O PIOLHO NUM CARECA
O jornal As Beiras, publicou no dia 25 de Janeiro, no anterior sábado, um artigo sobre os sem-abrigo em Coimbra, onde relatava uma anedota contada por um sem-abrigo ao presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, onde perguntava: "Sabe o que é um piolho na cabeça de um careca?”, perguntou ao autarca. “Um sem-abrigo", atirou o homem. Talvez com a intenção de um certo simbolismo para dizer que as pessoas sem-abrigo, na verdade, não têm mesmo para onde ir.
A reportagem foi realizada com o absoluto apoio do executivo da Câmara Municipal de Coimbra e contou com a presença do próprio presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva e da vereadora Ana Cortez Vaz, com este pelouro da ação social para encaminhar o trabalho jornalístico de As Beiras.
Neste acompanhamento da CMC a reportagem seguiu nos trilhos traçados pela CMC e que mereceu as notas de absoluta simpatia do diretor de As Beiras, Agostinho Frankelin, que entendeu fazer umas notas de elogio ao poder autárquico. Até de um certo carinho: «O percurso que realizámos para acompanhar uma equipa de rua de apoio aos sem-abrigo, a nosso pedido, junto da Câmara Municipal, merece-nos as seguintes notas, que queremos verbalizar. Em primeiro lugar, a disponibilidade imediata manifestada pelos serviços camarários para nos acompanharem - a uma marcação de horas, sem qualquer critério prévio.»
E depois com um evidente elogio à vereadora: «Em terceiro, também deve dizer-se, pelo conhecimento manifesto da situação mas, igualmente, da abordagem de cuidado de humanitude exteriorizado pela vereadora responsável por esta área de intervenção social.»
O que não deixa de escapar à atenção de O Ponney que lembra quando a senhora vereadora Ana Cortez Vaz, a mesma que recebeu os elogios do diretor de As Beiras, e que infelizmente em Abril de 2022, durante uma reunião ordinária da Câmara disse que «em Coimbra só dorme na rua quem quer».
Link para confirmar: https://www.youtube.com/watch?v=MP0IDxl-71Q&t=6773s
(Ao minuto 1:48 a 1:49)
Mas desta vez a acompanhar o diário As Beiras, parece que não era a mesma vereadora que nunca chegou a pedir desculpa publicamente pelas suas infelizes palavras. Temos que lembrar, também, que o jornal As Beiras escreveu que o “projeto das cartolas” apresentado pelo vereador da oposição, José Manuel Silva,na edição de 2018, não foi chumbado pelo executivo anterior de Manuel Machado. A realidade é que não teve votos suficientes para ser um projeto vencedor. Teve apenas 124 votos, mas que mais uma vez o deslize do jornal As Beiras, jogou a favor de quem, hoje, tem o poder municipal. Custando este projeto concretizado, apenas porque passou a presidente da CMC, 70.000 euros.
Em Coimbra e dados de 2022 fornecidos pela Câmara Municipal de Coimbra à CMTV, existia um aumento do número de pessoas em situação de vulnerabilidade social extrema. No município existiam, em 2022 cerca de 50 sem-abrigo, sendo a maioria do sexo masculino com idades entre os 45 e os 60 anos.
Mais recentemente, a 30 de Junho de 2024 havia 259 pessoas na condição de sem-abrigo em Coimbra.Deste total, 107 viviam na situação de sem teto (na rua, num abrigo de emergência ou noutro local precário), enquanto os restantes 152 não tinham casa (viviam em alojamento temporário).
O que é um aumento alarmante em Coimbra que em 2022 apontava 50 sem-abrigo e, mais recentemente em 2024, aponta para 259 pessoas sem-abrigo, provando que o trabalho da senhora vereadora da Ação Social da CMC, ainda está muito longe de ser um trabalho para se elogiar.
Várias instituições tentam resgatar pessoas que vivem nesta condição, a quem dão teto e esperança. A associação Casa é uma delas que a nível nacional vai dando resposta à população sem-abrigo através da integração de pessoas em apartamentos comunitários. Mas para integrarem este projeto social e terem acesso aos apartamentos, os utentes têm de cumprir algumas regras e requisitos, entre os quais a ausência de consumos de drogas ou álcool há mais de seis meses. O que impossibilita o acolhimento a mais pessoas nestas situações.
FG