CENSORES QUE PERDEM A CABEÇA
A verdade é que nem sempre o simples vocabulário das palavras, chega.
Por exemplo: se dissermos que «a Vereadora perdeu a cabeça quando disse ”em Coimbra, só dorme na rua quem quer!”», é improvável que alguém pergunte - «Mas a cabeça saiu-lhe dos ombros? Rolou para cima da mesa da reunião da Câmara?».
Ora ninguém pergunta se a cabeça da senhora Vereadora rolou, dado que o nosso sistema de ensino é eficaz e ensina bem os seus alunos na disciplina de Português - há que elogiar os professores.
A maior parte das pessoas compreende que a expressão “perder a cabeça” significa algo bastante diferente do que parece significar. Assim como quem desenha uma caricatura pode exagerar. ‘Pode’ - não! Deve exagerar - caso contrário não é caricatura. No entanto, se a maior parte entende o que significa “perder a cabeça” já poucos entendem que um exagero de uma caricatura serve para chamar atenção para algo mais grave - o que se disse quando tem poder para mudar o que está errado, mas não o faz.
Aqui os professores de desenho andam um bocado mal por não explicar a liberdade artística. Onde o caricaturado pode parecer uma barata.
Porém em Português, as coisas não são excelentes pois quando alguém desabafa que “já não se pode dizer nada”, um número razoavelmente vasto de idiotas contrapõe “nada mesmo? Mas é proibido? Vais preso?”
Ora, como é evidente, a declaração “já não se pode dizer nada” significa, na verdade, que já não se pode dizer nada, por mais insignificante que seja, sem que alguém, em algum lado, interpretando correta ou, o mais das vezes, incorretamente o que foi dito, fique profundamente melindrado e proponha que o autor da gravíssima ofensa se cale.
Sobretudo quando o alvo da caricatura faz parte do vasto grupo de idiotas, mas é a pessoa que tem poder para mandar calar quem a incomoda. Um poder que se sobrepõe à falta de meios dos tribunais ou da polícia e que pelo poder encontra forma de colocar um Tribunal ou a polícia atrás de uma interpretação errada e que a incomoda por lembrar a sua absoluta estupidez. Lá está, quando perde muitas vezes a cabeça. Mas ainda assim faz com que a polícia ou o Tribunal persiga quem a faz perder a cabeça.
Então os professores de História podem ensinar que os tiranos têm em comum a falta de inteligência para fazer o bem e então perdem mais vezes a cabeça. Quando alguém descobre que eles, ou elas, perdem muitas vezes a cabeça e denunciam acabam, por vontade do ditador ou ditadora literalmente sem cabeça. Mas como fecharam a guilhotina os tiranos ou as tiranas ditam a sua ostracização. Ficando contentes com a atrapalhação de interrogatórios feitos a quem diz a verdade só para mostrarem o seu poder.
Estes tipos de pessoas estão ainda mais abaixo do que os idiotas, são os tiranitos ou as tiranitas. Diminutivo dado que nem sequer têm coagem para se assumir como tiranos...ou tiranas.
Evidentemente que estamos a falar de censura. A palavra, o desenho, a pintura, o teatro, o cinema, a música - enfim todas as formas de expressão artística são obviamente uma ameaça aos intentos dos tiranos e das tiranas.
É, assim, natural que os grupos encrostados no poder queiram ter controle sobre o que se escreve, o que se vê, o que se ouve e o que se lê no território que dominam. Assim nasce a censura!
Este também é um tema do excelente livro de Robert Darnton «Censores em ação: Como Os Estados Influenciaram A Literatura». Na capacidade de diretor da Biblioteca da Universidade Harvard e autor de outras obras como Os Best-Sellers Proibidos da França Pré-Revolucionária, Darnton é uma espécie de autoridade mundial quando o assunto é livros. Especialmente livros incendiários. Este tema demonstra o processo cada vez mais ardiloso de se criar a censura com a proteção da Lei criada por político coagidos pela sua carreira, pela disciplina partidária e por interesses que se afastam do desenvolvimento do país.
Enfim, são este tipo de gente que vai minando a democracia. Há que extraí-los da política para não sujarem a democracia ainda mais, por isso há necessidade de todos nós nos empenharmos.
JF