CASO EMBARAÇOSO PARA OS SERVIÇOS SECRETOS DINAMARQUESES

DINAMARCA1

 

Como dizia Shakespeare, pelo seu personagem Hamlet, «Há algo de podre no reino da Dinamarca» o que, de certa maneira, bem ilustra este embaraço que apanhou alguns políticos dinamarqueses. Ficando confirmado que os embaraços políticos não são exclusivos do países republicanos nem tão pouco exclusivos aos países do sul da Europa.

O caso iniciou com a condenação de Ahmed Samsam, em 2018, a oito anos de prisão. Capturado, julgado e preso em Espanha por ser considerado um terrorista inserido no grupo jihadista Estado Islâmico (EI). O embaraço começou quando Ahmed afirmou que trabalhou para os serviços secretos dinamarqueses (PET) e depois para a inteligência militar dinamarquesa (FE). Detalhando que foi colocado na Síria, entre 2013 e 2014, com a missão de identificar e denunciar combatentes jihadistas em diversos países. Em 2017 foi ameaçado por criminosos em Copenhaga num caso de acerto de contas, que aparentemente nada tinha a ver com as suas viagens à Síria e por isso a fuga para Espanha onde foi identificado e capturado pela polícia espanhola.

Durante o julgamento em Espanha e apesar dos apelos, a Dinamarca não se pronunciou. “O meu cliente, Ahmed Samsam, quer que o tribunal reconheça que ele trabalhou como agente dos serviços de inteligência dinamarqueses”, explicou o seu advogado, Erbil Kaya. “A questão é se os serviços secretos deveriam ser forçados a reconhecer esta cooperação”, disse Kaya ao tribunal no início do julgamento.

Em 2020 é repatriado para a Dinamarca onde cumpre a pena de prisão, que entretanto foi reduzida de 8 para seis anos.
Durante este tempo, Ahmed Samsam, acabou por processar as agências de espionagem da Dinamarca: o serviço secreto dinamarquês PET e o serviço de inteligência militar FE insistiram que não podem confirmar as identidades dos seus informantes.

“Fazer isso prejudicaria a sua capacidade de falar com as fontes, de protegê-las e de prevenir o terrorismo”, disse o advogado de defesa, Peter Biering, ao tribunal.

"É uma questão de segurança nacional."- reforçou o advogado.

Ahmed continua a afirmar que foi enviado para zonas de guerra em diversas ocasiões com dinheiro e equipamento fornecido pela PET e mais tarde pela FE.

De acordo com alguns meios de comunicação dinamarquesa, que investigaram este processo, acabaram por confirmar que Ahmed tinha sido pago pelas secretas dinamarquesas, citando testemunhas anónimas e transferências de dinheiro para Samsam.

Os jornalistas que fizeram investigação vão ser chamados como testemunhas no julgamento.
"A maioria das pessoas na Dinamarca, que acompanharam o caso, acreditam que Samsam foi enviado para a Síria pelos serviços de segurança dinamarqueses" - afirmou Lasse Lund Madsen, Professor de Direito da Universidade de Aarhus.

"Eu pessoalmente confirmei isso por fontes do mundo da inteligência."- esclareceu o Professor, acrescentando que “Não é certo que Samsam ganhe o caso, já que os serviços de inteligência não são obrigados por lei a confirmar informações confidenciais”, disse o professor de direito.

O Parlamento dinamarquês decidiu em Fevereiro deste ano que a sua comissão de investigação verificasse as alegações de Samsam, embora o executivo do governo de Esquerda se tivesse oposto a um inquérito.

Este caso vai está programado para terminar em 8 de Setembro deste ano.

FG