“Tecer o futuro com os fios do passado”
Li esta frase recentemente, procurei mais e vi-a ser utilizada em diversos cenários.
Frase bonita, paradigmática, cheia de simbolismo. Frase que se adapta a tanta coisa. Frase que se adapta à vida de todos nós, todos temos um passado e é a ele que vamos buscar o fio para tecer o futuro. Frase que se adapta também a Coimbra, à Académica, à Universidade, etc. Devemos sempre partir do que está para trás para projetar o futuro, para exemplo de como seguir ou de como não o fazer. Aprendemos pelo erro e pelo acerto. Se deu certo há que repetir em grande parte a receita que levou ao sucesso. Se deixou de bater certo há que pegar nesse fio do passado e tecer o futuro de outra forma, até mudando o fio.
Coimbra tem fio que chega do passado e “dá pano para mangas”. Dá ou daria. Tanto e tão bom fio devia obrigar-nos a tecer melhor futuro. Devia mas não obriga, devia mas não tem obrigado, devia mas temos sido maus tecelões. Neste caso, o fio do passado é bom, vem da nossa excelente Universidade centenária, vem de instituições de saúde de excelência, vem de habitantes com nível cultural acima da média fruto dos serviços na cidade instalados. Cidade do conhecimento, esse fio que nos obrigaria a tecer melhor futuro. Infelizmente medíocrestecelões têm feito tecido fraco do forte fio. E o tecido apresentado vai desbotando de côr, vai rasgando pelo fraco ponto, vai esburacando por mau entrelaçar. Depois de tecido, este futuro não tem sequer resistido às traças, que esburacam o mesmo tornando-o mais frágil, expondo a sua fraqueza, tornando-o ineficaz no seu propósito principal. E tal como a mãe fazia o enxoval para a filha que o teria para sua futura casa, também nós deveríamos ter entregado aos nossos filhos um futuro de qualidade, tecido com o fio superior que trazíamos do passado. Mas não, vamos entregar aos nossos descendentes, aos filhos de Coimbra uma cidade mal tecida, com, ainda, bom fio mas mau tecelão.
Há que continuar a usar o bom fio do passado mas há que exigir mais ao tecelão. Há que controlar o tecelão para que não aldrabe o ponto, há que mostrar outras formas de tecer ao teimoso tecelão para que o futuro tecido seja de excelência. Sim porque para medíocre já basta assim. Afastemos as traças, não com naftalina que o futuro não pode começar logo a cheirar mal, afastemos as traças arejando o tecido, cuidando dele. Tecer o futuro com os fios do passado, nem vejo outro caminho, nem precisamos de outro caminho, é pegar no fio de qualidade, do passado e tecer um grande futuro. Para já com este tecelão vamos propor, ajudar, sugerir, demonstrar, indicar, assessorar, emendar, aplaudir, incentivar, criticar, construir. Se ainda assim o tecido do futuro não tiver a qualidade que o fio do passado justifica, então que fazer com o tecelão?
Parafraseando Humberto Delgado, “obviamente, demiti-lo”!
Rui Rodrigues Coimbra
Imagem - Liane Castro de Araújo, in Tecendo Sentidos: net