Editorial 11-09-2021
A vida depois da Vida
Aconteceu por aí, os dias começavam a ser maiores, as flores despertavam o sol e a brisa era agradável. Ninguém duvidava das felicidades que pairavam por ali.
Não sei se deva dizer que me recordava daquele momento em que me sentia sair de um lugar qualquer, assim um pouco misterioso para quem nunca saiu de si. O certo é que todos apreciavam o estrangeiro acabado de chegar. Nem todos! Mas que importância tinha?
Os relógios começavam a ignorar o tempo e aquela chegada tão esperada, que fora inesperada um dia, transformou o mundo num verdadeiro rebuliço. Longe do caos o tempo dava lugar a outros tempos. Ninguém se apercebia de nada, somente a indiferença de existir.
Não gostava de me gabar, mas confessava a toda a gente que me sentia vaidoso e importante. Ora, não é habitual ter uma vida depois da Vida!
Depois de páginas e páginas devoradas, solidamente, e outras vezes tremulamente, sonhava com as vidas que já tinha tido. Sentia um estranho arrepio enquanto deslizava a minha caneta pelas minhas mãos. Tinha-me esquecido de trazer as minhas confidentes pálidas e ávidas de tinta. A caixinha estava repleta e tinha medo do esquecimento.
Nem todas as vidas eram atribuladas de ideias e de ideologias, precisava de estar sempre atento e escutava cada murmurinho procurado num silêncio inatingível.
Continuava a apreciar mais uma vida depois da Vida, e outra, e outra, e outra…
Autoria de Sofia Geirinhas
A poetisa de pé-descalço
Não respeita o AO90
Cébazat, dia 10 de Setembro de 2021
Imagem retirada da net