Tragédia

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No anoitecer do dia 06 de Julho de 1938, a Praça da República, em Coimbra, foi o palco de uma das maiores tragédias da história da cidade. Integrado no programa das Festas da Rainha Santa desse ano constava o simulacro de um fogo, tendo em vista demonstrar a perícia dos bombeiros. Assim, construiu-se uma casa de madeira, na Praça da República, composta de três andares, mais rés-do-chão.

 

A Praça encheu-se de gente para assistir à exibição. Às 21h40 lançou-se fogo ao prédio com um molho de lenha embebido em petróleo, estando no seu interior 13 pessoas, pertencentes aos bombeiros e pessoal dos serviços de limpeza camarários.

 

Ao contrário do esperado, a situação descontrolou-se: o fogo alastrou rapidamente, o pânico instalou-se, ouviam-se gritos dos que estavam no interior da estrutura pedindo socorro. Quando os bombeiros finalmente chegaram pouco havia a fazer, pois a maior parte das pessoas havia-se atirado do cimo da estrutura (cerca de 17 metros de altura), morrendo 11 na queda e dois carbonizados no seu interior.

 

Na edição de “O Despertar” de 09/07 seria publicada a relação das vítimas:

Manuel Antunes Trindade (18 anos, do Golpe – S. Paulo de Frades, empregado na Abegoaria Municipal); Artur Pedro (25 anos, empregado na Abegoaria e residente nos Palheiros); José Maria da Costa (19 anos, bombeiro auxiliar e residente no Alto de Santa Clara); José dos Santos Ferraz (16 anos, pintor, residente na rua do Telégrafo, Olivais); Luciano Fernandes de Almeida (24 anos, bombeiro e residente na Casa Branca – Calhabé); Manuel Francisco Várzeas (24 anos, residente no Dianteiro e empregado na Abegoaria); António Martins Barata (22 anos, serralheiro, bombeiro praticante); Silvino Amaro (19 anos, empregado da Abegoria e residente no Zôrro); José Abrunhosa (12 anos, filho de um bombeiro e residente no Arco do Bispo); Daniel Rôcho dos Reis (19 anos, empregado da Abegoaria, residente no Carvalhal de Ceira); Carlos de Oliveira (18 anos, filho de bombeiro); António dos Santos Largueza (18 anos, empregado na Abegoaria, residente no Carvalhal de Ceira); Albino Baptista (29 anos, empregado na Abegoaria e residente nos Palheiros).

 

A tragédia motivou uma reunião extraordinária da Câmara Municipal de Coimbra, a 09/07, tomando-se várias decisões: suspensão do exercício de funções do Inspector dos Incêndios e do Comandante Geral dos Bombeiros; dar por terminadas as festas da cidade (que foram adiadas para os dias 21-26); fazer o funeral das vítimas a expensas da Câmara e prestar amparo às famílias.

 

Coimbra cobria-se de luto e, durante anos, a tragédia manteve-se bem viva nas gerações que a presenciaram e sentiram.

João Pinho

O5-07-2017