Recordando o “Conde de Orcet”

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O sebenteiro Júlio Condorcet, de seu verdadeiro nome Júlio Condorcet Pais Mamede, médico radiologista, que nas suas actividades de exímio prestidigitador se apresentava como Conde de Orcet, the King of Embarrilation.

 

    «Condorcet foi um aluno de medicina com tanto de estudioso como de pândego. Não sei se por necessidade, se para arranjar mais uns cobres para a estroinice, foi também sebenteiro. Noites e noites a passar à máquina os apontamentos colhidos nas aulas, ditados por um condiscípulo, seu colaborador na preparação das sebentas.

    Certa noite, a certa altura, saiu esta frase dos apontamentos:

    – …”diz a mitologia que foram uns corvos que tiraram aos deuses o poder de curar e o deram aos homens”…

    – Alto aí! – cortou o Condorcet

    – Que é?!

    – Como se chamam esses corvos?

    – Sei lá! Aqui não está nome nenhum…

    – Mas devia estar! Uns corvos dessa importância não podem deixar de ter nome, caramba!... Ora deixa cá ver… deixa cá ver… Que dizes a “Giribites”?

    – Põe lá o nome que quiseres mas olha que pode dar mau resultado! – cortou o companheiro, morto por andar para a frente com os apontamentos.

    Não deu mau resultado. O que deu foi um gozo medonho nos exames de “História da Medicina” desse ano.

    Na primeira referência de um examinando aos “corvos Giribites” o lente deu um salto na cadeira e perguntou fora de si:

    – Corvos quê?!!

    – Giribites… – respondeu, a medo, o aluno.

    – Giribites?!?!... Onde é que o senhor aprendeu isso?

    Como, nesse tempo, os lentes não podiam ouvir falar em “sebentas”, o rapaz foi-se defendendo com a mentirazinha do costume.

    – Foi num livro que me emprestaram… já bastante antigo…

    – Hum… bem… bem…

    Assim desarmado, o mestre continuou o exame sem mais incidentes. Incidentes houve, depois, com os alunos que não sabiam dizer o nome dos corvos!!!

    – … foram uns corvos da mitologia… Ia dizendo o aluno.

    – Como se chamavam esses corvos? Perguntava o mestre, atento à lengalenga.

    – …… – Emudeciam os ignorantes.

    – Giribites, senhor!... Giribites!... Vocês não estudam nada!... É tudo pela rama… tudo pela rama!...»

 

    Sabe-se que, neste caso, a marosca foi descoberta e os “corvos Giribites” não voaram por muito tempo. Mas quantos outros “corvos Giribites” não terão passado já a verdades científicas irrecusáveis? 

Alexandre Condorcet Mamede

(Neto do visado)

Nota: Embora sem intimidades, conheci bem o dr. Condorcet, excelente radiologista, ilusionista amador e pessoa de humor fácil, amigo de toda a gente. Fui, também, bom amigo do dr. Jorge Condorcet, recentemente falecido, sócio n.º 01 da ACADÉMICA-OAF. A ambos a minha singela homenagem. Pessoas destas estão a fazer muita falta a Coimbra e à BRIOSA!

J. Q.