MISTÉRIO DOS LIVROS FALSOS NA AMAZON

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A gigante americana,Amazon enfrenta uma onda do que já se chamam “livros falsos” e que são gerados por inteligência artificial.

O processo começou quando um número cada maior número de pseudoautores que publicaram centenas de trabalhos inteiramente produzidos por Inteligência Artificial acabou por se tornar, ao longo dos meses, um fenómeno com uma escala tão grande e descontrolada que a Amazon resolveu tentar contê-lo.

Para limitar os abusos, a multinacional reduziu o número de publicações autorizadas do mesmo autor para três títulos por dia. Este limite, especifica a Amazon, poderá ser sujeito a ajustes posteriores, se necessário.

O curioso é que esta cota é realmente surpreendente, se considerarmos que um escritor, geralmente, precisa de pelo menos um ano para terminar seu manuscrito. Um sinal de que se trata de “livros falsos” gerados pela IA.

A situação agrava-se quando começam a aparecer novas obras de autores de renome literário já falecidos como George Orwell. Algumas das próprias palavras do escritor estão a ser adulteradas na vasta livraria virtual da Amazon, um lugar em que as leis de direitos de autor têm notavelmente pouca influência.

As palavras de Orwell passaram a estar deturpadas e corre-se o risco de acontecer o que o próprio autor tinha previsto na obra "1984", de George Orwell, os clássicos da literatura são reescritos em novilíngua, uma revisão e redução da linguagem destinada a tornar os “maus pensamentos” literalmente impensáveis. "É uma coisa linda, a destruição das palavras" - exultado por um dos personagens do livro que é um verdadeiro crente na tirania do pensamento único que controla as pessoas do futuro que cada vez mais se aproxima da realidade.

Recentemente, foram examinados uma dúzia de livros falsificados e ilegítimos de Orwell da Amazon. Alguns deles foram impressos na Índia,sem direitos de autor, e vendidos nos Estados Unidos, onde a obra de Orwell está protegida por direitos de autor. A administração do espólio do autor disse que não deu permissão para as edições dos livros de Orwell, impresso por uma subsidiária da Amazon.

O que une todos esses livros é que nenhum deles pagou um cêntimo, o que significa que podem competir com títulos oficiais de Orwell como uma alternativa de baixo custo. A realidade é que se alguém necessitar de uma cópia de "O Triunfo dos Porcos" ou de "1984" para a escola, não vai pensar muito em quem a publicou, porque todas as edições de "1984" compradas na Amazon sejam iguais, mas a realidade é que muitas delas possam estar adulteradas.
O absurdo ainda vai mais longe quando os próprios títulos de Orwell foram adulterados. É o caso do título original "Homage to Catalonia" (Homenagem à Catalunha), como "Homepage to Catalonia" (Página Inicial à Catalunha).

Depois de se analisar os livros de Orwell vendidos na Amazon começaram a surgir várias denúncias sobre a explosão do número de livros falsificados oferecidos pelo site. Estes livros pareciam ajudar as vendas na Amazon. A empresa respondeu numa publicação no seu blog onde dizia que proíbe produtos falsificados, afirmando que tinha investido em pessoal e ferramentas tecnológicas, incluindo uma app para proteger os seus clientes contra fraudes e abusos.

Em Agosto, a Amazon disse num comunicado que "não há verdade absoluta" para o estatuto de direitos de autor de cada livro, relacionado com cada país, e que, por isso, a gigante americana precisava que os autores e os editores policiassem o site. "Essa é uma questão complexa para todos os lojistas", disse a empresa, acrescentando que o aprendizagem da máquina e a inteligência artificial são ineficazes quando não há uma fonte única da verdade a partir da qual o modelo possa aprender.

Este fenómeno apanha autores como Jane Friedman que escreve relatórios sobre a indústria editorial de livros, ajudando os autores literários a entender o negócio.

Friedman é autora de vários livros e consultora na indústria da escrita e da edição, disse à CNN que um leitor à procura de mais trabalhos seus comprou um dos títulos falsos na Amazon. Os livros tinham títulos semelhantes aos temas sobre os quais a autora escreve normalmente, mas o texto parecia ter sido imitado por um modelo de IA generativa. Os livros falsos com o nome de Friedman também foram adicionados ao seu perfil na rede social literária Goodreads, e só foram removidos depois de a autora ter divulgado o problema.

«Temos diretrizes claras sobre os livros que podem ser incluídos no Goodreads e investigamos rapidamente quando surge uma queixa, removendo os livros quando necessário», afirmou Suzanne Skyvara, porta-voz do Goodreads, num comunicado enviado à CNN.

«O que é assustador é que isto pode acontecer a qualquer pessoa com nome, que tenha reputação, estatuto, procura e que alguém veja uma forma de lucrar com isso», afirmou Friedman. A Authors Guild tem trabalhado com a Amazon desde o inverno passado para resolver a questão dos livros escritos por IA, disse Rasenberger, adiantando que a empresa tem respondido quando a Authors Guild sinaliza livros falsos em nome dos autores, mas pode ser uma questão complicada de detetar, visto que é possível que dois autores legítimos tenham o mesmo nome.

A venda de livros é uma profissão antiga e complicada. Por isso edições falsas de todos os tipos podem aparecer em plataformas digitais onde falta o conhecimento de livreiros experientes.

 

FG