Editorial 27/06/2025

EDITORIAL 27 06 25

O CÉU E O INFERNO

Um dia de manhã entrou no meu espaço de trabalho um senhor conhecido em Coimbra. Dessas pessoas que têm tão bom coração que são desconsiderados por quem não o tem, para me fazer duas perguntas.

Para que se perceba o contexto da minha história devo dizer que esse senhor era mais parecido com um gigante do que com um ser humano, que se aproxima mais dos gigantes desenhados nos livros infantis do que das pessoas que se cruzam connosco nas ruas. Pois entrou e perguntou na sua voz de gigante de livro infantil:
«- Como tu gostas de ler e desenhas...sabes se existe céu e inferno?»

É necessário estarmos dentro do contexto e depararmos-nos com o seu aspeto para percebermos que não devemos ficar surpreendidos com a pergunta:
«- Sim! Eu acredito que existe o céu e o inferno.»

Os olhitos pequeninos do senhor gigante brilharam o que indicava que tinha respondido certo. Mas outra pergunta vinha no seguimento do exame que me resolveu fazer.
«- Então e o que é o ‘céu’ e o ‘inferno’?»

Façam favor de não se rirem pela minha aflição. Pois estava num exame feito pelo senhor gigante que se tinha dado ao trabalho de sair do seu livro infantil para me fazer o exame do outro coração que não é músculo.

«- Para mim... o inferno é quando nós nos irritamos com os outros e connosco. Já o céu é quando perdoamos a nós mesmos e aos outros.»

O senhor gigante sorriu. Eu tinha passado no exame! Aproximou a mão do seu grande rosto e disse-me adeus como fazem as crianças abanado a palma virada para nós. Saiu como entrou.

Nunca mais esqueci este exame. Guardo-o no coração mais eterno, pois tinha acabado de passar para o que me tinha preparado. Tantos livros que leio, que são poucos pela minha sede de conhecimento e que como água seguem caminhos diferentes. Uns tipos de conhecimento desaguam no pensamento dedutivo, outra “água” entra para as coisas técnicas, mas o mais importante conhecimento, para mim, vêm em redações estranhas que me fazem sentido emocional sem que saiba responder porque razão me faz sentido. Esse eu guardo no meu coração eterno. Tudo isto eu fecho na verdadeira Cultura que quanto mais desprezada, pela maioria dos políticos e decisores, mais valiosa é.

Infelizmente falta coração à maioria de quem se propõe ser eleito. Infelizmente para o nosso país e para o mundo. Salva-nos as muitas culturas, que falam muitas línguas portuguesas. Pois sabem da importância do coração eterno e sabem que um dia, quando cada um abandonar o seu corpo material, será pesado o seu coração em contrabalanço com uma pena - como bem ilustraram os antigos egípcios.

Pois é disso que trata O Ponney esta semana. Dessa coisa que é a vasta e larga caixa que é a Cultura. Guardada junto ao caixote do lixo da maioria dos eleitos.

Abrimos com o primeiro artigo escrito para O Ponney por Daniela Sousa, com o título «VOZES SALATINAS: A MEMÓRIA RESISTENTE DE UM POVO ESQUECIDO NO CORAÇÃO DE COIMBRA» fala-nos de coração que é o mesmo que dizer de uma parte da Cultura de Coimbra.

Depois denunciamos os «MISTERIOSOS CONTRATOS PROVINCIANOS» feitos em Coimbra. Uma história engraçada, e quase hilariante, pelo desmascarar do fingido saber.

Coimbra no seu saber universalista está a provar «O INSUSTENTÁVEL PESO DO ABANDONO», talvez tenhamos que recuar para ganharmos balanço para o salto.

Como é que tanta gente com poder arranca o seu coração mais eterno? E isto bem presente num artigo jornalístico sobre como é que a pobreza pode ser um mercado tão apetecível. O artigo tem o título «POBREZA É FONTE DE MERCADO» para lermos e pensarmos.

E terminamos os artigos de destaque com esta ideia de comparar a guerra, ou o inferno, com a cultura, ou o céu. Qual deverá ser a prioridade dos governos?
Mas será assim tão evidente a escolha? Importante que se leia o artigo: «APERTEM OS CINTOS...CULTURA OU DEFESA?». Se o montante do PIB é só um, quais os critérios para se pagar mais inferno?

Não posso deixar de publicar os artigos da nossa recente amiga de O Ponney, Maria Júlia, desta vez vem falar-nos do «PROCESSO EM ANÁLISE» que é bem mais do que se pode julgar. Com a sua escrita muito própria, Júlia, escreve para outro entendimento.

O artigo da nossa amiga Rosário Portugal traz-nos o que é «FAZER POUCO DE QUEM TRABALHA» na dureza da realidade com testemunhos vivos.
José Vieira, prezado jornalista, traz-nos no seu artigo de opinião: «AINDA VAMOS ASSISTIR AO REGRESSO DAS RÁDIOS PIRATAS E DOS JORNAIS ILEGAIS».
A nossa sempre presente amiga Manuela Jones traz-nos uma história misturada com lenda em duas partes. Esta é a primeira e conta o que aconteceu numa «NOITE DE INTRIGA NA UNIVERSIDADE: O ROUBO DO BADALO DA CABRA». Para acompanhar na próxima edição de O Ponney.

José Ligeiro traz-nos o seu artigo de opinião dando continuidade à polémica «PORQUE O POVO NÃO ACORDA? - PARTE II». Terminamos os artigos de opinião com mais um texto de opinião de Adriano Ferreira, que dá continuidade à intenção do desenvolvimento económico de Coimbra.

Por fim destaco a tira de banda desenhada de Abel, a abelhinha, que nos traz essa coisa dos modelos. Um momento de descontração.

Desejo-vos um excelente fim-de-semana cheio de sol.
José Augusto Gomes
Diretor do jornal O Ponney