UMA NO CRAVO OUTRA NA FERRADURA DA REITORIA DA UC
O Ponney no dia 9 de Maio , deste ano, deu a palavra à Comissão de Trabalhadores da Universidade de Coimbra (CTUC), que pediu a palavra, fazendo recordar o famoso acontecimento académico em Abril de 1969 “peço a palavra” de Alberto Martins, para expor a precariedade dos investigadores da UC, com graves problemas que são transversais aos investigadores nacionais. Não tendo eco por parte de outros meios de comunicação social de Coimbra.
Porém sobre os 768 investigadores que viram os seus projetos aprovados no concurso de Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (IC&DT) em Todos os Domínios Científicos 2023 da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), 111 foram de investigadores de Coimbra - já mereceu a atenção de todos os órgãos de comunicação social. O que não deixa de ser interessante ser observado.
Pois esta precariedade, que grassa entre os investigadores, coloca o desenvolvimento da ciência e da tecnologia portuguesa em risco de empobrecimento, é mais nefasta se Coimbra não tomar medidas atempadas. Pois a pouco e pouco vai perdendo os 111 investigadores que se candidatam aos concursos promovidos pela FCT.
Os resultados, que tanto orgulham Coimbra, saíram na segunda-feira,desta semana, mais de um ano depois de as candidaturas terem terminado e, entre os 111 investigadores de Coimbra, a esmagadora maioria é da Universidade de Coimbra (UC) ou de centros de investigação desta instituição de ensino superior. Apesar dos investigadores precários continuarem a não serem ouvidos, nem a terem a atenção das reitorias, nem dos diversos governos.
A Universidade de Coimbra vai ter 106 projetos aprovados, com investigadores a receber financiamento para desenvolver a Ciência. Ciência que muitas vezes se transforma em tecnologia aplicada. Desde as áreas lúdicas até a áreas na saúde ou na sustentabilidade. Por isso de extrema importância para os grandes desafios mundiais. Porém e apesar das excelentes avaliações da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para com as unidades de investigação da UC, as condições laborais dos investigadores científicos em Portugal continuam precárias.
Apesar dos “343 investigadores precários” na Universidade de Coimbra, segundo a Comissão de Trabalhadores da UC, o reitor da UC, Amílcar Falcão, mostrou-se satisfeito com os resultados obtidos no concurso feito pelos investigadores.
Disse o reitor: «O balanço da participação da UC é muito positivo (106 projetos aprovados), sendo a nossa taxa de sucesso (37,1%) superior à média nacional, que ficou nos 30,2% (768 projetos aprovados entre 2.551 submetidos)», disse Amílcar Falcão, sem se referir à precariedade dos 343 investigadores científicos.
Preferindo falar da falta de financiamento onde o apoio é sempre preferencial para os docentes universitários. Por isso é que para o reitor, este é mais um sinal de que a instituição merecia de mais apoio do Orçamento de Estado. “Na UC recebemos uma quota de 13,8% do total neste concurso, cerca de 70% acima daquilo que nos é atribuído pelo 0rçamento de Estado. Por outras palavras, se a componente da investigação fosse valorizada para o financiamento das Instituições de Ensino Superior, à UC deveria caber uma fatia de Orçamento de Estado significativamente superior à que lhe é atribuída.
Já os investigadores pertencentes à Comissão de Trabalhadores da Universidade de Coimbra (CTUC) dizem que «o problema não é só do financiamento. É também um problema de deficiente gestão. Pois cada projeto aprovado pela FCT, formando uma bolsa que suporta grande parte dos investigadores precários, tem, o investigador, de entregar uma parte desse valor para a universidade. São os “overheads” entregues às universidades, vindos da verba para o projeto de investigação científica. Mas também todo o trabalho, que os investigadores produzem nas universidades não remunerado. Esse capital está a ser bem administrado?»
António Trindade, preidente da Comissão de Trabalhadores da UC, lembrou que a luta dos investigadores precários é antiga, mas que a CTUC, irá passo-a-passo para que a UC seja o exemplo de uma justa e boa prática para com os investigadores científicos que vivem em precariedade. A situação de debilidade laboral dos investigadores assemelha-se a uma “bomba-relógio”(segundo imagem de António Trindade) que anda a levar muitos investigadores, com grande experiência, para o desemprego. Considerando o coordenador da CTUC, António Trindade, que “afeta todas as faculdades com especial preocupação as faculdades de ciências. Dos 390 investigadores científicos na UC, apenas 47 é que têm contrato de trabalho”.
«Claro que este é um problema a nível nacional que vai afetando a ciência e a tecnologia em Portugal» dizia António Trindade. Explicando que “o programa FCT-Tenure teve muito boa intenção, mas não resolve a questão da precariedade dos investigadores, apenas adiando a resolução do problema. Pois o financiamento é feito de forma parcial e por apenas um tempo limitado. Com ou sem renovação, espera-se sempre que a “bomba rebente”. Mas e depois?» pergunta António Trindade. Reforçando a ideia que os contratos «são apenas “bombas-relógios” que podem ser renovados ou rebentam no final dos contratos.»
Este desequilíbrio entre a publicidade e a entrega de dinheiro à UC pelos investigadores e a precariedade das pessoas que fazem investigação que não são docentes, não têm maneira de ser resolvido pelos últimos reitores.
JAG
06-06-205