EMPRESÁRIO ALTRUÍSTA EM COIMBRA

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Contrariamente a certos julgamentos, muitas vezes, feitos injustamente a alguns empresários, o empresário que entrevistámos nunca enriqueceu à custa da exploração dos seus funcionários, muito pelo contrário, sempre os ajudou.

O jornal O Ponney entrevistou o Senhor Armando Silva, uma personalidade incontornável que marcou a cidade de Coimbra. Nascido no Porto há quase noventa anos, foi o fundador da filial da Costa Pina e Vila Verde nesta cidade, que se destacou como o maior distribuidor de bebidas nacionais e estrangeiras em Portugal.

Paralelamente à sua carreira empresarial, Armando Silva dedicou-se mais tarde, intensamente ao voluntariado, prestando apoio no IPO de Coimbra e em várias outras instituições ao longo de décadas, sempre com o compromisso de ajudar os mais necessitados. Foi um homem que marcou pela sua enorme bondade.

O Ponney - Desde já agradecemos a sua disponibilidade em nos receber em sua casa, concordando em nos conceder esta entrevista.

Sr. Armando Silva - Com certeza.

Ponney - O nosso jornal veio a sua casa para fazer esta entrevista e mostrar aos nossos leitores como o Senhor marcou esta cidade.
Vamos iniciar perguntando lhe onde é que o Senhor nasceu e como é que que o trouxe para Coimbra.

Sr. Armando Silva - Nasci em Pedroços, na Maia, Porto, e nasci no dia 19 de Maio de 1935.
O que me trouxe para Coimbra, foi o facto de já trabalhar como administrativo na empresa Costa Pina e Vila Verde. Pensaram abrir uma filial em Coimbra e convidaram-me para tomar conta da gerência e de a organizar.

O Ponney- Em que ano é que isso aconteceu?

Sr. Armando - Deve ter sido por volta de 1958.
O Ponney - O Sr. Armando já trabalhava então no escritório da empresa da Costa Pina e Vila Verde.

Sr. Armando - Sim. Já trabalhava no Porto, na Avenida do Bom Jardim.

O Ponney - A vida não deve ter sido fácil nessa altura, nomeadamente para que vem começar uma vida nova noutra cidade completamente desconhecida. No entanto, ao abrir esta filial, abriu também uma porta para vários postos de trabalho, mesmo assim, penso nos obstáculos que teve que enfrentar.

Sr. Armando - Na altura eu já tinha dois filhos e vinha outro na barriga da mãe que já nasceu em Coimbra. No entanto a firma foi organizada aqui, em frente à Rua dos Oleiros, perto da fábrica Triunfo.
Começamos com um empregado de escritório, um de armazém, dois motoristas e dois vendedores pracistas. Depois à medida que o negócio foi crescendo, houve a necessidade de adquirir uma frota maior de viaturas e aumentar número de funcionários.
Era um negócio ligado ao comércio de bebidas nacionais e estrangeiras, do qual éramos os maiores representantes em Portugal e agentes de várias marcas.
Inicialmente utilizando os caminhos de ferro e as frotas de camionagem para transportar e distribuir as mercadorias. Depois a filial foi crescendo e abrindo noutros locais.

O Ponney - Como é que era Coimbra naquela época?
Sr. Armando - Havia muito comércio, muitos retalhistas, mas Coimbra pertencia a três ou quatro famílias importantes desta cidade.

O Ponney - Muito diferente da cidade hoje.
Sr. Armando - Completamente. Coimbra hoje quase não tem comércio tradicional. As grandes superfícies dominam. Mesmo a minha empresa foi mais tarde vendida aos ingleses.

O Ponney - Então o Sr, depois decidiu dedicar - se ao voluntariado.
Sr. Armando - Sim. Depois da morte da minha esposa, vítima de cancro, mais tarde tirei o curso e dediquei me aos que precisavam de apoio e carinho nos piores momentos da vida. Alguns sem família, outros que vinham de longe, pais com filhos jovens a padecerem de cancro e sem perspetivas de vida. Eu tentava sempre dar-lhes esperança e conforto. Uma palavra de esperança, um abraço de coragem. Tudo fazia para os animar.

O Ponney - Vi que quando partiu do IPO os seus amigos e colaboradores lhe fizeram uma bonita homenagem. Falaram da sua bondade e da sua boa disposição contando as suas famosas anedotas sobre a sogra.
Sr. Armando - É verdade. Por vezes há a necessidade de fazer rir um pouco quem vai para um hospital com esta doença. Eu sempre tentei arrancar um sorriso de esperança. Foram vinte anos de voluntariado em que eu sinto ainda hoje que recebi mais do que dei.

O Ponney - Sr. Armando, qual o segredo para esta longevidade e essa forma física excelente?
Sr. Armando - O meu segredo sempre passou por pensar primeiro no sofrimento dos outros e depois em mim. Sinto-me bem, sinto-me feliz. Por isso ainda cá estou.
É esse o conselho que eu também dou aos mais jovens. Ajudem o vosso próximo. Pensem no sofrimento dos outros. Ajudando os que precisam, acabam por ser mais felizes.

O Ponney - Sr. Armando, agradecemos a sua disponibilidade em nos receber aqui em casa e conceder-nos esta entrevista.
Muito obrigada.


Sr. Armando - Eu é que agradeço.l

Após a calorosa receção que nos foi proporcionada, não consigo deixar de refletir sobre a importância de prestar homenagens a homens como o Sr. Armando enquanto ainda caminham entre nós.

Não será no futuro, quando já não estiverem presentes, que devemos reconhecer a sua grandeza. Na minha perspetiva, homens e mulheres como o Sr. Armando merecem ser eternamente gravados no pedestal da vida, imortalizados na memória coletiva, para que nunca sejam esquecidos.

A sua essência e os seus feitos deveriam ser referência inabalável, uma luz que ilumina o nosso percurso, lembrando-nos sempre do valor das suas contribuições.

 

Entrevista feita por Manuela Jones, representando O Ponney