SAÚDE DOENTE

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Em frente às urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), estiveram, no principio desta semana, 36 ambulâncias retidas com tempos de espera para transferir os doentes, por vezes, com tempos superiores a uma hora. Esta poderia ser apenas uma situação pontual, mas não é. A saúde está mesmo doente.

Paulo Paço, presidente da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica
(ANTEM) aponta como problemas os constrangimentos nas urgências hospitalares, que “obrigam as ambulâncias a demorarem, por vezes, o dobro do tempo no transporte de doentes”. Debilidades do sistema segundo Paulo Paço esta situação “não é nova” e coloca maior pressão nos serviços de urgência.
Chama, ainda a atenção para a “fraca qualidade da formação dos operacionais e para protocolos de triagem e de ativação de meios desadequados e desatualizados”.

“O problema é ser o CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgentes) a receber, e despachar, quase todas as solicitações”, sustenta Paulo Paço, defendendo que devem ser os serviços de emergência médica a ter capacidade para decidir quais os utentes que efetivamente precisam de ser atendidos nos serviços de urgência. Só desta forma, “será possível libertar meios que são cada vez mais escassos e necessários para as reais situações de risco de vida imediata”, assegura.

Também a Fénix – Associação Nacional de Bombeiros e Agentes de Proteção Civil, considerou que “Este é o resultado de não olharem para os serviços médicos de emergência tal como são. Estes serviços não podem andar a tentar resolver problemas que não são do seu âmbito” lamentou a associação sobre este caso da retenção das ambulâncias.

Os serviços médicos acabam por não ter o papel que lhes cabe para fazer a triagem logo desde o início.

Apesar do atual Governo ter autorizado a contratação de 200 Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) para o INEM para reforçar o atendimento e triagem das situações de emergência médica e assegurar a operacionalidade de diversos meios do instituto. A realidade é que, neste momento, o tempo de espera para doentes urgentes ultrapassava, às 16H00 de segunda, dia 12 de Agosto 2024, as duas horas nos Hospitais da Universidade de Coimbra, com uma com uma lista de espera de 11 pessoas. Existiam ainda cinco doentes menos urgentes (pulseira verde), com um tempo de espera médio de 5 horas e 26 minutos. Segundo dados da aplicação MyCHUC, consultados pelo Diário As Beiras, o tempo médio de espera para atendimento para doentes muito urgente (pulseira laranja) era de 59 minutos.

A realidade é mais complexa se formos a ver o excesso de horas dos médicos internos onde a grande maioria dos internos trabalha no serviço de urgência aos fins de semana e feriados, abdicando muitas vezes do tempo de folga a que têm direito legalmente para garantir o bom funcionamento do departamento ao qual pertencem. Contrariando a opinião pública de que os médicos ganham bem para o trabalho que fazem.

Este estudo demonstra que numa média de dois dias de descanso por mês, correspondendo a cerca de 192 horas por ano. O estudo salienta que os jovens médicos que trabalham nas urgências realizam 432 horas extraordinárias não remuneradas anualmente (240 horas extras somadas às 24 folgas não gozadas), o que corresponde a mais de dois meses e meio de horas extras não pagas por ano.

Os enfermeiros também continuam a trabalhar em péssimas condições laborais. Aumentando a “doença” no sistema de saúde. Um exemplo crasso foi o que se passou com a Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra de querer impor horário extraordinário aos enfermeiros para abrir uma nova resposta à doença aguda na cidade segundo denúncia do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

A partir de 7 de Setembro, aquela unidade pretende abrir um Serviço de Atendimento Complementar (SAC) no Centro de Saúde Fernão de Magalhães, para dar resposta à doença aguda em Coimbra, com funcionamento aos fins de semana, feriados e tolerância de ponto, das 10H00 às 18H00.
Segundo esta entidade sindical: ” a administração da ULS pretende impor, de forma unilateral, que o atendimento seja feito por todos os enfermeiros das Unidades Funcionais, Unidades de Saúde Familiar (USF) e Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de todos os Centros de Saúde da cidade, em trabalho extraordinário”, apontou o sindicato, em comunicado.

O SEP considerou que “as equipas de enfermagem das unidades funcionais da cidade de Coimbra estão, tal como todas as outras a nível nacional, a trabalhar nos limites máximos, tendo em conta o número de enfermeiros necessários para a prestação de cuidados de enfermagem com qualidade e em segurança”.

Situações de exaustão ou ‘burnout’ começam a fazer-se sentir em todos os profissionais de saúde, que até ao momento tentam por esforço pessoal assegurar o atendimento dos pacientes, mas a “doença” continuada do SNS e a falta de “tratamento” à vista está a piorar a situação de saúde em Portugal.

FG