OS ÓDIOS QUE AUMENTAM
O que não vem nos noticiários que acompanham a guerra, Israel contra o grupo terrorista do Hamas, é que põe em causa as cidades israelitas de referência onde se misturam judeus, muçulmanos, cristãos e drusos.
Estas cidades que são a grande referência de entendimento, começaram a perder a confiança e o dualismo pelo ódio começou a impor-se. Acabando com qualquer possibilidade de mediação.
O ataque do Hamas executado no dia 7 de Outubro de 2023 e as fortes represálias israelitas na Faixa de Gaza prejudicaram as relações entre as comunidades, mesmo aquelas que se tinham formado nos hospitais, conhecidos pelo seu clima pacificado entre hebreus e árabes unidos pela mesma causa de salvar vidas.
Pequenos gestos do dia-a-dia, situações simples do quotidianos ou apenas olhares assombram os corredores como fantasmas no hospital de Rambam na cidade de Haifa: desde o ataque do Hamas a Israel muita coisa mudou no hospital localizado na cidade de Haifa. Em tempos normais onde judeus e muçulmanos, cristãos e drusos – trabalhavam e desfrutavam da companhia uns dos outros num clima pacífico, no coração de uma das cidades mais mistas de Israel, essa paz foi destruída e, pelo correr dos acontecimentos, muito dificilmente volta à paz unidos por salvar vidas.
Num país repleto de barreiras políticas, sociais, religiosas e geográficas, o hospital público representava normalmente uma espécie de oásis, onde as comunidades viviam e trabalhavam em harmonia. Mas, depois de 7 de Outubro de 2023 e do ataque do Hamas no sul de Israel,tendo como resposta militar por parte de Israel em Gaza e na Cisjordânia e de outros ataques, surgiram grandes perdas para a paz. Embora a maioria dos profissionais de saúde continuem a trabalhar e façam o seu melhor para manter a coesão da equipa, a verdade é que existe um profundo desconforto que permeia cada um dos serviços.
A primeira coisa que chama a atenção ao chegar ao Hospital Rambam, o quarto maior do país, são as bandeiras israelitas: pequenas, grandes, bandeiras simples ou estandartes reais, instaladas na fachada, na entrada, mas também em todos Serviços. O hospital não é uma exceção em Israel, onde estas bandeiras floresceram por todo o lado desde os massacres cometidos pelo Hamas. As bandeiras que afirmam a posição de Israel, acabam por também ser uma provocação pesada entre as várias comunidades que, outrora, estavam juntas a trabalhar para um bem comum do país.
Oficialmente, a bandeira azul e branca é a de toda a população, judeus israelitas e árabes combinados, estes últimos representando aproximadamente 20% da população de Haifa. Mas os palestinianos em Israel, tal como se auto-identificam, não podem reconhecer-se tão facilmente como judeus neste emblema da Estrela de David. Contudo, no Rambam, como noutros espaços públicos, o pessoal árabe trabalha agora à sombra deste símbolo não totalmente neutro e que não abona a favor da paz que existia anteriormente.
Mais do que roubar vidas, cometer crimes ambientais e destruir bens essenciais à sobrevivência, a guerra aumenta a desconfiança, acabando sempre por ser um ciclo de ódio que nunca termina, mesmo depois de terminada a guerra. Talvez este mal seja o mais prejudicial por o ódio se prolongar ao longo do tempo.
JA