O QUE A GUERRA ROUBOU

O QUE A GUERRA ROUBOU1

 

O que não vem nos noticiários que acompanham a guerra, Israel contra o grupo terrorista do Hamas, é que põe em causa as cidades israelitas de referência onde se misturam judeus, muçulmanos, cristãos e drusos.

Estas cidades que são a grande referência de entendimento, começam a perder a confiança e o dualismo pelo ódio começa a impor-se.

O ataque do Hamas em 7 de Outubro e as fortes represálias israelitas na Faixa de Gaza prejudicam as relações entre as comunidades, mesmo nos hospitais, conhecidos pelo seu clima pacificado entre hebreus e árabes.

Pequenos gestos do dia-a-dia, situações simples do quotidianos ou apenas olhares assombram os corredores como fantasmas no hospital de Rambam na cidade de Haifa: desde o ataque do Hamas a Israel algo mudou no hospital localizado na cidade de Haifa. Em tempos normais onde judeus e muçulmanos, cristãos e drusos – trabalham e desfrutam da companhia uns dos outros num clima pacífico, no coração de uma das cidades mais mistas de Israel, essa paz está a ser destruída.

Neste país repleto de barreiras políticas, sociais, religiosas e geográficas, o hospital público representa normalmente uma espécie de oásis, onde as comunidades vivem e trabalham em harmonia. Mas, depois de 7 de Outubro e do ataque do Hamas no sul de Israel,tendo como resposta militar por parte de Israel em Gaza e na Cisjordânia , surgiram grandes fissuras na paz. Embora a maioria dos profissionais de saúde continuem a trabalhar sem problemas e façam o seu melhor para manter a coesão da equipa, a verdade é que existe um profundo desconforto que permeia cada um dos serviços.

A primeira coisa que chama a atenção ao chegar ao Hospital Rambam, o quarto maior do país, são as bandeiras israelitas: pequenas, grandes, bandeiras simples ou estandartes reais, instaladas na fachada, na entrada, mas também em todos Serviços. O hospital não é uma exceção em Israel, onde estas bandeiras floresceram por todo o lado desde os massacres cometidos pelo Hamas. As bandeiras que afirmam a posição de Israel, acabam por também ser uma provocação pesada entre as várias comunidades que, outrora, estavam juntas a trabalhar para um bem comum do país.

Oficialmente, a bandeira azul e branca é a de toda a população, judeus israelitas e árabes combinados, estes últimos representando aproximadamente 20% da população de Haifa. Mas os palestinianos em Israel, tal como se auto-identificam, não podem reconhecer-se tão facilmente como judeus neste emblema da Estrela de David. Contudo, no Rambam, como noutros espaços públicos, o pessoal árabe trabalha agora à sombra deste símbolo não totalmente neutro e que não abona a favor da paz que existia anteriormente.

Mais do que roubar vidas, cometer crimes ambientais e destruir bens essenciais à sobrevivência, a guerra aumenta a desconfiança, acabando sempre por ser um ciclo de ódio que nunca termina, mesmo depois de terminada a guerra. Talvez este mal seja o mais prejudicial por o ódio se prolongar ao longo do tempo.

JA