão.

JAG