Editorial 08/09/2023

Editorial08 09 23

COIMBRA A ALMA MATER PORTUGUESA

Confesso que não sei se é coisa normal e habitual que vos aconteça ser-se aconselhado por quem está presente, mas não está vivo.
Apesar desta questão ser misteriosa, nada tem de incompressível pela razão se vos desvendar que foi Eça de Queirós, por intermédio do livro “Notas Contemporâneas”, que me aconselhou a voltar a Coimbra pelos seus olhos.

Diz Eça que na altura “Coimbra vivia então numa grande actividade, ou antes num grande tumulto mental”. Referindo-se a Antero de Quental que o fez acordar para uma outra visão que ultrapassa a retórica dos latins, o literatismo da frase dobrada, ou até como apenas desenvolvimento do espírito crítico, Coimbra via-se no meio de um “protesto moral, de um esforço de consciência e de liberdade contra a altiva troça ao déspota do purismo e do léxico.”

Talvez, hoje, depois da nódoa salazarista nos nossos espíritos, consideraríamos esta troça ao déspota como”discursos que lesam a pátria” ou, mais atual, como “discursos de ódio” - apenas por quem é ou defende déspotas, mas esses não se revêm em Coimbra. Na Coimbra emotiva da margem esquerda e racional na margem direita como cérebro de Portugal.

Ora é esta a verdadeira Coimbra que se deseja acordada. A que não podem faltar os berros d’O Ponney, ou se necessário os coices do Movimento de Humor que bem sabe a diferença entre crítica e discursos de ódio apenas próprios de mentes tacanhas fechados em salazarentos discursos.

Imbuídos neste espírito de troça ao déspota, começamos com o artigo «POLÍTICAS CORAJOSAS PARA O ENSINO SUPERIOR» onde se apontam soluções para os problemas transversais a Portugal. Muitas destas ideias deveriam fazer refletir cada vez mais pessoas.

Das soluções, passamos para o alerta complexo e que passa despercebido à maioria dos portugueses no artigo «PRECARIEDADE NAS UNIVERSIDADES REDUZ SENTIDO DEMOCRÁTICO NACIONAL». Se nos querem convencer que a morte da democracia tem raiz em alguns partidos extremistas a realidade é que está a minar as escolas superiores por dentro e que formam os dirigentes técnicos e políticos . por isso o perigo!

No artigo «APOIOS A ESTUDANTES NECESSITADOS OU DEMAGOGIA?» apontamos o discurso reduzido à retórica para caçar voto por parte do governo nacional. Desmontar o discurso demagógico deveria ser prática habitual na nossa Lusa Atenas para defesa da Democracia.

Seguindo a paulada na demagogia desmontamos também o discurso da senhora ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, que, atrapalhada para gastar os fundos europeus, nos quer convencer que o desbaratar de verbas é solução política e que pode ler no artigo «CAMAS DEMAGÓGICAS NOS APOIOS SOCIAIS!». Irrealista, demagógico e sem serventia de maior.

Terminamos os destaques como começámos usando a frase do mestre Eça de Queirós que nos lembra que devemos continuar o “protesto moral, de um esforço de consciência e de liberdade contra a altiva troça ao déspota do purismo e do léxico.” e desta vez tem a forma de uma «CARTA ABERTA AO EXECUTIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA» escrito por um motorista dos transportes municipais, que outrora acreditou no candidato, mas que, hoje, se desilude com a ação do executivo por piorar as condições laborais.

Nos artigos importantes devemos referir a visão da nossa mais nova colaboradora que às portas de entrar na Universidade (pela porta da Faculdade de Letras) revela a visão dos caloiros em relação à Praxe. Com muito receio e algumas dúvidas.

O mais curioso é que, sem combinarem, o Dux Veteranorum, e meu estimado amigo, Matias Correia, escreveu um soberbo artigo de opinião onde fala exatamente na praxe, desmontando as crenças erradas e sobretudo desmontando a ideia que muita gente tem do Dux em Coimbra. Uma artigo indispensável para quem gosta de Coimbra e que se apresenta com o título «DO DOCENDO DISCIMUS» - para quem o latim é igual a chinês afiançamos que no artigo tudo será claramente desembrulhado.

Continuando nos artigos de opinião temos um claro tesouro em texto que me demonstrou absoluta ignorância. Confessei e continuo em penitência por desconhecer uma outra, talvez a mais importante, faceta de Natália Correia como ser de absoluto amor à Gnose! Sempre tive ideia de uma poeta materialista de retórica com imenso literatismo e nada dada a um conhecimento do Todo e Uno e é aqui que entra um grande amigo, por quem tenho enorme estima e consideração, o mestre Eduardo Aroso. O mestre fez a pergunta e o aprendiz continua a procurar resposta - é esse o sentimento que nos fica depois de lermos o artigo - NATÁLIA CORREIA «A ÚLTIMA ATLANTE»

Numa vertente mais cá de baixo temos o artigo de um outro Sancho que não era o escudeiro de D. Quixote, mas de visão atenta e materialista faz a pergunta «OPTA PELA CRÍTICA OU PELA FUGA?» e que nos indica...terá que ler o texto!

Depois fechamos com o costumado artigo de Adriano Ferreira, ilustre conimbricense da margem esquerda do rio, que nos traz um artigo listando os atributos de Anadia para uma consubstanciação na área metropolitana de Coimbra.

Também queremos enviar uma sugestão para que a Câmara Municipal de Coimbra volte a reeditar o Livro «COIMBRA ARTE E HISTÓRIA» escrito pelo Doutor Pedro Dias e que, obviamente, é um livro de excelente consulta.

Fechamos de maneira muito descontraída com uma tira de banda desenhada na secção das CURIOSIDADES onde um gato chamado "TEMPO PARA AMANHÃ" faz das suas.

Despeço-me com o mote dos estudantes que frequentaram a Coimbra acordada do século XIX:
« A galope, a galope, ó Fantasia,
Plantemos uma tenda em cada estrela!»


José Augusto Gomes
Diretor do jornal O Ponney