ENTREVISTA COM O GRANDE COMUNICADOR NELSON MARQUES
O Ponney entrevistou o empresário e grande comunicador brasileiro Nelson Marques que tem experiência de vida um pouco pelo mundo. Com a sua vida profissional e pessoal centrada na grande metrópole do interior, Campinas, que é a maior cidade do interior do Brasil pertencente ao Estado de São Paulo e cidade do seu coração, já fez a sua ponte entre o Brasil e Portugal, Chegando a viver na cidade de Coimbra.
Formado em Direito, inaugurou a fábrica MayOrtiz; deu voz a diversos programas de rádio e televisão que conquistaram o público no Brasil; hoje detém a empresa Marupá - empresa de Marketing, publicidade e eventos; e é criador do programa «CÁ ENTRE NÓS COM NELSON MARQUES» onde o critério da escolha dos convidados é de “gente que sabe fazer bem”.
Ora é essa a experiência que nos traz bem como de evidenciar o verdadeiro papel de um qualquer comunicador.
O Ponney (OP) - Nelson Marques, meu amigo Nelsinho, o que é que o anda a apaixonar ultimamente?
Nelson Marques (NM) - Olha, eu tenho em mãos um convite da TV Marília Canal Quatro para um programa de entrevistas lá na cidade de Marília com mais de 300 000 habitantes e que é a cidade onde nasci (Marília é um município brasileiro do estado de São Paulo, na região Centro-Oeste Paulista). Eu fiquei muito contente e um detalhe: eu posso monetizar o programa com publicidade.
Então eu vou pegar nas entrevistas que já tenho no meu canal do YouTube, “Cá Entre Nós com Nelson Marques”, que são mais de 190 entrevistas, que já tenho em carteira, e vou pinçar algumas destas entrevistas para adaptar ao formato da TV por cabo. Vou fazer o investimento para colocar em publicidade o programa que vai passar na TV. Por exemplo em outdoors espalhados pela cidade. Também já fiz os separadores e enviei para o cara lá (mostrou os separadores).
OP- Excelentes! Estão mesmo muito bons e provam bem esta sua paixão.
NM- É! O sistema de TV cabo vai passar à quinta-feira, mas tem reprisas. Pelas minhas contas são 32 inserções e tenho mais inserções oferecidas o que me dá no total 40 inserções. É que, por exemplo, se pedir 1000 reais (que com o cambio da entrevista dá cerca de 163, 30 euros) a um potencial investidor esse valor é dividido pelas inserções o que não é nada comparado com a publicidade que o público vai ver.
OP - A sua experiência é bastante grande como empresário. Por favor pode-nos contar um pouco mais sobre o seu percurso de vida?
NM - Pois é, experiência de empresa eu tenho. Tive uma empresa que tinha mais de 54 funcionários. Geri essa fábrica durante 6 anos o que me deu um conhecimento muito grande. Mas também conheço diversos mercados de negócios pelo meu percusrso de comunicador.
OP - Mas a atividade de Publicidade e Propaganda oferece essa possibilidade de conhecer diversos mercados. Eu e o Nelson conhecemos bem a área de Propaganda e Publicidade que nos vai desde a massa do esparguete até novas tecnologias e isso leva-nos a um maior entendimento desses mercados tão diferentes. Com pessoas tão diferentes... não é assim?
NM- É mesmo! É uma grande diversidade e eu faço isso com muito prazer. Olha, eu já estou entrevistando muita gente de diversos ambientes. Ainda ontem entrevistei uma menina que é uma grande artista e vai para o ar no último dia de Agosto. Esta menina é uma artista que trabalha em colagens com trabalhos muito legais...muito bom mesmo! Depois vou entrevistar uma pessoa da área tributária, ainda outro rapaz que é fera em odontologia. Olha, esse aparelho que estou usando foi feito por ele. Eu convido para os meus programas gente que sabe fazer bem. Ah! E tem uma “coach” fantástica...
OP - Em que área é que a senhora presta o seu serviço de “coach”?
NM - Dá Coach na parte pessoal e empresarial. Ela foi contratada pelo Instituto Agronómico de Campinas e ganhou um prémio. Eu convidei-a e ela mostrou total interesse em falar no meu programa. Então...eu já tenho 3 entrevistas marcadas...com você são 4... tenho entrevistas até Setembro deste ano e nós estamos no fim de Julho e inicio de Agosto. Está a ver? Tenho tido imensa gente, com muita qualidade, que dá entrevista, graças a Deus. Está fácil está gostoso...”modéstia as favas” eu faço um trabalho sério. Sou uma pessoa muito criteriosa, muito chata, não admito que saia coisa errada. Quando acontece, ou emendo na hora por ser coisa pequena ou volto a gravar de novo. Uso muito tempo para colocar as coisas certas e esse trabalho não se vê, a não ser no final. Por isso é que tenho orgulho do meu trabalho.
OP. Muito bem. Nas suas entrevistas tem muita gente do Brasil e tem muita gente de Portugal e até teve a viver em Coimbra durante 6 meses...é natural a comparação entre Portugal e o Brasil. O que é que achou?
NM - Bom, o que mais grita...o que a gente mais sente de diferente...primeiro que é a cultura. O que você faz no Brasil, você faz em Portugal, só que o “modus operandis”é outro, porque tem pessoas diferentes. Não estou falando que é melhor ou pior, mas você tem a maneira de tratar diferente. Então você tem um pouco de restrição e por isso tem que se ir moldando porque você está num outro país diferente. Apesar de serem irmãos são países diferentes. Estamos na casa do outro temos que respeitar - esta é uma regra de ouro. Por isso fiz muitos muitos amigos em Portugal.
OP - Mas em termos de mercados? O Nelson entrevistou responsáveis por grandes caves de vinhos...queijos e até um dos melhores assadores de leitão...
NM - Sim, mas as entrevistas não foram pelo lado comercial. Foram mais como curiosidade, como o cara faz o vinho...por exemplo entrevistei o Luís Pato duas vezes que colocou o Ozono como uma inovação na produção. Algo de uma enorme inovação tecnológica. Como já tinha ido ver o processo, na entrevista fiz perguntas com base nas explicações dele. E ele disse «Pô, Nelson, você prestou muita atenção a toda a explicação que fiz». Claro! Eu faço sempre assim e olha, foi legal e foi com muito prazer que fiz a entrevista.
OP - Mas o português prende-se ás histórias...
NM - Tudo tem História. Por exemplo, a seu convite, provei os pasteis de Tentúgal e isso tem toda uma história das freiras que estendiam a massa no chão do convento. Todo o Portugal tem História para tudo e sempre muitas histórias. Eu acho isso muito bonito! Aprendi a admirar isso. Portugal é um país com muita História e isso é muito legal. O que é normal cada pessoa ter sempre muitas histórias para contar.
OP - Mas o Brasil é mais virado para o Futuro...
NM - O Brasil é americanizado. Só que aqui não agem como os americanos. Deveria agir! Se deixar o celular em cima da mesa, os americanos não pegam. Os americanos dizem que “não é meu, porque tenho que levar isso?!” É inadmissível pegar o que não é seu nos Estados Unidos da América. Aqui no Brasil, nem precisa de deixar na mesa, o “nêgo” te assalta. Mas quando o brasileiro vai para o exterior fica “pianinho”. Por que é que na cidade dele e no país dele não fica “pianinho”? Essa é a minha revolta.
OP - Se me permite, eu não vejo assim. Não acho o Brasil inseguro. Estou em Campinas que é uma metrópole enorme, com muita gente, e mesmo perdendo-me nas ruas, não encontro essa insegurança. Claro que Campinas é uma cidade enorme e tem muita gente, mas não encontrei essa insegurança que o Nelson afirma.
NM - Não, Campinas é a única metrópole que não é capital de Estado. Todas as outras metrópoles são capitais. Campinas é a única que não é capital.
OP - Mas voltando à questão da insegurança...
NM - Você tem que ver que nas estatísticas estão capitais de estado como São Paulo, Rio de Janeiro... o que eleva as estatísticas de assalto e roubo... Mas eu aqui em Campinas, tive assalto na minha fábrica e foi muito violento. Passei um trauma muito grande e foi essa foi a principal razão da venda da minha fábrica. A minha esposa teve dois carros roubados aqui em Campinas. Foi roubo do carro mesmo,não foi furto. Em São Paulo roubaram o carro que era do meu sogro e que, por azar, fui eu que estava conduzindo. Um carro da marca Volvo, novinho, estacionei o carro para visitar a minha avó e 20 minutos depois tinham levado o carro. Bom enfim...eu acho que é uma questão de sorte! O que você não pode é dar mole. Tem que ficar atento e isso é em qualquer local. Mas também é cultural...mudando de assunto: Em Portugal entrevistei o presidente de uma Cooperativa de Queijos da Serra da Estrela. Foi maravilhosa. Ele quis dar a entrevista à meia-noite, hora de Portugal, foi maravilhoso. A cooperativa lá dá selo de qualidade e tudo. Eu tinha ido lá a Linhares da Beira e estava tendo uma festa super-legal, vi lá todos os tipo de queijo diferentes. Estava lá o canal de televisão português, a SIC, e eu estiva assistindo à maneira como faziam a cobertura. Eu adoro televisão e eu conheci o cara lá. O presidente da Cooperativa e fiquei a entender o ranking do queijo, qual é o melhor queijo do mundo. Sabe quem é que ganhou em 2022 esse ranking de queijo mundial? Como o melhor queijo do Mundo?
OP - Serra da Estrela?!
NM - Não! Foi o queijo da Serra da Canastra. Aqui do Brasil. Queijo brasileiro. O segundo lugar foi ocupado pela Grécia. O terceiro foi Portugal e no quarto lugar ficou a França e Portugal ocupou o quinto lugar. Dois países a falar português no Ranking dos 3 melhores. Pois na entrevista ao presidente, eu disse que foi uma surpresa agradável, que Portugal estivesse colocado dois lugares no melhor queijo do mundo, mas o do Brasil ocupou o primeiro lugar (risos).
A minha surpresa é que eu fui conhecer a Serra da Estrela, Linhares da Beira, mas não conheço a Serra da Canastra...dá para crer? Aqui no Brasil e que é do meu país. Mas o presidente da cooperativa respondeu que “os portugueses tinham ensinado os brasileiros a fazerem queijo” (risos) Foi muito legal. Isso é aprendizado. Eu falei para a minha esposa que estou muito feliz. Vou desligando ao que me aborrece. Não mais me concentro no que me aborrece...passa ao lado!
OP - Aprendeu com os portugueses a não ligar a quem o aborrece?
NM - Não, foi com a idade (risos). Olha, o brasileiro acha o português “um bronco” pois diz na cara que não gosta e acho que isso está certo. Mesmo no Brasil temos jeito de falar diferente e cultura diferente...isso também é arte. É um jeito de cada um e daí? Não pode julgar o outro pela imagem.
OP - Em Portugal também tem muitas diferenças e é um país no Brasil.
NM - Sim, não é como eu falo, mas é como é que o outro entende. Cada um interpreta de forma diferente. Tome muito cuidado ao escrever. Se eu disser, oralmente, “vai à merda” você pega leve. Mas se eu escrever isso, tem uma interpretação completamente diferente. Então, se você respeitar a maneira do cara dizer as coisas tudo funciona, mais fácil. Eu não posso gostar de você só porque fala do jeito de Portugal, mas tenho que ter em conta o que você é. Não o jeito de falar nem de onde vem.
OP - Mas há “rótulos”.
NM - Sim, é verdade! Mas temos que “des-rotular”. Tirar rótulos. Nós, os comunicadores, temos que tirar rótulos. É essa a nossa principal função! Mas até a internet, que esperávamos que viesse ajudar a esclarecer, só veio piorar. Olha, eu, quando estive em Portugal, tinha a simpatia dos portugueses, mas um empregado do café era para lá de grosso...olha que até o dono do café, o senhor Celso e o filho, eram caras muito simpáticos. Um dia resolvi ser ainda mais grosso lá com o empregado, mas, depois, fiquei bravo comigo. Ficou na minha cabeça, era contrário à minha personalidade. Até que um dia o sapato da minha esposa estragou. Eu perguntei lá no café do senhor Celso onde podia consertar o sapato e o empregado, que era antipático, um grosso, deu-me indicações: “você passa a Cruz de Celas e lá mais abaixo na rua, encontra um shopping. Desce as escadas e encontra uma loja de uma sapateira” (Nelson imitou na perfeição o português de Portugal). No outro dia fui ao café e agradeci ao empregado mal encarado e ele a partir daí ficou muito simpático. É isso! Ele passou a ser amigo. Esse que me hostilizava, veio-se despedir quando fui regressei ao Brasil. É esse o verdadeiro papel do comunicador. Tirarmos os rótulos e fazer com que o seu lado mais simpático saia para fora.
Tenho excelentes experiências em Portugal. Até com o presidente da junta de Freguesia de Santo António dos Olivais. Fui pedir um documento lá na Freguesia e o presidente chamou-me a mim e à minha esposa. Olha, pensei que havia problema, mas o presidente cumprimentou-nos e era só para nos conhecer. O próprio presidente disse que nos queria conhecer. Isso é demais! Depois, mais tarde, ele reconheceu-me na rua e tratou-me pelo nome “Olha o senhor Nelson!”. Deixei muitos amigos e é esse o papel do comunicador.
Eu conheci Coimbra com uma carga emocional muito grande. Na verdade eu já cantava Coimbra...que conheci a partir do fado de Coimbra, mas o ir visitar o Choupal do fado... ver a cidade, percorrer as ruas...olha, isso é muito emocional. Eu tenho o mapa da cidade de Coimbra na minha cabeça. É um negócio emocional. Se me perguntarem se moraria em Coimbra? Respondo sem hesitar : “Sem esforço nenhum e com muito prazer”. Os comunicadores adaptam-se.
Depois fui visitar uma enorme fábrica onde o dono era brasileiro. Fiz entrevista com o melhor a assar o leitão, o Ricardo Mugasa, muito bom. Vi mais ligações do Brasil com Portugal do que imaginava. Mas temos que respeitar a casa do outro - é essa a maior regra.
OP - Obrigado pelo seu tempo amigo Nelson Marques.
NM - Imagina! Eu é que agradeço amigo Augusto.
AG