SERENATA SÓ HÁ UMA

SERENATA SO HA UMA1

 

A Serenata Monumental realizada desde 1949 na entrada principal do monumento da Sé Velha (ou Catedral de Santa Maria em Coimbra invocando o nascer de Portugal) e que está descrito nos termos de aprovação da inscrição como património mundial da UNESCO em Coimbra (descrita na componente imaterial) está prestes a mudar de sítio por imposição das autoridades de Coimbra.

O Ponney faz notar que mais do que uma discussão do local, onde se realiza a Serenata de Coimbra, a questão está também a ser colocada, pela discussão pública, como um certo “abuso de poder pelas autoridades”. Será verdade que está a haver um abuso de poder por parte das autoridades?

Cada leitor terá que julgar por si em nome da liberdade de expressão e de opinião.

O argumento invocado, pelas autoridades, para mudar de local é a exigência de segurança que não se colocava desde 1949 até 2020, ano em que foi impedida de ser realizada na Sé Velha primeiro pela razão da pandemia e mais tarde pelas obras realizadas naquele espaço. A pandemia e as obras foram as razões anteriormente invocadas e deixaram ter validade. A pandemia foi controlada e as obras terminaram.

Atualmente é a questão da segurança numa alteração de razões que impedem a realização da Serenata Monumental na Sé Velha. O que desde logo é uma falta pelo não cumprimento com o que está descrito no site da Câmara Municipal de Coimbra como Património Mundial da Humanidade num compromisso com a UNESCO que no seu vigésimo primeiro ponto está claro onde é realizada a Serenata Monumental.

Transcrevemos este 21º ponto do compromisso com a UNESCO: «Nas festas e tradições Académicas, a Sé Velha é símbolo de um dos momentos mais importantes no percurso de qualquer estudante de Coimbra. É na escadaria desta igreja que se realiza, todos os anos, a emblemática serenata monumental que marca o início da Queima das Fitas. Nessa noite, ao soarem as 12 badaladas, os estudantes, trajados, alinham num coro de silêncio para escutar o Fado. Para uns, a primeira vez que trajam de negro, marca o início de uma longa caminhada; para outros é hora da despedida e de levar com eles todas as vivências e aprendizagens que a cidade lhes proporcionou.»

Neste momento estão a ser invocadas as normas de segurança pelas autoridades para que não se cumpra este compromisso com a UNESCO e que figura na própria informação que consta no site da Câmara Municipal de Coimbra. Abriu-se a possibilidade de se mudar a Serenata Monumental para a escadaria da Sé Nova e nesta já as autoridades consideram cumprindo as normas de segurança.

A verdade é que quem conhece o espaço da envolvente da Sé Nova, onde uma enorme escadaria a descer, lateral à entrada da igreja e em frente ao Museu Nacional Machado de Castro, tem igual, ou maior, insegurança do que a da Sé Velha. Mas independentemente de maior ou menor insegurança a verdade é que qualquer espaço pode ter a segurança que as autoridades entenderem. Basta para isso criá-las.

A verdade é que esta questão levou a uma certa divisão entre a Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF) que entendeu mudar a Serenata Monumental para a Sé Nova e a Secção de Fados da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC). A SF/AAC entende que esta mudança de espaço (que viola o compromisso com a UNESCO) é uma maneira de “desvirtuar e de desfazer uma era que marca a tradição académica de Coimbra”. Por outro lado a COQF considera que «dado o curto espaço de tempo, não foi possível à COQF, nem às autoridades policiais, assegurar as exigências logísticas, de recursos e materiais inerentes à realização do mesmo no espaço Sé Velha, nos moldes que permitam parecer positivo e a sua autorização, conforme exigido por lei.»

O que é estranho dado que findas as obras e a pandemia não era surpresa que a serenata regressasse para o local estipulado há 79 anos. Nem há razão para se invocar a falta de tempo para “assegurar as exigências logísticas, de recursos e materiais inerentes à realização do mesmo no espaço Sé Velha, nos moldes que permitam parecer positivo e a sua autorização, conforme exigido por lei.” A não ser que a, alegada, intenção era a de que a Serenata deixasse de ser realizada naquele espaço. Talvez para não estragarem as obras realizadas na Sé Velha?

A razão não sabemos. O que é claro é que a COQF mandou comunicado a informar que, este ano, não vai haver Serenata Monumental. Realçando a importância de não se criarem divisões na academia, na medida em “continuam todos a trabalhar no sentido de devolver a Serenata ao seu sítio tradicional, assegurando todas as condições de segurança que permitam a emissão de autorização por parte das entidades com a prerrogativa legal para o fazer.”

A verdade é que se, a pouco-e-pouco, forem retirados direitos de liberdade, chega a uma determinada altura que esquecemos que temos o direito da Liberdade.

Já no fim desta edição soubemos que os estudantes mostraram união e fizeram a Serenata Monumental nas escadas da Sé Velha. Mesmo contrariando a putativa lei de uma pseudo segurança que vai amordaçando quem PEDE A PALAVRA!

JAG